Pedro Soares dos Santos

Presidente e Administrador-Delegado do Grupo Jerónimo Martins
O contexto atual, com a incerteza associada à pandemia ainda em níveis muito elevados e eleições antecipadas já em janeiro, não facilita exercícios de previsão. O meu ceticismo relativamente ao desempenho da economia portuguesa mantém-se. Os problemas são estruturais e estão agravados pelo impacto das restrições ligadas à gestão da crise pandémica. Há mais de duas décadas que a nossa economia não cresce verdadeiramente, temos uma dívida pública elevadíssima, estamos na cauda da Europa no que toca à recuperação e temos uma carga fiscal esmagadora. Nada disto permite antecipar uma mudança real. O Plano de Recuperação e Resiliência seria uma boa oportunidade para apoiar o turismo, tão determinante para a nossa dinâmica económica, para transformar a agricultura e, acima de tudo, para criar uma nova indústria assente na iniciativa privada.

Portugal precisa urgentemente de definir um posicionamento, de perceber como quer competir a nível internacional, de estabelecer objetivos concretos e focar os investimentos. Enquanto não formos capazes de definir o nosso desígnio estratégico e de nos comprometermos com planos de curto, médio e longo prazos, continuaremos frágeis e demasiado expostos às crises.

A somar a tudo o que referi, o aumento dos preços das matérias-primas e a previsível subida da inflação fazem-me antever um 2022 muito duro para as famílias portuguesas. É uma confluência de fatores que me torna impossível estar otimista.


Beatriz Freitas

Presidente da Comissão Executiva do Banco Português de Fomento
Isto apesar da instabilidade política em pano de fundo.

A continuação da recuperação económica e o posicionamento da economia para os próximos anos serão grandes desafios para Portugal em 2022 e irão requerer uma correta e exigente aplicação dos fundos disponíveis, com destaque para o PRR e o Portugal 2030, que serão certamente pilares do reforço e restabelecimento económico das empresas.

E, embora esteja previsto que a economia portuguesa demore a recuperar dos danos causados pela crise surgida da pandemia, tudo indica que Portugal poderá vir a ter uma das maiores taxas de crescimento em 2022.

Para isso, o investimento deve continuar a dar resposta às necessidades de apoio à recuperação dos setores da economia mais afetados, mas também ser capaz de promover uma visão de longo prazo do país, elegendo de forma criteriosa os projetos a financiar e investir naqueles que demonstrem ter a capacidade de transformar e fazer crescer a economia nacional, contribuindo para cimentar a dinâmica de modernização de Portugal face aos desafios de curto, médio e longo-prazo.

É na conjugação destes desafios que se encontra o papel do BPF: proporcionar ao ecossistema empresarial português as condições que contribuam, quer para apoiar as empresas no imediato, quer para acelerar a inovação e o crescimento económico, procurando assim contribuir para alcançar os propósitos de progressos de curto, médio e longo prazo.

Já em 2021, o Banco Português de Fomento desenvolveu diversas soluções de apoio às empresas para que possam ser mais sustentáveis, rentáveis e com capacidade de investir e inovar, tornando-se mais competitivas e capazes de fazer frente aos desafios que lhes são colocados. Acredito,

portanto, que, encarando de frente estes desafios, sem descurar a importância de uma visão mais estratégica, 2022 pode ser a consolidação de um percurso de recuperação para as empresas nacionais, mas também de inovação e aposta no crescimento, sustentabilidade e estabilidade da economia portuguesa.


Mário Vaz

CEO da Vodafone
Inevitavelmente, o ano de 2022 continuará a ser marcado pela pandemia e a incerteza que a caracteriza. Sendo certo que Portugal beneficia de uma elevada percentagem de população vacinada, o que atenua os riscos de repetirmos os momentos mais dramáticos do passado. Ainda assim, num mundo global, onde a vacinação ainda não é massiva e onde persiste o risco de aparecimento de novas variantes, diria que continuaremos necessariamente alerta e cautelosos nos prognósticos de fim da pandemia.

Gostaríamos certamente de retirar a variável pandemia da equação de 2022, mas ela estará presente, a afetar a recuperação económica, com impacto nas cadeias de fornecimento globais, consequente inflação nos custos de produção e nos preços ao consumidor.

E porque os desafios na economia não se dissociam do contexto político, é também um desafio para Portugal que 2022 se inicie sem um novo Orçamento do Estado aprovado e sem estabilidade governativa. Será importante que ultrapassemos rapidamente este cenário, para que seja possível encarar todos os desafios da recuperação económica de forma eficaz e bem-sucedida, designadamente na execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Do ponto de vista da Vodafone, enquanto empresa com um contributo ativo na promoção da conectividade e da digitalização – metas estruturais do PRR – este é um dos grandes desafios de 2022: a conceção de uma estratégia e de políticas capazes de nos elevarem a um novo patamar de integração da tecnologia nas nossas empresas e na sociedade em geral.

A Vodafone continuará a investir com este propósito, mas é importante relembrar que a promoção do investimento privado deve ser acompanhada de políticas públicas que deem corpo a este ambicioso projeto da digitalização e diminuição se assimetrias no acesso à tecnologia. A concretização de uma estratégia coordenada e balanceada entre o investimento público e o investimento privado deve, pois, ser uma prioridade para 2022 e para os anos futuros.


João Manso Neto

Presidente da Greenvolt
Depois de um 2021 em que as perspetivas de retoma foram, de alguma forma, ensombradas pela retoma da Covid-19 no final do ano, diria que os grandes desafios com que se confrontará Portugal em 2022 são dois:

A manutenção de uma grande disciplina no sentido da minimização dos impactos da Covid-19, estando certos de que todos continuaremos a aceitar fazer sacrifícios de curto prazo para salvaguardar o futuro.

A adoção de um modelo de desenvolvimento sustentável, que saiba aproveitar os fundos disponíveis para promover um aumento da riqueza global, objetivo este só possível no âmbito de políticas que mereçam o apoio da generalidade dos portugueses e que congreguem no mesmo esforço os sectores privados e público. Sectarismos, corporativismos, visões de curto prazo, serão os nossos principais inimigos.

No tocante à GreenVolt, os objetivos são claros: entregar e ultrapassar os objetivos que apresentámos ao mercado aquando do IPO, estando certo de que com a nossa estratégia clara no mundo das Renováveis, o nosso rigor operacional e financeiro e a qualidade dos nossos recursos humanos, o vamos conseguir.


Miguel Almeida

Presidente da Comissão Executiva da NOS
Após um 2020 marcado pela pandemia e pelo desconhecido, 2021 acabou por se verificar a continuação dos impactos da Covid-19, adiando a recuperação do sentimento de confiança dos agentes económicos, famílias e empresas. Com um maior conhecimento da doença e dos seus impactos, 2022 apresenta alguns desafios neste contexto, nomeadamente:

Conseguirmos, dentro do possível, mitigar os impactos da pandemia na economia, salvaguardando desta forma a oportunidade de recuperação face à quebra verificada nos últimos dois anos, garantindo níveis de salvaguarda na saúde dos portugueses.

A mudança de paradigma em termos de desenvolvimento, mais focado na criação de riqueza e não apenas na distribuição dessa mesma riqueza, aproveitando o potencial da introdução da tecnologia 5G na transformação digital a par com os instrumentos financeiros que advêm dos fundos disponibilizados pela União Europeia.

Portugal enfrenta ainda riscos de instabilidade governativa, ou da prossecução de políticas estatizantes e inibidoras do investimento privado, criando um clima de incerteza, penalizador do investimento e da criação de riqueza.

Para a NOS, 2022, será o ano de consolidação da visão de liderança da empresa para o 5G, contribuindo decisivamente para um incremento da competitividade das empresas nacionais, baseado numa transição digital que desejamos mais rápida.


Pedro Castro e Almeida

Presidente da Comissão Executiva do Santander Portugal
Portugal atravessa um período único, dos mais incertos dos últimos 50 anos, tanto a nível político como económico, com consequências sociais ainda difíceis de prever em toda a sua dimensão.

Escrevo num momento de pré-campanha eleitoral, com um desfecho quase tão imprevisível quanto a evolução da pandemia.

Economicamente, o panorama é influenciado por variáveis ainda por definir: a materialização do Plano de Recuperação e Resiliência, a (não) normalização da inflação e as suas consequências nas taxas de juro, o que terá um forte impacto nos custos de financiamento do Estado, das empresas e das famílias.

É preciso devolver a Portugal um clima de estabilidade com a aprovação do Orçamento do Estado que inclua medidas com caráter plurianual para o reforço do investimento privado, em áreas de I&D que promovam a produtividade e a competitividade das empresas nacionais, iniciando um processo de simplificação que reduza a carga burocrática e a carga fiscal.

Para as famílias, são necessárias medidas gerais de promoção da poupança e do urgente apoio à natalidade. Para as empresas, é obrigatório canalizar mais recursos para o investimento produtivo – e para a sua capitalização.

Num quadro mais conjuntural, devem manter-se os apoios às famílias e às empresas afetadas pela pandemia. Num quadro mais estrutural, deve seguir-se uma estratégia de consolidação das contas públicas, que permita uma efetiva redução da dívida pública.

A pandemia trouxe-nos a incerteza e esperamos todos que o Estado contribua para a reduzir, garantindo uma maior previsibilidade nas políticas fiscais, nas opções legislativas e nas medidas económicas que toma, em geral.

Existem, invariavelmente, oportunidades em tempo de crise. O que distingue aqueles que conseguem alcançar sucesso dos que são ultrapassados, é a forma como se consegue potenciar esta oportunidade, e neste momento o nosso país encontra-se perante uma oportunidade histórica, dada a magnitude de fundos que serão recebidos ao abrigo do Plano de Recuperação e Resiliência. É, assim, de extrema importância, que estes sejam canalizados e aplicados com a máxima eficiência e precisão, transformando os pilares da nossa economia e assim redefinir a nossa trajetória de convergência face ao crescimento da economia mundial.

Pelo seu lado, o Banco Santander compromete-se a continuar a ser um dos grandes pilares de apoio às famílias e ao tecido empresarial português, preparando-o para as transições gémeas em curso (energética e digital), sem nunca perder a matriz de responsabilidade e solidez, condições de futuro.


Andy Brown

CEO da Galp
Quase um ano depois de ter chegado a este país, estou cada vez mais convencido de que Portugal pode retirar grandes benefícios da recuperação pós-Covid. O maior trunfo de Portugal são as suas pessoas. Os portugueses são bem formados, abertos, cooperativos e extraordinariamente trabalhadores. O desafio é liderar e distribuir eficazmente esta base de talento de forma a libertar todo o potencial económico latente do país.

Temos de esperar que esta última vaga de Covid-19 seja a última e que possamos começar a trabalhar para construir uma economia mais forte, e mais verde. O Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) oferece uma oportunidade de ouro para reindustrializar o país e para o posicionar na liderança da transição energética.

Portugal tem energia renovável competitiva que pode ajudar nesta reindustrialização, seja na produção de combustíveis renováveis, como o hidrogénio, seja noutras indústrias de crescimento como a Cadeia de Valor das Baterias e dos veículos elétricos. A decisão da NorthVolt, um dos maiores fabricantes de baterias da Europa, de se associar à Galp para trabalhar na Cadeia de Valor das Baterias foi um voto de confiança tanto nos ativos do País e nas suas pessoas, como nas capacidades e na estratégia de transição energética da Galp.

Apesar de sentir, por vezes, que as empresas portuguesas são relativamente convencionais, com tendência para terem estruturas hierárquicas, sinto que existe uma chama muito forte, dinâmica e inovadora que devemos desbloquear, particularmente nas gerações mais jovens.

A qualidade deste talento é a razão pela qual muitas consultoras internacionais se estabelecem em Portugal, para captarem este talento para projetos globais. Embora isto seja realmente desejável e nos ajude a ganhar uma perspetiva global, sinto que as empresas portuguesas podem desempenhar um papel maior na canalização deste talento para a criação de atividade industrial no país, multiplicando a criação local de empregos qualificados.

A Galp e muitas outras empresas portuguesas desenvolveram e submeteram ao PRR alguns projetos entusiasmantes. A Galp lançou em 2021 as bases para projetos transformadores na geração de energia renovável, no hidrogénio, nos biocombustíveis e na conversão de lítio. Em 2022 iremos amadurecer estes projetos até entrarem na fase de execução. A nossa capacidade para materializarmos estes projetos, para conduzirmos o nosso talento e para trabalharmos em parceria com o Governo na liderança da recuperação da Europa no pós-Covid será simultaneamente o desafio central do país e a sua grande oportunidade para 2022.


Alexandre Fonseca

Presidente-executivo da Altice Portugal
Mais do que um desafio, partilho uma ambição para 2022: colocar Portugal na liderança da transformação digital, promovendo o seu potencial e crescimento económico.

O futuro é indubitavelmente digital e, por isso mesmo, a literacia digital dos portugueses deve fazer parte das prioridades de qualquer Governo, das instituições e da sociedade civil.

É essencial formar e dotar a população portuguesa de competências digitais chave que promovam ganhos de novas capacidades e oportunidades. Não podemos exigir a reinvenção de negócios e de empresas para o digital quando a maior parte da população portuguesa não tem essa competência.

Portugal enfrenta hoje tempos dos mais desafiantes da sua história face ao contexto político e com a crise pandémica a ultrapassar, em dimensão e gravidade, as previsões da maioria dos cenários de crise.

As eleições legislativas poderão ser um presságio e uma oportunidade para Portugal. O País precisa de reformas sérias e coesas, de longo prazo, que proporcionem o crescimento económico e a melhoria das condições de vida das famílias portuguesas. É urgente uma revisão da lei laboral e da política fiscal, bem como de uma reforma profunda no setor da justiça, que promova maior eficiência e celeridade nas decisões judiciais.

O investimento na mão-de-obra qualificada, na qualificação digital de adultos em idade ativa e nas competências digitais dos gestores, o investimento nos jovens e no seu talento, na melhoria das condições para a sua fixação, devem ser algumas das prioridades dos nossos líderes para o crescimento económico sustentado do nosso País.

Urge, por isso, assegurar a transição digital do Estado. Só assim o país avança, só assim os diversos setores conseguem dar resposta ao desenvolvimento e competitividade de Portugal face aos seus pares.

Promover as competências e as ferramentas digitais do Estado, melhorar a interação com os cidadãos e as empresas, simplificar desburocratizar processos e serviços, promover a interoperabilidade de sectores e colocar as empresas no centro da recuperação da economia, são algumas das medidas a tomar para a competitividade nacional e garantir a transformação digital – e social – de Portugal.


João Alves

Country Managing Partner da EY Portugal
Apesar de ser uma escolha inesperada, até para mim, o primeiro grande desafio para o país em 2022 é a estabilidade. Depois dos momentos complicados dos últimos anos, as empresas precisam de uma solução de governação estável, amiga do investimento e que tenha capacidade para fazer aprovar um Orçamento do Estado focado na melhoria da competitividade da economia, na aceleração do PRR e na recuperação do já atrasado P2030.

O segundo desafio é o do modelo de trabalho, em todas as suas vertentes. Para as empresas, que já sentem dificuldade para contratar, há que encontrar o equilíbrio certo para o modelo de trabalho híbrido que permita salvaguardar a cultura da empresa sem frustrar as expetativas dos colaboradores. O resultado final pode ser benéfico para todos, com melhores condições de trabalho e mais eficiência e eficácia, mas o processo vai ter consequências duras para as empresas menos competitivas e para os trabalhadores menos qualificados.

O terceiro desafio é um de dois custos cruciais. Os custos da energia que têm estado a bater recordes, e as taxas de juro que já começam a dar sinais de subida. Estes poderão ter um impacto devastador nas empresas produtivas/transportadoras e nas altamente alavancadas, respetivamente.
O quarto desafio, que afinal é o mais premente, é global. As consequências das alterações climáticas são já visíveis e a demora no surgimento de respostas assertivas e concertadas a nível global torna o futuro cada vez mais incerto. As empresas devem dar o exemplo com soluções e investimentos na transição energética e na descarbonização dos seus negócios.

Se estes desafios forem endereçados, todos os demais (crescimento, transição digital, capitalização, sucessão, propósito, cultura empresarial, entre muitos outros) estão perfeitamente ao alcance das empresas portuguesas, cada vez mais focadas na qualidade e na construção de valor a longo prazo.


Inês Sequeira Mendes

Managing Partner da Abreu Advogados
Os desafios são de longo e curto prazo.

Dos primeiros destaco o demográfico. A população continua a diminuir e a envelhecer, com consequências para a estabilidade e coesão do nosso modelo social e para a competitividade e produtividade da nossa economia. Mas temos também os desafios do crescimento, da qualificação da população e sua adequação ao mercado de trabalho, da produtividade, da redução da dívida e despesa públicas e melhoria do sistema fiscal, entre outos.

A curto prazo, conseguir controlar as novas variantes da Covid-19 é essencial para o tecido empresarial e a economia nacional, evitando crescimento de insolvências, com consequências diretas na evolução do emprego e do PIB nacional e na recuperação do país.

2022 é também um ano de oportunidades, em particular devido ao aumento de velocidade de execução do PRR. É fundamental que os mais de 16 milhões de eruos sejam bem aplicados, assegurando que o Estado e as empresas estão em condições de os usar da melhor forma, alcançando melhorias efetivas para a sociedade e para a economia.

A capacidade de adaptação à digitalização é um desafio real e transversal. Desde novas realidades de trabalho às novas crescentes tendências no mercado financeiro (Criptoativos, NFTs, as Fintech ou Insurtech), é importante a clarificação do respetivo enquadramento jurídico, nomeadamente em termos fiscais.

Finalmente, a transformação profunda do modelo de desenvolvimento da UE, espoletado pelo Pacto Ecológico Europeu e por todas as iniciativas que se lhe seguiram – entre elas a Lei Europeia do Clima e o Pacote Fit for 55. As alterações impostas pelo processo de descarbonização da economia, impactarão significativamente o tecido económico e financeiro, alterando a perspetiva face à qualidade e utilidade das empresas, dos produtos, dos serviços e dos investimentos, desejavelmente cada vez mais sustentáveis nos planos ambiental, social e de governação. O ESG enquanto novo paradigma traz consigo uma linguagem distinta e novos critérios técnicos para avaliação da conformidade com os objetivos de sustentabilidade. 2022 aproximará mais as empresas portuguesas destas exigências e a sua capacidade adaptação constitui um dos maiores desafios com que se confrontarão nos próximos anos.


Álvaro Beleza

Presidente da SEDES
Entre os múltiplos desafios internos e externos que podemos enfrentar em 2022, quero assinalar dois que me parecem subestimados na opinião pública portuguesa: a inversão da política monetária e a questão ucraniana.

Com efeito, no próximo ano poderá iniciar-se um ciclo de subida de taxas de juro a nível global que terá profundas implicações na economia portuguesa, uma das mais endividadas do mundo.

Ante as pressões inflacionistas, o Banco de Inglaterra já subiu juros e a Reserva Federal indicou que poderá fazê-lo três vezes ao longo de 2022. É uma questão de tempo até que o Banco Central Europeu, com sede em Frankfurt, siga o mesmo caminho.

Nesse cenário cada vez mais próximo, o Estado português pagará mais para levantar fundos nos mercados; o investimento dependente de financiamento bancário ficará mais oneroso; e a fatura das famílias com crédito à habitação encarecerá.

Todos estes ajustamentos vão tirar margem de manobra orçamental ao próximo Governo e concorrem para a imperativa necessidade de as eleições de 30 de janeiro produzirem uma solução política estável, para quatro anos e com verdadeira aspiração reformista.

Em segundo lugar, uma possível invasão da Ucrânia pela Rússia, em pleno Inverno, também pode gerar sérios constrangimentos a Portugal, um membro fundador da NATO. Representaria o maior problema de segurança no continente europeu desde as guerras da Bósnia e do Kosovo, com repercussões imprevisíveis ao nível dos preços da energia.

Além disso, faria com que os Conselhos Europeus fossem inevitavelmente dominados pela agenda dos países de Leste, em detrimento dos assuntos atlânticos. Poderia, por exemplo, diminuir o impacto global de uma iniciativa de extrema importância para o futuro de Portugal: a segunda conferência dos Oceanos das Nações Unidas, em Lisboa, que será precedida de uma outra importante reunião sobre a economia azul, organizada pela “The Economist”.


Francisco Calheiros

Presidente da Confederação do Turismo de Portugal
Na minha opinião, os grandes desafios de Portugal em 2020 são:

Reduzir os impactos sociais e económicos da pandemia, através de medidas necessárias à proteção da saúde, mas ponderadas e equilibradas para não colocarem em causa a atividade económica;

Estabilidade política como resultado das próximas eleições legislativas.
Que Portugal venha a ter um Governo estável, que mesmo através de acordos parlamentares possa governar toda a legislatura. Que se aprove um próximo Orçamento do Estado equilibrado, que não esqueça as empresas e responda às verdadeiras necessidades do País.

Que se aposte mais no turismo como atividade estratégica, que contribui para o crescimento económico do país e para a criação de mais e melhor emprego.
Mas é necessário que os apoios públicos de recapitalização cheguem às empresas; os responsáveis governamentais olhem para a lei laboral de forma equilibrada; que se fomente a redução de impostos e de impactos dos custos de contexto; que se decida e avance a construção do novo aeroporto na Grande Lisboa.

Prioridade ao combate às alterações climáticas, para acautelar consequências sociais e económicas que são cada vez mais visíveis.


João Vieira Lopes

Presidente da CCP – Confederação do Comércio e Serviços de Portugal
Temos duas incógnitas que se prendem, por um lado, com a evolução da pandemia, e por outro, com o aumento de preços relacionado com a escassez de algumas matérias-primas. Se, como esperamos, a evolução destes aspetos for positiva, teremos condições para nos centrarmos no que são alguns dos desafios mais estruturais com que se defronta o País, sem esquecer que muitas empresas, principalmente dos sectores que representamos, sairão da crise Covid muito fragilizadas e precisam de medidas especificas para a sua recuperação.

É também fundamental ter um quadro político estável e um Governo capaz de tomar as medidas necessárias para colocarmos a economia a crescer.

Precisamos de inverter um ciclo económico de quase estagnação da economia portuguesa, que acentuou a nossa divergência com a média comunitária. Precisamos crescer mais e de forma sustentada, pelo que a prioridade tem que ser o investimento e para isso é necessário, nomeadamente, que os vários envelopes financeiros, disponíveis em 2022 (PT 2020, PRR, PT2030) sejam corretamente orientados, quer em termos de investimento público, quer privado. A transformação e recuperação da economia exige ainda medidas de política fiscal que fomentem o investimento, contribuindo para a redução dos custos de contexto, a redução da carga fiscal, sendo ainda necessárias medidas específicas dirigidas à capitalização das empresas e ao reforço da sua tesouraria.

Precisamos de dar passos sérios no sentido de minimizar os problemas, já hoje muito evidentes, do nosso perfil demográfico. Temos cada vez mais problemas de falta de recursos humanos (que a pandemia de alguma forma escondeu), e temos uma população ativa já claramente envelhecida.

Neste contexto, a par de políticas de formação e requalificação e também medidas de fomento da natalidade, precisamos de medidas de efeito mais rápido, nomeadamente de prosseguir, por exemplo, uma política de reforço de acordos bilaterais para recrutamento de trabalhadores oriundos de países terceiros e de facilitação de vistos. É necessário reanalisar o regime jurídico do subsídio de desemprego. Finalmente, mas não menos importante, é fundamental ter uma política fiscal amiga do emprego. A pressão que já hoje se sente em matéria salarial, compensará, pelo menos em parte, uma redução do IRS que tornasse mais atrativo trabalhar em Portugal.


Eduardo Oliveira e Sousa

Presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal
O sector agroalimentar provou uma vez mais, em 2021, a sua enorme força de vida: não parou e cresceu – com destaque para a produção de hortícolas, frutos, vinho e produtos florestais –, mesmo quando a sua resiliência foi posta à prova, nomeadamente com o enorme aumento dos custos dos fatores de produção que está a esmagar a produção, já a braços com uma asfixiante carga fiscal. O consumidor já sente a fatura mais cara, agora que, nas prateleiras dos supermercados, as etiquetas com os preços mostram subidas; mas, no início da cadeia de valor, o agricultor, que produz e coloca os alimentos à mesa de todos, apesar de ter mais custos, continua a receber exatamente o mesmo.

Em 2022, o Governo que sair das eleições antecipadas do próximo dia 30 de janeiro tem de olhar para o tema da inflação como uma realidade, não como uma eventualidade. A inflação é uma inevitabilidade e está aí. É preciso agir já! O próximo Orçamento do Estado tem necessariamente de acautelar medidas específicas dirigidas para apoiar o setor agrícola, nomeadamente ao nível da fiscalidade e da redução dos custos da energia, por forma a garantir que um setor vital para a economia e para as exportações nacionais não sucumbe ao peso brutal da carga fiscal e dos custos de contexto, muito pouco competitivos com outros mercados da União Europeia.

Fortalecer a Agricultura, num momento tão complexo e desafiante, é preciso. Nos últimos anos, o desnorte tomou conta do Ministério da Agricultura, que está hoje esvaziado das suas funções, em agonia. Aquilo que pareceu uma vitória da Presidência Portuguesa da UE, ao encerrar as negociações da Política Agrícola Comum, está a transformar-se num pesadelo. É preciso que, em 2022, o PEPAC – Programa Específico da Política Agrícola Comum para Portugal, a ser aprovado em Bruxelas, considere os contributos dados pelo setor.

Precisamos de um horizonte estratégico para os grandes temas de futuro na Agricultura, como as florestas e a água, hoje na dependência absoluta e monopolista do Ministério do Ambiente, que, infeliz e incompreensivelmente, se transformou num negacionista da importância estratégica do sector agroflorestal, como se fosse possível dissociá-los da gestão territorial e do combate às alterações climáticas. De costas voltadas, apenas agravaremos o mau futuro que o planeta nos perspetiva.

Em 2022, a agricultura tem de assumir o seu papel central na ação política.


Luís Miguel Ribeiro

Presidente da Associação Empresarial de Portugal
O ano económico que agora finda fica marcado por:

1. A retoma (parcial) do PIB nacional, beneficiando do avanço do processo de vacinação, com Portugal a liderar na UE. Contudo, na parte final de 2021, o surgimento de uma nova variante Ómicron, mais contagiosa e com menor proteção vacinal, obrigou ao retorno de medidas restritivas por toda a Europa e acelerou a necessidade de doses de reforço nas populações mais vulneráveis (pelo menos).

Apesar do alto grau de vacinação, o PIB nacional apenas retomará o nível pré-pandemia em 2022, enquanto a maioria dos países da UE27 (14) já o farão em 2021, segundo dados da Comissão Europeia.

2. A adoção do programa de recuperação europeu financiado por dívida conjunta pela União, do qual Portugal irá receber 16 mil milhões de euros (Programa de Recuperação e Resiliência, já em execução), a juntar às verbas do Portugal 2030 (23 mil milhões de euros), traduzindo um grande afluxo de fundos europeus.

3. O retorno da inflação a nível mundial, a refletir a disrupção das cadeias de fornecimento globais com a pandemia – elevando os custos da energia, matérias-primas e produtos intermédios, como semicondutores –, o que obrigou os bancos centrais a antecipar a redução dos estímulos monetários.

4. O chumbo do OE 2022 e a convocação de eleições antecipadas para janeiro de 2022.

O ano económico de 2022 dependerá do desenlace destes quatro fatores, desde logo, se surge uma solução governativa estável, o que irá influenciar a execução dos fundos comunitários – sobretudo o PRR, com uma janela temporal reduzida –, cruciais para o crescimento económico, sobretudo se reorientados para as empresas. O impacto da Ómicron sobre a saúde e a economia e a velocidade de redução dos estímulos monetários serão também decisivos.


António Mendonça

Bastonário-eleito da Ordem dos Economistas
Os grandes desafios que Portugal enfrenta em 2022 são independentes de conjunturas ou de resultados eleitorais. São questões de natureza estrutural que se arrastam há duas ou três décadas, que se acentuaram no período do euro, e que se têm manifestado em força nas situações de dificuldades económicas como aquelas que vivemos na sequência da crise de 2008-2009 ou, mais recentemente, na crise da Covid-19.

Esperava-se que com a integração europeia um novo modelo económico se afirmasse, mais ajustado às necessidades decorrentes da abertura da economia portuguesa à economia europeia e à economia global e que, simultaneamente, respondesse a novos impulsos de modernização e inovação.

No entanto, nenhum modelo com coerência interna se afirmou, antes se impondo à economia portuguesa uma dinâmica errática de resposta a estímulos externos que acentuaram as fragilidades estruturais e a especialização dependente, com ganhos conjunturais para alguns sectores de atividade, mas com perdas significativas a médio e a longo prazo para o conjunto da economia de que o endividamento público acabou por ser uma expressão mais visível.

Numa perspetiva de transformação estrutural da economia portuguesa, destacava três grandes desafios para o ano que vai entrar:

A reintrodução da perspetiva estratégica na política macroeconómica e nas políticas públicas em geral, com reforço e qualificação do suporte técnico e institucional;

A reforma fiscal amiga do crescimento, conciliando um desagravamento fiscal das classes médias com incentivos à inovação empresarial, ao reforço da coerência do sistema produtivo interno, à produção de escala e à internacionalização.

A reforma da administração pública, no sentido do rejuvenescimento, requalificação e recuperação de prestígio perante a sociedade e os agentes económicos;

Não se trata de fazer tudo num ano, num contexto em que a incerteza decorrente da evolução da pandemia poderá determinar outras prioridades e condicionalismos. Mas o arranque da aplicação do PRR poderá ser um fator potenciador de novas dinâmicas que convirjam para a produção de uma racionalidade e coerência interna que configurem um novo modelo da economia portuguesa.


Isabel Camarinha

Secretária-geral da CGTP
Precisamos romper com a política das últimas décadas e de afirmar um caminho de desenvolvimento soberano.

Neste contexto, o aumento geral de todos os salários em 90 eurosmês e a fixação do salário mínimo no curto prazo nos 850 euros são condições para permitir um melhor nível de vida a quem trabalha, para dinamizar a economia e a produção nacional, para gerar mais emprego e mais receitas fiscais que permitam ao Estado reforçar a sua presença na economia – insubstituível e indispensável como os últimos tempos o demonstraram –, para tirar da pobreza os trabalhadores e os filhos destes que se encontram nesta situação.

O aumento geral dos salários tem de ser acompanhado com uma política de valorização do trabalho e dos trabalhadores, das profissões e das carreiras profissionais, e de alterações à legislação laboral que revoguem as normas gravosas, nomeadamente aquelas que incidem e limitam o direito à contratação colectiva como a caducidade e a não reintrodução do princípio do tratamento mais favorável.

Melhorar os salários, promover o emprego de qualidade com a erradicação da precariedade, são alterações urgentes, necessárias e possíveis. Da mesma forma se enquadra a exigência para redução do tempo de trabalho, fixando nas 35 horas o limite máximo semanal. Com a evolução da tecnologia, com os avanços na ciência, em pleno século XXI, nada justifica que se mantenham vínculos, tempos, ritmos e horários de trabalho que esmagam os trabalhadores e só introduzem incerteza e insegurança.

Portugal precisa ainda de apostar na melhoria e alargamento da abrangência dos serviços públicos, de reforçar o SNS, a escola pública, a segurança social, a justiça e a cultura com meios e profissionais. Precisa de chamar ao controlo e provisão pública as empresas e sectores estratégicos ao desenvolvimento, hoje nas mãos de meia dúzia de grandes capitalistas nacionais e maioritariamente estrangeiros.

Estas são alterações que têm de ser realizadas, de forma articulada, para garantir um outro futuro.


Carlos Silva

Secretário-geral da UGT
O ano de 2022 continua marcado por forte instabilidade, iniciando-se com novos períodos de confinamento e medidas mais restritivas um pouco por todo o Mundo, de impacto incerto em termos de recuperação económica e social. No plano nacional, junta-se ainda a instabilidade política decorrente da não aprovação do OE 2022 e da realização de eleições antecipadas a 30 de janeiro.

Devemos estar todos conscientes que a pandemia ainda não se encontra ultrapassada e que continuará, por isso, a exigir que sejam mantidas as medidas excecionais e temporárias de proteção do emprego e dos rendimentos dos trabalhadores e das famílias.

Mas tal não pode servir de pretexto para ignorar ou adiar os desafios da recuperação.

Impõem-se medidas para um crescimento económico mais robusto e sustentável, para o aumento do nível de emprego (e emprego digno!), para promover o combate às desigualdades e pobreza (que esta crise apenas veio reforçar) e para a melhoria dos salários e das condições de trabalho.

Impõe-se a valorização dos Serviços Públicos e a melhoria das respostas às pessoas, às organizações e ao País, que esta crise encontrou frágeis mas que provou serem cada vez mais necessários.

A instabilidade política veio adiar a implementação de medidas positivas, inclusivamente na esfera social e laboral (como a atualização extraordinária de pensões, os novos escalões de IRS, o combate à precariedade, a reversão de algumas medidas adotadas no período da Troika, entre outras) e que devem merecer especial prioridade por parte de qualquer Governo que vier a ser empossado.

A melhoria dos salários não pode esgotar-se na valorização do salário mínimo. Este deve manter uma trajetória de crescimento, mas a valorização geral dos salários dos portugueses é uma prioridade absoluta e a sua discussão retomada.

Os compromissos relativos à formação e qualificação assumidos no acordo tripartido de 2021, que garantem as bases para a melhoria da inovação e da competitividade das organizações e asseguram transições digitais e ambientais mais justas e inclusiva, são para assegurar com urgência.

Por isso, ainda que com as necessárias precauções devidas à Covid, mas tendo ao seu dispor recursos financeiros sem paralelo, 2022 tem de ser um ano de mais forte recuperação – da economia, do emprego, dos rendimentos do trabalho e do bem-estar das Pessoas.

Com soluções construídas em diálogo, em sede de concertação social.


António Brochado Correia

Territory Senior Partner da PwC
Todos nós teremos sempre desafios pela frente, enquanto indivíduos, empresas ou países. Este será sempre um estímulo que vem de fora, pelo que a resposta virá sempre de dentro e da nossa vontade e determinação em assumir o compromisso e fazer mais e melhor, não o possível, mas o suficiente. Nem todos nós estaremos preparados para a intensidade de sacrifício e esforço que muitas vezes temos que fazer para que os resultados sejam os que pretendemos, mas temos a obrigação de tentar. Pelo que o grande desafio será sempre o da concretização, o das escolhas adequadas e das ações necessárias.

Portugal receberá, nos próximos sete anos, 20 milhões por dia. É um número impressionante, pois serão quase 4% do produto interno bruto do nosso país, por ano. Até agora, recebemos cerca de 2,5% e, ainda assim, apesar de reconhecermos que o país está melhor que há 20 anos, o crescimento foi pequeno e as melhorias não foram sentidas pelos que mais precisam, na saúde, na educação e na inclusão social e nem nos empresários, que criam riqueza e emprego e precisam de instituições mais fiáveis e amigas do investimento.

Quando se utilizam recursos dos portugueses, a responsabilidade na sua gestão é maior, de diligência, transparência, escrutínio, de informação aos cidadãos. A cidadania implica participação ativa na sociedade. O Estado deve garantir a boa gestão da sociedade, que não é mera técnica ou administrativa, mas política. Todos os grupos da sociedade devem participar neste projeto. As várias correntes, de direita e de esquerda, podem complementar-se, desde logo uma por permitir expandir a produção e a inovação, mas a outra, mais social, subordinando o mercado numa direção mais democrática.

O melhor de Portugal são os portugueses, na sua universalidade, compaixão, tolerância, solidariedade. Cada um na sua individualidade, no seu percurso e nas suas aspirações.

Temos que ter presente o nosso maior e principal objetivo: proteger e dar esperança às pessoas. Só assim se pode falar em crescimento, desenvolvimento, progresso. Se até agora temos salvado vidas, no futuro será o tempo de as servir.

O mundo é o nosso juiz. O que damos hoje marca o nosso futuro. Não podemos desperdiçar potencial, pois o esforço é coletivo, mas a responsabilidade é individual em responder com qualidade nas nossas tarefas, e isso é responsabilidade.

O desafio é, pois, utilizar bem os recursos que estarão à nossa disposição, para melhorar as nossas instituições, fazendo as escolhas adequadas de investimentos, tangíveis e intangíveis (na cultura e na educação) e executando bem.


Paula Panarra

Diretora-geral da Microsoft Portugal
2022 marca o arranque do terceiro ano em que os Portugueses se veem a braços com uma pandemia global. O impacto humano, social, económico, ambiental é tremendo, comparável apenas à resiliência de pessoas e organizações, face a esta nova realidade.

Se o mundo sem fronteiras adensou o problema, o mundo sem fronteiras tem procurado mitigá-lo. A partilha de conhecimento, a capacidade de inovação, a transformação digital e a (re)capacitação evoluíram para níveis nunca esperados, em tão curto espaço de tempo. E se em dois meses de 2020 assistimos a dois anos de transformação, como disse então Satya Nadella, CEO da Microsoft, 2022 não será excepção.

O último ano tornou claro que os passos dados são irreversíveis. A vida alterou-se, a forma como trabalhamos mudou e o que queremos para o futuro já não é exatamente igual.

Começamos 2022 a trabalhar a partir de casa e, embora isso soe familiar, seguimos diferentes. Queremos flexibilidade, mas contacto – nesse paradoxo do híbrido, de desafiante resolução -; damos preponderância a temas como o bem-estar; repensamos missão e propósito.

41% dos trabalhadores, em todo o mundo, ponderaram mudar de emprego em 2021, segundo o Work Trend Index, da Microsoft. Muitos milhões mudaram, de facto, e muitos darão agora esse salto. A pandemia roubou muito, mas também deu tempo e espaço para priorizar e colocar em perspetiva.

A tecnologia é, cada vez mais, porto seguro e farol – um canivete suíço dos tempos modernos. Aproxima-nos de quem está longe, permite-nos chegar onde não vamos, cocria aquilo com que sonhámos.

A pandemia intensificou a necessidade de automação e inteligência, a nuvem tornou-se o modelo preferencial para desenvolvimento de soluções, as capacidades da IA (visão, linguagem, discurso, decisão) estão infundidos em quase todos os processos de negócio.

Estes são os desafios do mundo. O grande desafio para o País será acompanhar este ritmo alucinante de transformação. Recapacitar pessoas, reformar organizações, transformar negócios – que sejam resilientes, ágeis, intencionais e sustentáveis; que equilibrem o engenho humano com a disrupção tecnológica; que centrem atenções nos clientes; que reinventem a relação com colaboradores. 2022 chegou. O futuro é hoje.


Carlos Freire

CEO da Aon Portugal
A desaceleração económica é um dos grandes desafios que o país terá de enfrentar em 2022. É, aliás, o risco que mais preocupa as empresas portuguesas, segundo o maior estudo global de risco desenvolvido pela Aon.

A gestão do risco, fundamental para ultrapassar estes desafios, deve por isso ser encarada de outra forma pelas organizações, nas suas mais variadas vertentes.

A gestão de Pessoas em modelos de trabalho híbridos, por exemplo, é um ponto sem retorno. Assim como a forma como as empresas vão ter de passar a encarar alguns fatores que vão impactar a subida dos seus custos com a saúde: o envelhecimento da população, o declínio geral da saúde, estilos de vida pouco saudáveis, entre outros.

Os processos de digitalização e a cibersegurança vão também merecer uma crescente atenção por parte de gestores, porque estes já perceberam que a robustez do sistema é crítica em períodos de crise.

A captação de investimento estrangeiro terá de ser também reforçada. Houve este ano mais operações de M&A em Portugal, porque o nosso país continua atrativo e as perspetivas para o próximo ano mantêm-se, com tendência a melhorar, o que per si exige mais e melhor proteção.

Por último, porventura o grande desafio, mas simultaneamente a grande oportunidade apontada às empresas para 2022, tem que ver com as políticas de ESG. É inegável que os critérios ambientais, sociais e de governação contribuem para a criação de valor. A CMVM, por exemplo, enviou recentemente aos seus supervisionados as regras do mercado de capitais e sustentabilidade para o próximo ano e aponta as práticas de ESG como uma componente fundamental a integrar na atividade destas. As empresas têm rapidamente de fazer esta transição para não perderem valor, de mercado e de reputação.

O grande desafio passará por saber olhar para estes desafios e aproveitar as oportunidades para com isso contribuir para uma economia e sociedade mais competitivas e sustentáveis.


António de Sousa Pereira

Reitor da Universidade do Porto
O ano de 2022 começa com um grande desafio para Portugal: encontrar uma solução de governabilidade. Com ou sem maioria, é fundamental que o novo governo seja estável e tenha, por isso, condições para levar a cabo as reformas e os investimentos de que o país carece. Essa estabilidade passará, muito provavelmente, por compromissos duradouros entre Governo e oposição, de forma a viabilizar políticas e instrumentos fundamentais para o país, como o Orçamento do Estado.

Da solução de governabilidade encontrada dependerá, de resto, a boa execução dos fundos europeus. Este é outro dos grandes desafios de 2022, pois no próximo ano o país vai submeter os primeiros pedidos de pagamento do PRR, encerrar o Portugal 2020, prosseguir com a execução do REACT-EU e arrancar com o novo quadro comunitário de apoio (PT2030).

Será preciso um Governo forte e mobilizador para que todas estas ajudas comunitárias tenham o devido retorno económico, social e ambiental para o país. Num espaço de tempo relativamente curto, a execução de tão generoso envelope financeiro exigirá estratégia, eficiência e transparência ao Estado e aos seus parceiros (instituições e empresas).

Em 2022, o cenário geopolítico para consolidar a recuperação do país e iniciar a sua transformação socioeconómica a partir dos fundos europeus não é, porém, o mais favorável. Não sabemos quando vão estabilizar as cadeias de abastecimento e os preços das matérias-primas, energia e transportes, assim como desconhecemos até onde podem ir a subida da inflação ou a escala de tensão entre EUA, China e Rússia.

Todos estes desafios têm como pano de fundo a crise das nossas vidas: a pandemia de covid-19, cuja evolução em Portugal e no mundo é ainda uma incógnita. Estou, contudo, confiante de que, graças à ciência, o vírus se torne endémico no próximo ano e deixe de ser uma ameaça à saúde pública.


João Vargas

Secretário-geral da ANEBE
O grande desafio para o país, em 2022, é o da estabilidade. O fim do ano de 2021 criou na sociedade portuguesa um sentimento de instabilidade que é imperativo alterar.

Diria que temos três desafios para alcançarmos estabilidade em 2022:

O desafio da estabilidade política, que permita desenvolver políticas públicas de médio e longo prazo com benefício na vida das pessoas e das empresas, assim como uma visão de desenvolvimento e um desígnio nacional para os próximos anos. Portugal tem de assumir o desafio do crescimento económico como fundamental e que lhe permita, claramente, o crescimento das empresas e assumir uma subida generalizada dos salários dos trabalhadores. Para isso, a execução do PRR será extraordinariamente relevante, assim como criar maior escala às nossas empresas e projetá-las no exterior, com políticas fortes de apoio à exportação.

Por outro lado, o desafio da estabilização da pandemia e, sobretudo, das medidas que impactam o funcionamento da economia, bem como a reconstrução do sistema de saúde. Com os dois anos de pandemia que faremos em março de 2022, Portugal e o seu novo governo terão o desafio de saber melhor como estabilizar restrições sem impactar a economia. Hoje percebemos que a alta testagem, por exemplo, tem mais efeito na contenção do vírus do que a simples restrição de sectores de atividade.

Por fim, o desafio da estabilidade orçamental. Portugal começará o ano em duodécimos e terá duas discussões orçamentais, primeiro com a aprovação do OE para 2022 e depois em Outubro a discussão para o OE para 2023. O país vai precisar de estabilidade e previsibilidade nos próximos orçamentos. Os empresários e os contribuintes devem exigir ao novo governo estabilidade, mas, sobretudo, previsibilidade fiscal, uma vez que ao existirem duas discussões orçamentais num único ano – mesmo sem sabermos o arranjo institucional que sairá das eleições de dia 30 de janeiro – aumentará o risco de instabilidade. Com a variabilidade que a pandemia fomenta mesmo com a vacinação generalizada, o risco de inflação alta, o aumento do preço da energia, o mínimo que se exigirá a um governo responsável em 2022 é que promova a estabilidade fiscal, tanto para contribuintes, como para empresas.


Ângelo Ramalho

Presidente da Efacec
O grande desafio será, a meu ver, e por muito obvio que tal possa parecer, recuperar dos dois mais desafiantes anos que as economias globais viveram, nos últimos 50 anos. Para as empresas portuguesas, apesar de operarem a partir de um dos países europeus mais afetados pela crise pandémica, o nosso, esta realidade deve ser transformada num quadro de oportunidades. A disrupção nas cadeias logísticas, e algumas críticas, vão acentuar fenómenos de reshoring, que são o quadro de base do processo de reindustrializaçao da Europa, no qual Portugal pode ser um ator com algum relevo. Assegurando competitividade de fatores de produção distintivos, como são os que estão centrados nas pessoas, na sua valorização e capacitação, enquadradas em sistemas capazes de promover a inovação e respostas ágeis aos problemas que nos desafiam, Portugal pode ter aqui a sua oportunidade.

Portugal precisa de mais empresas à ‘prova de futuro’. Porque mais resilientes, mais sustentáveis e mais centradas nas pessoas e no seu conhecimento, traduzido em processos robustos e produtos e/ou serviços competitivos à escala global.

É um ano que começa marcado por um processo eleitoral que deve ser encarado com normalidade, apesar do fator de imprevisibilidade que introduz. Não me parece que, apesar de tudo, esta imprevisibilidade afete a ‘estratégia País’, uma vez que há, pelo menos até ao presente, um grande consenso na sociedade sobre o papel de Portugal na Europa, e no Mundo.

O que temos de saber resolver melhor são os aspetos táticos e de execução que nos permitam crescer nas cadeias de valor, e retornarmos os ganhos em mais desenvolvimento social.


Pedro Coelho

Vice-presidente da Square Asset Management
2022 será um ano extremamente desafiante. Para além das habituais incertezas decorrentes de tensões geoestratégicas que, caso não haja equilíbrio por parte dos principais agentes políticos, poderão ter consequências imprevisíveis, importa saber como iremos enfrentar duas questões centrais para o nosso futuro coletivo:

A evolução da pandemia. Mesmo com a solução rápida das vacinas, assistimos a assimetrias entre os países desenvolvidos e entre estes e os mais necessitados. Este facto origina uma vulnerabilidade coletiva mundial, exponenciada com o aparecimento de novas variantes. Teremos de aguardar até conhecer a eficácia dos recentes medicamentos na redução da necessidade de assistência hospitalar. A resposta global a estas questões será decisiva na velocidade da recuperação económica;

A ‘novidade’ da inflação. Precisamos de perceber se este fenómeno normal (mas já esquecido por muitos) será conjuntural ou estrutural. Se se verificar o segundo cenário, terá de haver consequências nas intervenções dos bancos centrais na política monetária, leia-se taxas de juro.
Para além destes desafios, globais, Portugal inicia o ano com eleições a 30 de janeiro e é elevada, a probabilidade de o quadro parlamentar daí resultante não ser estável. Assim, o próximo Governo irá, também ele, enfrentar outros 2 enormes desafios:

Recolocar o país na rota do crescimento económico e de aproximação ao nível médio de vida europeu com o apoio do PRR, apesar de se avolumarem as dúvidas acerca do efeito multiplicador deste e da capacidade em executá-lo de forma eficiente e em tempo útil;

Aumentar a competitividade fiscal e aa produtividade do país para atração de investimento estrangeiro e a diminuição da carga fiscal e do peso do Estado na economia.

A resposta que se souber dar é determinante para Portugal. Face à fragilidade da nossa economia, ao nível de dívida pública e peso do Estado e dos impostos, não podemos perder (mais) esta oportunidade, sob pena de hipotecar o futuro do país.


Paulo André

Managing partner da Baker Tilly
Todos sabemos que o que nos falta é ação (implementação) e menos estratégia (conversa). Estamos fartos de diagnósticos. As causas do insucesso nacional e as soluções são várias e conhecidas. Ainda assim, saliento os seguintes aspetos:

O maior desafio é sair do ciclo de estagnação dos últimos anos (baixo crescimento do PIB). O peso do Estado em % do PIB é alto, face a países equiparáveis. As políticas públicas têm privilegiado o Estado, como dinamizador do crescimento económico (investimento publico, não produtivo) e ferramenta de redistribuição do rendimento, com efeitos perversos no crescimento. A produtividade, as exportações, o emprego, a criação de valor (VAB), dependem mais do investimento privado (que também contribui mais para as exportações).

Falta Accountability, Processo e Empreendorismo – somos um país onde muitos líderes não estão comprometidos com objetivos exigentes e quantificáveis (e portanto auditáveis). Dizem que somos flexíveis e que nos sabemos desenrascar. Mas, falta-nos método e processo: na gestão, no compliance, na prestação de contas, na governação e na avaliação de performance. Lá fora, os portugueses (flexíveis e desenrascados), quando inseridos em ambientes organizadas, com métodos e processos, são considerados dos melhores colaboradores. Temos que promover a cultura do risco e não ter medo de falhar. O empreendedor precisa de apoio financeiro, mas essencialmente de baixos custos de contexto e de reconhecimento.

Onde está um plano de ação com politicas objetivas, para tornar este país num “Portugal valley”?

Melhorar a qualidade e seletividade do investimento a realizar (publico e privado): sempre investimos em indústrias e projetos de utilidade e rentabilidade muito duvidosa. A aposta deve ser em sectores e negócios escaláveis, de alto valor acrescentado (qualidade), assente em tecnologias emergentes e sustentáveis e de bens/serviços exportáveis. A “basuca” está à porta. Onde está o processo de avaliação, seleção e aprovação dos investimentos a apoiar? Os investimentos a apoiar promovem a inovação? Onde está processo de monitorização? onde está o processo de compliance e auditoria? Os países competem entre si, pelo investimento. Estamos a saber atrair o investimento estrangeiro? Não me refiro apenas a apoios fiscais e outros similares. Estamos a divulgar bem o país no xadrez mundial? Estamos a divulgar bem a qualidade e competência dos portugueses (línguas, tecnologia, cultura – esqueçam lá isso dos baixos salários!!!…)? Estamos a divulgar bem os nossos baixos índices de segurança/criminalidade? O nosso clima e cultura civilizacional? Onde está a “Marca Portugal” a contribuir para a um maior investimento estrangeiro?

Formação: a formação escolar e empresarial é muito teórica e afastada do negócio, do processo, da realidade prática. Formamos gestores de generalidades em áreas que ninguém sabe de facto para que servem e sem mercado de trabalho. A maior parte destes, acaba em call-centers, em tarefas administrativas e a entregar refeições (moços de recado), desmotivados e com baixos salários. Exige-se ensino técnico-profissional em massa. Está na hora de deixarmos de ser um país de “doutores” sem “doentes” (licenciados sem mercado, sem trabalho, sem dinheiro e sem futuro). Precisamos de técnicos intermédios, no chão de fábrica, no “internacional business”, nas áreas de tecnologia (informáticos, programadores, data analytics, etc.), na logística, na inovação e nas novas indústrias sustentáveis. Precisamos de gente que meta a mão na massa. A mão na caneta, tem que ser rapidamente substituída pela digitalização, pela robótica e pelo processo.