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O discurso do Amor em tempos de “terrorismo político”

Uma democracia saudável exercita a crítica construtiva, quando outros escolhem a demagogia populista. Uma democracia saudável escolhe projetar um futuro, quando outros se demitem de assumir erros do passado. Uma democracia saudável apresenta propostas e discute-as com veemência, com Educação. Uma democracia saudável não semeia terrorismo político.
25 Agosto 2021, 07h15

O ato de educar é um exercício primordial da Cultura, que hoje consubstancia-se nas sociedades contemporâneas como um instrumento imprescindível para o desenvolvimento social e humano das comunidades, cada vez mais “interconectadas” e tornadas globais.

Ora, se o processo de identificação cultural de uma comunidade está intimamente relacionado com o desenvolvimento de sentimentos de pertença ao lugar habitado, também o bem-estar coletivo de uma comunidade estará determinado pela capacidade dos seus habitantes, no pleno usufruto da sua cidadania, exercerem o direito de reivindicarem a mensuração das transformações sociais, económicas e políticas que assistiram nas últimas décadas. O bem-estar coletivo estará por isso relacionado com o estado da nossa democracia.

Uma democracia saudável exercita a crítica construtiva, quando outros escolhem a demagogia populista. Uma democracia saudável escolhe projetar um futuro, quando outros se demitem de assumir erros do passado. Uma democracia saudável apresenta propostas e discute-as com veemência, com Educação. Uma democracia saudável não semeia terrorismo político.

Não existe crítica sem o ato de educar a amar o outro ser humano – tal como é, nascido de uma mesma igualdade. Não existe verdadeiramente crítica, quando falta o compromisso entre os cidadãos (entre os que governam e os que são governados). Não existe verdadeiramente crítica, quando a prática discursiva não é consequente com a ação política.

Por isso, quando os discursos políticos e mediáticos se tornam rudes e grotescos, semeando ódios alimentados em falácias, damo-nos de conta que, quem os realiza, não executa a saudável crítica, desejada em democracia, antes pelo contrário, exercita intencionalmente o pior dos antigos autoritarismos, procurando entronizar as velhas elites.

Talvez, por isso, o pior dos legados dos autoritarismos seja a perda da Esperança. No passado, quando faltou a Esperança, educou-se uma geração para o ódio e vez de educá-la para o Amor. Hoje, infelizmente, corremos o risco de voltar a fazê-lo. É a perda da Esperança que semeia ódios que alimentam os novos discursos totalitários.

A educação do futuro, nas palavras de Morin (2000), enfrenta uma “herança de morte” e o nilismo, recebido do século XX. Somente a capacidade de assumirmos a História, sem máscaras, exercendo um espírito crítico sobre a mesma, irá possibilitar as aprendizagens que almejamos, para que os erros do passado não se repitam. Estejamos por isso, dispostos a enfrentar as “incertezas” e as “imprevisibilidades” da vida em sociedade (e da prática política), para que, em consciência e com o sentido ético de dever, a Democracia triunfe pelo Amor, destronando os discursos de ódio e as desigualdades sociais.

Urge a disponibilidade de amar a causa pública, colocando-se ao serviço do outro, incondicionalmente. Na política falta a Cultura democrática, porque falta mais ainda, derradeiramente, o Amor! E não existe verdadeiramente Cultura sem a capacidade de Amar.

Urge viver o Amor e vivê-lo na Esperança.

Referência bibliográfica:

Morin, Edgar. (2000). Os sete saberes necessários à educação do futuro (2ª ed.). São Paulo: UNESCO

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