A rápida mudança para modelos de trabalho híbridos, provocada pela pandemia, requer uma alteração fundamental nas competências que os líderes têm de possuir para terem sucesso num mundo em transformação.

Baseado no trabalho de Robert Hooijberg e Michael Watkins, a liderança multimodal é um conceito que se apresenta como alternativa/complemento às tradicionais formas de liderança. A multiplicação de contextos a que podemos chegar é hoje muito maior, criando uma sensação de ubiquidade que nos coloca desafios em que a necessidade de adaptação “instantânea” é uma exigência.

Para terem mais sucesso nesta nova era, as lideranças têm de se adaptar a novos papéis, conceber novas estruturas que possam criar pontes entre o mundo digital e o mundo real, fortalecendo dinâmicas, valores e relações que definem a cultura de uma organização. Torna-se essencial gerar tarefas em que os membros das equipas integrem o seu conhecimento, criem espaços de diálogo seguros para as questões mais difíceis/sensíveis e formem conexões emocionais e relacionais de forma produtiva, enquanto trabalham virtualmente.

Tentar harmonizar as diferentes dimensões entre dois diferentes mundos, torna-se uma necessidade e um desafio, existindo algumas tarefas difíceis de serem executáveis no contexto virtual. A colaboração, processos de inovação, processos de aculturação e a dedicação requerem períodos de interações pessoais para que possam ser construídos e mais tempo ainda para serem nutridos e se desenvolverem.

As implicações para o futuro das lideranças são profundas e os novos espaços de trabalho multimodais estão a mudar o tipo de competências necessárias para liderar virtual e pessoalmente com sucesso.

Mas o impacto nos locais de trabalho mistos não se esgota nas questões ligadas aos modelos de liderança multimodais. Também as exigências de rápidas mudanças nos estilos de vida e rotinas dos colaboradores colocam a tónica na necessidade de existirem mecanismos que promovam a saúde psicológica de quem tem de alterar processos, rotinas e competências para fazer face à mudança.

Os riscos psicossociais têm um impacto grande na saúde física e mental com implicações negativas para as dinâmicas das organizações. Apostar em locais de trabalho saudáveis é o primeiro passo para uma transição para modelos de trabalho e liderança multimodais que permitam que todos tenham à sua disposição o apoio necessário aos desafios que a pandemia e a tecnologia nos colocam.

Como contributo para o reconhecimento e distinção de organizações que já demonstram hoje práticas de gestão promotoras de segurança, bem-estar e saúde no local de trabalho, a Ordem dos Psicólogos Portugueses lançou o prémio “Healthy Workplaces – Locais de Trabalho Saudáveis”, contribuindo para a promoção de condições que suportem a saúde e o bem-estar dos trabalhadores.

O futuro das lideranças é multimodal, mas passa também por incluir estratégias que promovam a saúde psicológica de quem lideram.

O autor assina este artigo na qualidade de responsável pela relação entre a psicologia e a tecnologia na Ordem dos Psicólogos Portugueses.