Na minha profissão, tenho dedicado muitas horas ao estudo do comportamento das novas gerações, das suas tendências de consumo e da forma como projetam o seu futuro.

Embora possamos sempre sublinhar que, ao contrário de crises provocadas por eventos de destruição (como os que outras gerações atravessaram nas guerras mundiais ou conflitos regionais), o que nos é hoje solicitado é que fiquemos em casa, a crise sanitária que vivemos apresenta desafios significativos para a gestão quanto à projeção da atividade económica no futuro.

A denominada geração Z, compreendendo indivíduos nascidos entre finais da década de 90 e princípios do novo século, mergulhou em duas crises seguidas: a financeira entre 2008 e 2012, e a que vivemos neste momento.

Chegados à adolescência, os jovens, a bem dizer, ainda não souberam o que é viver fora de uma crise. Representam, neste momento, cerca de um quinto da população das economias mais desenvolvidas e estão à beira de ingressar na vida ativa. São nativos digitais e têm uma enorme familiaridade com a internet.

Os estudos de mercado promovidos a nível internacional apontam no mesmo sentido: estes jovens indivíduos estão tolhidos por um sentimento negativo que decorre das experiências vividas em permanente tempo de crise. Reina o ceticismo e a insegurança relativamente ao futuro económico, social e político.

Ao contrário das gerações precedentes, que viveram num contexto de crescimento, em que a probabilidade de no futuro viverem melhor era elevada, a geração Z (e, em certa medida, os próprios millennials) enfrenta um cenário que não é animador e propenso a pôr em causa, ao virar de cada esquina, os alicerces da segurança, da satisfação de necessidades primárias que permita a construção de pilares de uma vida digna, próspera e feliz.

Desafio o leitor a fazer um rápido focus group com os mais jovens da família: o que os preocupa? Como encaram os próximos anos? Invariavelmente, os jovens estão apreensivos quanto à permanente incerteza, oscilam entre o “viver agora” o mais possível e o “cair na realidade” de um desenho cinzento que muitos pais já não conseguem esconder. O modelo de crescimento vigente no último meio século parece ter-nos abandonado.

O sociólogo João Teixeira Lopes, há cerca de dez anos atrás, já apelidava estes jovens de “Geração Bloqueada”. E rematava que os indivíduos que ainda têm aspirações a construir o seu futuro ou se resignam, ou se indignam. Eu diria que a resignação é uma perda de tempo para o qual uma vida não espera.

Mas a indignação exige criatividade, reformulação, determinação. E isso exige responsabilidade, quer dos mais jovens, quer de nós, que temos a obrigação de educar para a previdência e de, a cada momento, relançar a esperança no futuro agindo hoje de forma séria, honesta e transparente. Para que os que irão continuar esta longa marcha da evolução da humanidade possam acreditar que irão viver num futuro com um legado que lhes permita, com orgulho, erguer a cabeça.