As fibras, esses pequenos elementos filiformes e flexíveis, capazes de se converterem numa multiplicidade de estruturas e de produtos, inundam o nosso quotidiano de uma forma mais ou menos percetível. Estão em todo lado. Quase tudo tem fibras!

Os carros, os comboios, os aviões e os barcos… têm fibras. As casas, as pontes, os túneis e as estradas… têm fibras! As calças, o casaco, a camisa e os sapatos… têm fibras! Os pensos, as ligaduras, as próteses e as ortóteses… têm fibras! O taco, a raquete, a bola e a rede… têm fibras! O capacete, o colete, a joelheira e a cotoveleira… têm fibras. Enfim… tudo tem fibras!

Na realidade, a lista de fibras disponíveis para fazer face às especificações de cada uma destas utilizações é bastante vasto, podendo-se afirmar que, atualmente, é possível desenhar as propriedades e caraterísticas de uma fibra para que possa responder com eficácia a cada requisito específico. Maior resistência do que o aço, suportarem temperaturas superiores a 1000°C, dissiparem a energia de impacto de um projétil, degradarem-se no final do ciclo de vida, serem absorvidas pelo corpo humano… são apenas algumas das caraterísticas que tornam estes materiais tão especiais.

Efetivamente, nas últimas décadas, são inúmeras as soluções inovadoras que foram criadas com base em fibras. As indústrias aeronáutica e aerospacial são exemplos bem claros dessa realidade. A possibilidade de combinarem elevada resistência mecânica com baixo peso, como as fibras de carbono, tornou estes materiais essenciais em qualquer projeto de engenharia que considere a economia de combustível, o aumento da capacidade de carga, a autonomia e a redução do impacto ambiental, como requisitos fundamentais a preencher no desenvolvimento da solução.

O conhecimento gerado sobre estes materiais, por diversas universidades e centros de investigação em todo mundo, em consonância com as necessidades de satisfazer os desafios societais emergentes impostos à nossa sociedade, tem aberto inúmeras possibilidades de desenvolvimento de tecnologias e produtos inovadores, integrando entidades geradoras desse mesmo conhecimento, com as empresas e os utilizadores finais, num verdadeiro “triângulo virtuoso” de cooperação.

Neste âmbito, Portugal tem contribuído sobremaneira para o alargamento das fronteiras do conhecimento neste domínio, mas, talvez mais importante, também na conversão desse conhecimento em inovação, com aplicação prática e efetiva do conceito “science for a purpose”.

São inúmeros os casos bem-sucedidos em que o conhecimento sobre fibras foi realmente convertido em produtos inovadores colocados no mercado à disposição de cada um de nós. Capacetes e coletes balísticos, portas corta-fogo, stents arteriais, peúgas com electroestimulação, vestuário interior para incontinentes, compósitos inteligentes para substituição do aço no reforço de betão, são apenas alguns exemplos de produtos inovadores recentemente desenvolvidos e já colocados à disposição do mercado, nos quais as fibras desempenham o papel principal.

Mas há mais, muito mais. A nova geração de fibras abre novas oportunidades de inovação. Estas parecem responder a duas linhas principais: inteligentes, capazes de interagir com o utilizador ou com o ambiente que as rodeia, e sustentáveis, com o menor impacto ambiental possível, baseadas em soluções disponibilizadas pela natureza, como as próprias fibras e os polímeros naturais.

É, efetivamente, um mundo novo que combina desempenho com sustentabilidade, inteligência com baixo impacto ambiental, interatividade com reciclabilidade… É, afinal, um enorme desafio para todos.

Mas é um desafio que vale a pena abraçar, cuja satisfação resultará em proveitos importantes para todos. Por um lado, será satisfeita a tendência atual para a utilização por parte dos consumidores de produtos cada vez mais sofisticados e repletos de tecnologia, e, por outro, serão satisfeitos os requisitos imperativos de uma economia verde baseada em soluções que não comprometam o nosso planeta, nem a qualidade de vida das gerações futuras.

É, portanto, nesta dicotomia, desempenho e sustentabilidade, que reside o maior desafio para o avanço do conhecimento, neste domínio, e da sua consequente transformação em tecnologias e produtos diferenciadores. A combinação de soluções inteligentes e sustentáveis com base em fibras parece representar uma enorme oportunidade, quer para a comunidade científica, quer para as empresas, na procura de satisfazer consumidores cada vez mais exigentes em relação a ambos os aspetos.

As fibras, pela sua apetência para se combinarem com outros materiais, são facilmente funcionalizadas, adquirindo, através da nanotecnologia, por exemplo, propriedades não detidas intrinsecamente, como a capacidade de monitorizarem deformações, detetarem agentes químicos nocivos e a presença de bactérias e fungos, libertarem fármacos quando em contacto com a pele, filtrarem líquidos, capturarem agentes poluidores no meio ambiente tornam-se, portanto, inteligentes.

Se a estas capacidades adquiridas se juntarem as caraterísticas intrínsecas de biodegradabilidade e de impacto ambiental reduzido proporcionado pelas fibras e pelos polímeros de base natural, parece estar traçado um caminho que certamente se constituirá como a base para o desenvolvimento de uma nova geração de produtos com base em fibras.

Setores como o têxtil, calçado, automóvel, aeronáutica, saúde, proteção pessoal, desporto, entre muitos outros, poderão, num futuro próximo, beneficiar fortemente desta nova abordagem consciente, transformando o conhecimento técnico-científico em soluções altamente inovadoras, com potencial de retorno económico muito elevado. E o planeta agradece!