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O Guardiola que vai desviar talentos do Barcelona

A globalização do futebol aumentou a popularidade do desporto para níveis nunca antes vistos o que gerou receitas apelativas para vários tipos de investidores. O Girona FC é um clube pouco falado que pode começar a desviar o talento mais jovem de La Masía, a academia do FC Barcelona.
26 Agosto 2018, 17h00

A academia do FC Barcelona é sobejamente reconhecida como uma das melhores do mundo, tal não é o talento que floresce em La Masía, como é conhecida. Os jovens ingressam na academia com o sonho de um dia conseguirem representar a equipa principal, mas poucos conseguem – oportunidades para jogar em Camp Nou, o estádio do FC Barcelona, apenas são concedidas aos melhores dos melhores. Pense-se, por exemplo, em Grimaldo, o atual lateral esquerdo do SL Benfica. Entre os melhores, destacam-se Piqué, Fábregas, Iniesta, Xavi, Guardiola e, claro, Leonel Messi. Mas o Manchester City tem um plano que pode ameaçar a caça de talentos de La Masía.

Antes de falamos da equipa do norte do Inglaterra, temos que falar de outro clube de pequena dimensão do Norte da Catalunha e que está a ganhar uma nova alma. Depois de 86 anos a andar em ‘ziguezagues’ pelos escalões secundários do futebol espanhol, o Girona FC conseguiu finalmente em junho de 2017 dar o salto para a La Liga, a primeira divisão espanhola. No jogo de estreia, recebeu o poderoso Atlético de Madrid e, depois de estar a ganhar por 2-0 com um bis do uruguaio Stuani, acabou por ceder o empate a duas bolas.

Entre as suas fileiras, o Girona FC, fundado em 1930, conta com dois aliados de peso que se conhecem bem. Pep Guardiola conseguiu o seu cargo atual por intermédio do seu irmão e agente, Pere Guardiola. Este último comprou 44% do Girona FC em agosto de 2017, o mesmo que a empresa City Football Group (CFG, sigla em inglês), numa operação que o “The Guardian” diz ter custado 14 milhões de euros.

Se o futebol atual é uma manifestação da globalização, então o CFG é um dos motores da globalização do futebol. A empresa, fundada em 2013, é dona de negócios relacionados com o futebol em várias cidades do mundo, que incluem clubes de futebol, academias, apoio técnico e empresas de marketing. No mission statement da CFG lê-se que “é a sua ambição aumentar a participação no futebol dentro e fora de campo, encontrar e desenvolver o melhor talento futebolístico”.

Em 2008, o fundo de investimento Abu Dhabi United Group, detido pelo Sheikh Mansour bin Zayed Al Nahyan, fundou o CFG para gerir os negócios do futebol. Em 2015, o ADUG vendeu 13% da CFG aos chineses da China Media Capital por 400 milhões de euros, numa operação que avaliou a empresa dona do Manchester City em 3 mil milhões de dólares. Atualmente, além de deter o clube rival de José Mourinho, a CFG é ainda dona do Melbourne City da Austrália, do New York City Football Club em parceria com os New York Yankees, e investiu no clube japonês Yokohama F. Marinos, no Club Atletico Torque do Uruguai e, mais recentemente, no Girona FC de Espanha.

O Girona FC tornou-se assim num ‘clube satélite’ do Manchester City, recebendo os jogadores dos citizens que ainda não têm ‘estofo’ para as exigências da Premier League. No ano de estreia na La Liga, o Girona FC contou com cinco jogadores emprestados oriundos da equipa de Pep Guardiola. À agência “Bloomberg”, o presidente do clube espanhol, Delfi Geli, conta que “um jogador talentoso pode jogar [no clube] na liga espanhola, uma das melhores do mundo. Se, por exemplo, o jogador joga este ano no Girona, no próximo ano poderá jogar sem problemas no City”.

Mas o Girona FC, além de querer permanecer no principal escalão do futebol espanhol, vai passar a atrair talento – como é apanágio do CFG, que tem comprado época após época os melhores jogadores para o Manchester City. Todos os jogadores que aspiram a jogar futebol profissional numa equipa catalã já não têm que ir forçosamente para La Masía, uma vez que as equipas mais jovens do Girona FC surgem como uma bola alternativa. E, com trabalho e talento, poderão um dia vestir o equipamento azul claro do City e pisar o relvado do Etihad Stadium.

A globalização do futebol trouxe receitas, e estas chamaram investidores que, de outra forma, não se sentiriam atraídos pelo desporto. A teia de interesses económicos aumenta a complexidade do desporto que, no campo, se mantém simples: ganha quem marcar mais golos.

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