Uma peça fundamental no caminho para a transição energética é, sem dúvida, a bateria de iões-lítio, importante para um sem-fim de soluções desde a movimentação dos veículos elétricos (VE), à capacidade de armazenamento de energia solar e eólica, ou, até, como suporte à estabilização da rede de distribuição elétrica.

A União Europeia (UE) estima que a crescente utilização destas baterias atinja um valor histórico mundial de 4000 GWh em 2040, comparativamente aos atuais 78 GWh, prevendo um aumento dos VE, principais consumidores destas baterias, de 5 milhões para 900 milhões. Consciente do seu potencial e atraso face a outras regiões (com uma quota mundial de produção de baterias de 3% versus os 85% da Ásia), a UE lançou a EBA (European Battery Alliance), uma iniciativa com vista à promoção do desenvolvimento da indústria.

A crescente procura, aliada à atual visão estratégica europeia, representa um enorme potencial para Portugal, o maior produtor europeu de lítio, que lançará oito novos concursos até ao final do ano para a exploração do minério.

Contudo, não é só na extração, refinação e processamento de lítio que reside um potencial em descoberta. Investir na economia circular das baterias, reciclando e reaproveitando os seus materiais, poderá ser um fator diferenciador face à atual tendência de mercado. Se ao custo da bateria, o qual representa atualmente entre 40 a 50% do custo de um VE, adicionarmos a crescente tendência de procura da matéria prima a nível global, teremos argumentos para apostar num maior incentivo à reutilização das baterias – para não falar dos impactos ambientais negativos da sua não reciclagem, verdadeiros impulsionadores desta transição energética.

Para isso, é necessária a criação de um ecossistema colaborativo, assente num modelo de economia circular, onde diferentes stakeholders, desde fabricantes de baterias e automóveis, universidades, empresas de energia, mineiras e de I&D, startups e reguladores, trabalhem em prol da extensão do ciclo de vida da bateria, transformando-a num verdadeiro ativo. Por cá, temos um cluster automóvel, excelentes centros de I&D, empresas mineiras com experiência e um enquadramento regulatório estável.

Numa altura em que se discute tanto sobre investimento (ou falta dele), que tal apostar no futuro agora?