Que se dá demasiada importância às notas que os alunos têm nas nossas escolas é uma suspeita que alguns já terão. Que esse enfoque é errado, alguns também suspeitarão. Mas os estudos não abundam relativamente à capacidade preditiva das notas dos alunos no secundário no sucesso pessoal e profissional dos indivíduos. Num dos primeiros estudos sobre este tema, feito no Reino Unido, em 1983, concluiu-se que a correlação entre as classificações obtidas no ensino secundário e no ensino superior é muito fraca, e que os exames no ensino secundário são um fraco preditor do sucesso académico dos alunos.

Num estudo feito a alunos da Universidade do Porto, com dados de 2008 a 2010 (estudo da Reitoria da Universidade do Porto, de Cabral e Pechincha), pode ler-se que a classificação de entrada na universidade “explica apenas 4,5% da variabilidade dos scores” (medida de desempenho universitário). “Por outras palavras a nota de acesso é um péssimo preditor do desempenho futuro”. Nesse mesmo estudo conclui-se que o facto de o aluno ser proveniente de uma escola pública ou privada na realidade é um melhor preditor de desempenho futuro –este caso com vantagem para os alunos provenientes de escolas públicas que, no geral, apresentam melhores resultados nas universidades.

Os dados da Universidade do Porto (acrescidos dos dados da Universidade Católica, Porto), para anos mais recentes, 2013 a 2015, mostram basicamente o mesmo (amostra de cerca de 10.000 alunos com que estamos atualmente a trabalhar). Os scores da classificação de entrada na universidade explicam apenas 4,6% dos scores no fim do primeiro ano universitário (o score é construído com base nos desvios padrão que cada aluno dista da média do seu curso, no seu ano), mas o tipo de escola de proveniência perde importância relativamente ao estudo anterior (ainda que as públicas continuem em vantagem).

Com base nestes resultados, uma série de questões se levantam. Questões relacionadas com critérios de entrada nas universidades (que se baseiam num fraco preditor de sucesso universitário – mais de 90% da variação nas notas dos alunos universitários são explicadas por outros fatores que não a nota de entrada), questões relacionadas com o trabalho das escolas secundárias (cujo enfoque é essencialmente a preparação de alunos para exames) e questões relacionadas com o enfoque dos pais, que veem nas boas notas dos seus filhos uma excelente notícia e um indicador de sucesso futuro.

Da minha experiência como professora universitária atribuo este fosso entre sucesso pré-universitário e sucesso universitário a alguns fatores. Na minha opinião, aos alunos falta, cada vez mais, capacidade crítica, métodos de estudo (os alunos não sabem estudar e, acima de tudo, não o sabem fazer de forma autónoma – ainda na universidade procuram a muleta das explicações). A postura prevalecente é a da avaliação e não a da aprendizagem (sai no teste? É que se não sai não interessa para nada!). No geral os alunos estão num determinado curso sem terem a noção de que se preparam para o mercado de trabalho, de que constroem o seu futuro. Na verdade muitos nem frequentam, de facto, o curso que pretendem porque não conseguiram entrar no pretendido ou porque alguém fez as escolhas por eles.

No geral, parece que frequentam um curso não por si, mas pelos outros (sejam eles quem forem). Falta aos alunos a maturidade e a inteligência emocional (tão desvalorizada no ensino pré-universitário) que lhes permita perceber que se constroem, que acumulam saber, que preparam o futuro. No meio deste enquadramento geral há exceções: há os alunos que estão num curso porque se estão a construir, a crescer e a preparar para a vida futura. Há os alunos responsáveis, há os alunos que sabem estudar, que têm pensamento crítico, que questionam o professor e que têm nas aulas uma atitude de ouvinte e de aprendente. Alunos a quem é um gosto ensinar!