Os livros de História ensinam isso: nunca nenhum Poder foi suficientemente forte para enfrentar a fragilidade em que assenta a Vida. Essas lições são recorrentes e revestiram-se, no passado, de diversas formas, entre doenças e calamidades várias.

A pandemia conhecida como coronavírus é mais um destes momentos de desafio à Humanidade e às suas/nossas ‘certezas’. De repente tudo está em questão. A organização social. As propostas políticas (a posição sobre o SNS, por exemplo…). E, com certeza, no futuro imediato, a capacidade de recuperar a economia. A nova doença já entrou em mais de 100 países. As bolsas afundam em todos os continentes. Na Europa, quinta-feira foi o pior dia de sempre. Ainda não é possível prever o impacto da crise económica na qual estamos a mergulhar.

Esta emergência de saúde não tem precedentes. Tudo isto convoca medidas rápidas e uma comunicação simples dos governos para as populações. Itália, pela demora na reação, é o exemplo mau. A Coreia do Sul e o Japão, países ancorados numa ancestral responsabilidade mais apurada ao nível individual, parecem ser os exemplos melhores.

O fundamental, por esta altura, é que os governos invistam o que for necessário nos cuidados de saúde, sua organização e meios; e que as pessoas façam, disciplinadamente, o que as autoridades de saúde recomendam. As palavras-chave são confiança, disciplina, trabalho, educação e responsabilidade.

Cada um de nós tem de fazer aquilo que deve: limitar ao estritamente necessário a sua interação com os outros – o que, nesta época digital e de comunicação fácil, nem sequer é difícil ou especialmente doloroso. É apenas civismo e respeito. Seguir as recomendações das autoridades de saúde é uma contribuição devida à segurança coletiva.

O Governo, pelo seu lado, tem de coordenar a organização coletiva e investir o que for necessário. Fez bem António Costa em ouvir os partidos, antes de anunciar medidas importantes, como o fecho de escolas. Há alturas na vida de uma Nação em que o consenso não pode ser apenas uma palavra.

Se alguma coisa não gostei nos últimos dias em Portugal foi ter ouvido a ministra da Saúde, Marta Temido, falar dos dez milhões de euros que já tinham sido gastos no combate à expansão do Covid-19. Acredito, como é óbvio, que a intenção principal tenha sido dar nota da atenção do Governo à crise de saúde que atravessamos e assim mostrar um exemplo do quanto poderíamos estar descansados no que respeita ao investimento a fazer no combate à doença. Mas o número já então era ridículo e poderia contribuir para uma leitura perversa: a de que o rigor orçamental seria colocado como prioridade, à frente dos meios de combate à crise.

Este é o momento das decisões fortes e das declarações simples e com impacto. A Alemanha acaba de deixar cair o conceito de ‘défice zero’. O Banco Central Europeu anunciou medidas importantes. O mundo reage e, por cá, nenhum défice, nenhum triunfo contabilístico pode valer a confiança das pessoas e a vida de qualquer português. Isso tem de ser assumido com clareza.  Já basta sabermos que, inexoravelmente, haverá vítimas.

Volto à prevenção individual. Todos temos a obrigação de saber, friamente, que a capacidade hospitalar instalada é como o dinheiro depositado nos bancos: se lá fôssemos todos, e ao mesmo tempo, o sistema não teria capacidade de resposta. Por tudo isto, o momento é de responsabilidade máxima. Individual e coletiva. Com confiança e otimismo, sempre. Mesmo que a realidade, superando a ficção, mais uma vez desafie a capacidade de resposta da Humanidade.