O bigode lapuz de Mário Nogueira chama à colação mais do que um sindicalismo serôdio e bacoco. Traz à ordem do dia um desconchavo paradoxal, traduzido por uma classe acima do escrutínio público: os professores chumbam, porque são mal – ou não devem ser – avaliados. Em contraponto, os alunos reprovam, porque não têm conhecimentos.
O que mais lesa o nosso património educacional é sabermos que uma profissão docente desqualificada tem reflexos diretos e imediatos na formação dos alunos, esses sim, o centro de qualquer modelo de ensino.
O laxismo técnico-científico, se não for erradicado, servirá para perpetuar erros e aprendizagens deficitárias nas gerações futuras, defraudando o rigor e a exigência essenciais para a concretização do sucesso pedagógico e para a manutenção do inultrapassável vínculo de confiança entre quem ensina e quem aprende.
Ao cairmos na ladainha falaciosa dos sindicatos, que afirmam rejeitar os moldes da avaliação – artifício de recurso para ocultar a tese de fundo: a desnecessidade liminar da prova – as famílias estão negligentemente a conceder que os mestres dos seus filhos e/ou educandos se furtem dolosamente à demonstração de capacidades e conhecimentos para o exercício da profissão, promovendo o facilitismo e a cumplicidade com a insipiência de que adiante padecerão os seus mais queridos.
Por sua vez, os bons professores – pois diga-se que também que os há em número elevado – ao adensarem este coro de protestos, arriscar-se-ão a mergulhar no lamaçal da dúvida e da suspeição toda uma classe que se quer altamente prestigiada e credível, subtraindo ao leigo a faculdade de “separar o trigo do joio”, como diz o povo. Mas não só: oneram-na, cumulativamente, com a impossibilidade de expurgar aqueles que (ainda) não possuem as aptidões para o digno desempenho da docência, ferindo a reputação dos pares.
Com efeito, constitui um dever de cidadania – quiçá um imperativo categórico – que todos pugnemos terminantemente e sem frouxidão por um ensino que contribua para a superação das desigualdades económicas e sociais, o desenvolvimento da personalidade e da responsabilidade, e que vise alcançar, no fim, o desejado progresso social. Será apodítico considerar que tal desiderato só se atingirá se seleccionarmos os melhores intérpretes para essa missão de interesse geral.
Se aderimos, pela inércia, ao estrangulamento do sistema proposto pelas habituais forças de bloqueio democrático, viabilizando a aposta no erro e o incentivo à mediocridade, estaremos a relegar a Escola – pedra angular numa sociedade evoluída e moderna – para os bastidores das prioridades civilizacionais.
Creio bem que chegou o momento de repensarmos o modelo de ensino implementado em Portugal, altamente centralizado e burocratizado, e de o compararmos com países como os Estados Unidos, Suécia, Holanda, Dinamarca e Inglaterra.
Enquanto o Estado continuar a servir de muleta para a incompetência docente, colocando professores por despacho arbitrário, quem perde são as escolas e os discentes. Deveria, a priori, reivindicar-se mais autonomia para os estabelecimentos escolares, dotando-os de maior liberdade para a contratação dos seu corpo docente, permitindo-lhes, por essa via, escolher quem querem colocar a lecionar na sua academia. A isto passaríamos a chamar serviço público de qualidade.
Francisco Rodrigues dos Santos
Advogado