Com o aumento da hostilidade à presença das forças internacionais em território iraquiano causado pelo assassinato de Qassem Soleimani, urge identificar possíveis cenários sobre o futuro da NATO no país. Embora as autoridades iraquianas pretendam pôr fim à missão da “Coligação Internacional” liderada pelos EUA, mostraram, no entanto, recetividade à permanência da missão da Aliança (NTM-I). Os EUA propuseram às autoridades iraquianas uma parceria estratégica, cujos contornos não são ainda claros. Resta saber que propostas vai a NATO apresentar-lhes. Registaram-se alterações significativas no domínio securitário. A “Zona Verde” em Bagdade foi atacada mais do que uma vez com foguetes, e aumentaram os protestos contra a presença americana.

Sob iniciativa dos EUA, a NATO mantém um programa de diálogo e cooperação com alguns países do Médio Oriente há mais de duas décadas e meia, desenvolvido através de dois quadros de parcerias: o Diálogo para o Mediterrâneo (1994) e a Iniciativa de Cooperação de Istambul (2004). Os EUA almejavam envolver os países do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC) neste último. A Arábia Saudita vetou essa possibilidade. Não queria participar num fórum em que tivesse o mesmo estatuto do Qatar ou do Bahrein, ao contrário do GCC onde é um primus inter pares.

A partir de 2004, a relação da NATO com países do Médio Oriente estendeu-se ao Iraque. Entre 2004 e 2011, a NATO esteve presente com uma missão de treino, que foi reativada em 2017. O futuro dessa missão está agora em apreciação. Os Aliados terão de decidir o que fazer com ela após a sua recente suspensão temporária. Vislumbram-se três cenários: primeiro, reduzir significativamente a atividade, pelo menos nos tempos mais próximos, ou continuar com aquilo que já fazia.

Na primeira hipótese, a presença da NATO seria simbólica indicando apenas a intenção de continuar a cooperar no futuro. Alguns Aliados consideram não se justificar a continuação no Iraque, sem a NTM-I desenvolver atividade relevante; segundo, expandir o papel da NATO no território, mas sem se envolver em operações de combate. Fazer prevenção em vez de intervenção, dada a hostilidade à presença das forças internacionais, parece ser neste momento uma opção irrealista.

Há quem não exclua, tanto no primeiro como neste segundo cenário, a possibilidade de as “Forças da Coligação” passarem a integrar a NMT-I. Isso colocaria a NATO numa situação complicada. Os iraquianos teriam dificuldade em distinguir forças da NATO de forças americanas. A acontecer implicará necessariamente uma redução significativa das “Forças da Coligação”, mantendo apenas a sua componente de treino.

Um terceiro cenário, a ser implementado quando existirem condições, envolverá a NATO em operações de combate. A sua verosimilhança é elevada se tivermos em conta o apetite de Washington para utilizar a NATO fora do território europeu, sobretudo na sua vizinhança. Não é por acaso que Trump acusou a NATO de obsolescência. Não por querer terminar com a NATO – como defendido por muitos analistas – mas por não ser suficientemente utilizada nas “suas guerras”, e assim contribuir para aliviar o erário americano. Não devendo ser levada à letra, a NATOME (NATO+ME) avançada por Trump deve ser tida em consideração. Veremos como reagirão os aliados europeus se algum dia forem confrontados com essa possibilidade.