O papel dos bancos centrais não está a tornar-se obsoleto, como começa a impedir o normal funcionamento das economias.

Desde que os políticos tomaram conta do Banco Central Europeu (BCE), e em parte da Reserva Federal (Fed) dos EUA, que a política monetária tem vindo a perder o seu poder de actuação e a capacidade de antecipação e acontecimentos.

Com Mario Draghi ao leme iniciaram-se as experiências monetárias, como as taxas negativas, as compras de obrigações soberanas e a liquidez ilimitada a custo zero ou negativo, retirando o pouco incentivo ao poder político para realizar reformas que promovessem a integração na Zona Euro. Assim se deu início a uma época de manutenção de empresas zombie, impedindo a natural renovação do tecido empresarial, que traz consigo progresso e criação de valor.

Christine Lagarde prometia ser diferente, mas desde que assumiu funções que o BCE continua em estudos.

É do conhecimento geral que, sendo a energia utilizada em toda a economia, a subida de preços na generalidade dos bens e serviços seria uma inevitabilidade. Na tentativa de gerir as expectativas de inflação, o BCE tentou alterar o futuro, controlando indirectamente os salários e jurando a pés juntos que a inflação era transitória.

No entanto, o que suportou durante anos a política monetária, a importação de produtos mais baratos, acabou. A globalização entrou oficialmente em recessão, facto que recente conflito em solo europeu confirma. Os blocos económicos terão de se adaptar a esta nova realidade investindo e fomentando alterações substanciais nas suas economias e na auto-suficiência.

Ora, as economias europeias, fortemente endividadas e sem capacidade de aumentar impostos, apenas poderão recorrer à emissão de mais dívida para financiar as reformas das suas economias. O sector privado encontra-se, também ele, debilitado, uma vez que o preço da energia é um factor exógeno à Zona Euro, beneficiando apenas os países produtores de petróleo ou gás.

Do outro lado do Atlântico, a Fed, embora tardiamente, já entrou em modo de combate à inflação sem olhar a meios. Pela primeira vez desde 2018, iniciou a subida dos juros e prevê que possam atingir os 2,8% em 2023. Simultaneamente, anunciou que além de suspender o programa de compras de activos, tenciona vender parte do seu balanço já a partir de maio.

Nada semelhante poderá acontecer na Europa, mas será bom que o BCE inicie a recuperação de alguns dos seus instrumentos de política monetária, como as taxas de juro, mas mantendo um programa de compra de títulos por forma a manter a liquidez e a estabilidade dos mercados.

A mais recente instabilidade mostrou que os mercados estão bastante frágeis e é necessário um banco central que evite um aumento do custo da dívida desproporcionado, assim como o aumento dos diferenciais entre países da Zona Euro.

À semelhança da Fed, o BCE corre o risco de andar em contraciclo e de ser num entrave à recuperação económica pela sua reactividade, e por não adoptar uma atitude preventiva. Ao ter uma atitude mais política do que económica, Lagarde e o BCE correm o risco de perder a pouca credibilidade que lhes resta.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.