Escreveu André Gide que invejar a felicidade alheia é loucura porque não é um artigo de confeção, mas algo que se obtém apenas sob medida. E esta é uma asserção que faz todo o sentido considerar válida quando falamos de felicidade ao nível individual. No entanto, é legítimo que, quando se fala ao nível de países, sintamos um desejo natural de olhar para os outros e perguntar como podemos, coletivamente, ser tão felizes como eles.

Vem isto a propósito do recentemente divulgado “World Happiness Report”, uma publicação das Nações Unidas através da Sustainable Development Solutions Network e que, com base em dados da Gallup World Poll e da Lloyd’s Register Foundation estabelece, desde 2012, um retrato do sentimento de felicidade nos diversos países.

De acordo com a mais recente edição, dedicada também aos efeitos da Covid-19 na estrutura e qualidade de vida dos cidadãos e à avaliação de como os governos em todo o mundo lidaram com a pandemia, Portugal desceu dez posições no ranking para uma pontuação de apenas 5,93 pontos, passando do 48.º lugar entre 2017 e 2019 para o 58.º lugar neste último relatório.

Estamos à frente das Honduras e pouco atrás da Argentina nessa classificação, que pela quarta vez consecutiva considera a Finlândia o país mais feliz do mundo.

Qual a justificação? Para a equipa de peritos independentes responsável pela elaboração, as principais causas prendem-se com o facto de terem substancialmente diminuído fatores subjetivos como a capacidade utópica (a capacidade de nos imaginarmos com uma vida melhor) a par de outros, mais objetivos, como a diminuição do PIB e dos apoios sociais.

A somar a isso, o maior impacto em Portugal dos designados efeitos negativos, associados ao menor nível de proteção sentido pelas pessoas e que vão desde os temas da diminuição da saúde mental à perceção da precariedade laboral e de incerteza, e à falta de programas de ajuda, mesmo online.

O ranking também mediu as médias trimestrais de mortes na população por cada milhão de habitantes, sendo que Portugal obteve em janeiro de 2021 a pior média dos 46 países em análise, com 17,64 mortes por cada milhão de habitantes, devido à pandemia.

Há, assim, todo um caminho a seguir para inverter esta queda recente e com causas identificadas. Não seremos nunca uma Finlândia, mas também não precisamos de o ser. Apenas de encontrar a nossa forma de sermos felizes coletivamente, resolvendo com justiça e equidade os problemas que são de todos.

Em 2008, o jornalista Eric Wiener publicou “A Geografia da Felicidade”, um registo da sua busca pelo país mais feliz de todos entre os muitos que percorreu. A conclusão foi óbvia, mas importante; A nossa felicidade está completa e totalmente entrelaçada com outras pessoas: a família, os amigos, os vizinhos. A inveja, diz ele e eu concordo, é algo de tóxico para a felicidade. A individual e a coletiva. O que não nos deve impedir de olharmos para os outros e aprendermos, com eles, sejam pessoas ou países, a sermos mais felizes.

 

Como vereador na capital, registo com muita satisfação a inclusão de Lisboa numa seleção a nível mundial, como um dos 21 lugares de futuro segundo um estudo da norte-americana Cognizant. A cidade de Lisboa foi identificada como “um foco de inovação global e de novas ideias, que certamente irão criar e impulsionar o futuro do trabalho”. Tema esse, a inovação, será seguramente um dos pilares do debate na campanha autárquica que se inicia.

 

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