O Mundial de Futebol na Rússia foi o evento desportivo mais caro de sempre, tendo custado 14 mil milhões de euros, logo a seguir ao Mundial no Brasil em 2014, com um orçamento ligeiramente superior. Por isso, torna-se relevante aferir o retorno do investimento, recordando que, historicamente, este tipo de eventos são largamente deficitários.

1. Dinâmica setorial: os setores do turismo, construção, telecomunicações e transportes foram os mais beneficiados com a organização do Mundial de Futebol, com a criação de 220 mil postos de trabalho. As 11 cidades, desde a elegante São Petersburgo à cosmopolita Moscovo, assistiram a uma melhoria significativa das suas infraestruturas e rede de transportes, o que deverá levar a um aumento da receita fiscal e a uma diminuição das necessidades de investimento no futuro.

2. Infraestruturas: na preparação para o Campeonato do Mundo, a Rússia construiu e remodelou 11 estádios de futebol, 12 novas autoestradas, 11 terminais de aeroporto e três novas estações de metro. Apesar da soma final em infraestruturas ter rondado os nove mil milhões de euros, este conjunto de investimentos alocados ao evento, representaram menos de 2% do valor investido no país no quadriénio 2013-2017.

3. Mercado cambial: no último mês assistiu-se a uma apreciação do rublo face ao euro e ao dólar, devido à chegada de 700 mil visitantes com elevado poder de compra, que despenderam um valor médio de sete mil euros na sua estadia no país, tendo contribuído para um incremento expressivo do consumo doméstico.

4. Relações políticas: a Rússia continua sob o efeito de sanções económicas impostas pela União Europeia e pelos EUA, na sequência da anexação da Crimeia em 2014 e do ataque à fronteira oriental da Ucrânia. A realização de um evento com uma audiência global, veio permitir o apaziguamento das relações entre os três blocos envolvidos, perspetivando-se uma moderação, ou até mesmo, o levantamento das restrições económicas em vigor, devido ao incremento da atmosfera de confiança.

É bastante claro, que, à semelhança dos Jogos Olímpicos de inverno em Sochi, a Rússia não olhe a meios financeiros para receber eventos desportivos com uma elevada exposição mediática, na medida em que lhe permitem projetar o seu papel no mundo. Ainda que o impacto económico associado à organização do Mundial de Futebol seja modesto, inferior a 1,5% do PIB, este valor não é necessariamente sofrível, demonstrando, por outro lado, a capacidade da nação russa para implementar planos estratégicos de elevada dimensão.

Desta forma, a organização do Mundial foi uma excelente promoção do país, tendo funcionado como catalisador no desanuviamento das relações entre os diferentes blocos políticos e afigurando-se como uma oportunidade para incrementar as relações comerciais. Aparentemente, o desporto a continuar a ser a melhor arma para criar a paz.