Uma das sanções mais relevantes aplicadas à Rússia foi o congelamento das suas reservas cambiais em dólares por parte do Tesouro dos Estados Unidos. Quando foi anunciada, vários analistas, incluindo a economista-chefe do FMI, denunciaram a medida como mais uma etapa na perda de hegemonia do dólar e argumentaram que muitos países e institucionais passariam a evitar deter uma moeda suscetível de ser bloqueada a qualquer momento.
É um ponto válido. Outros não menos importantes podem ser invocados, como os colossais “défices gémeos” dos EUA, quase década e meia de impressão monetária, ou a noção de que a China se tornará na maior potência económica mundial. No entanto, como não me canso de lembrar, no mercado cambial não se transacionam preços absolutos – as taxas de câmbio refletem o valor de uma moeda em relação a outra. Portanto, para que o dólar perca o seu papel central não basta que os seus fundamentais se deteriorem – outra divisa terá de o superar naquilo que ele oferece e isso parece longe vir a concretizar-se, pelo menos no atual sistema financeiro. O euro, por exemplo, tinha essa pretensão em 1999, mas a falta de um mercado de dívida que rivalize verdadeiramente com os T-Bonds, uma economia menos dinâmica, um arsenal de defesa menos impressionante e os riscos de desagregação da UEM impedem que a moeda represente mais de 20% das reservas. Por outro lado, também a UE, o Japão e até a Suíça, alinharam nas sanções a Moscovo.
O yuan chinês seria um candidato óbvio, mas continua a representar apenas 2% dos pagamentos internacionais e 3% das reservas porque a China tem um mercado obrigacionista incipiente, limita os fluxos de capitais e muitos participantes não sentem segurança jurídica para deter ativos em yuans.
Assim, apesar das sanções e também por causa da guerra, o índice do dólar está agora em máximos de cinco anos e representava no mês passado 41% das transações internacionais, face a 30% em 2012, segundo o SWIFT, e cerca de 60% das reservas cambais mundiais, diz o BIS.