Um aeroporto “hub” define-se academicamente como uma plataforma de distribuição de passageiros aéreos em trânsito que viajam de um ponto A para um ponto B trocando de avião nesse tal aeroporto “hub”.

Seja por uma questão de preferência, de conveniência ou de inexistência de voos diretos alternativos, quando um aeroporto tem um volume elevado desse tipo de passageiros em trânsito, diz-se que estamos perante um aeroporto “hub”.

O aeroporto especializa-se e adapta a sua infraestrutura para lidar com essa finalidade – seja numa perspetiva do passageiro, seja na ótica da companhia aérea. Mas não basta ter apenas a infraestrutura – é fundamental ter uma companhia aérea que siga esse modelo de negócio de “hub” e são poucas as que o fazem verdadeiramente. A companhia aérea que utiliza o aeroporto “hub” racionaliza a sua rede de destinos, a sua frota e a sua política comercial para ter um “produto de companhia hub”. Essa estratégia implica criar picos de utilização da infraestrutura – por exemplo: todos os voos intercontinentais aterram entre as 5h e as 7h da manhã e todos os voos de continuação para a Europa descolam entre as 07h00 e as 09h00.

Dentro desta estratégia comercial de fomentar passageiros em trânsito nos seus voos, existem companhias aéreas para as quais este tipo de utilizadores são apenas um “extra” e existem outras para quem isto se torna a essência do negócio. Pelo meio, estabelece-se uma relação simbiótica entre aeroporto “hub” e companhia aérea “hub”, em que por vezes uma se confunde na outra, sobretudo em aeroportos com terminais dedicados. Uma coisa é certa: por melhor que seja a sua localização, um aeroporto “hub” nunca poderá vingar se não tiver uma companhia que o use nesses exatos termos…e uma companhia nunca poderá escalar o seu negócio “hub” se não tiver um aeroporto que a acompanhe operacionalmente.

Logo a seguir à liberalização do espaço aéreo europeu que terminou com os monopólios estatais no setor, as companhias de “bandeira” refugiaram-se num outro monopólio muito mais subtil e que, involuntariamente, sobreviveu: o monopólio do “hub”, um modelo de negócio que depende de estruturas e de acordos comerciais complexos. Assim, num voo Lisboa-Paris, as companhias “hub” como a Air France ou a TAP terão 50 a 60% de passageiros sentados nesse voo apenas para conetar para outros destinos. Já nas concorrentes Vueling, Transavia, easyJet ou Ryanair essa percentagem será totalmente marginal e não oficial – são passageiros que arriscam comprar dois bilhetes separados, sem garantias em caso de disrupção e que esperam que tudo corra bem.

Aliás, é frequente constatar que a combinação de dois bilhetes separados de duas companhias diferentes como aquelas é a melhor solução (em preço, horários, rota), mas o risco em caso de atraso ou cancelamento de um dos voos fica exclusivamente do lado do passageiro. Por outro lado, no caso de se despachar bagagem, existe ainda a logística da recolha da bagagem no ponto intermédio. No final, e para este tipo de ligações, ganha a distribuição facilitada e a segurança do chamado HUBopólio.

Mas…e se o fim deste “HUBopólio” estivesse a ser construído através da intervenção de empresas externas que ligam dois voos comercialmente separados e que funcionam como uma “seguradora” em caso de cancelamento ou atraso de um dos voos? E se os aeroportos “não-hub” excluídos deste negócio dos passageiros em trânsito se interessassem em cooperar com as companhias aéreas para facilitar este novo modelo de negócio?

Estas empresas já existem e resolveram chamar a isto de “hub virtual” – que de virtual não tem nada, de tal forma ele é transparente, real e seguro.

Numa altura em que se discute um novo aeroporto para Lisboa e a palavra “hub” ouve-se de todos e para tudo, é importante perguntar se é desígnio do Estado utilizar dinheiro público para construir um aeroporto especificamente de tipo “hub” e se, daqui a 10 ou 20 anos, esse modelo ainda permanecerá válido nestes termos.

A evolução da indústria parece sugerir exatamente o contrário… mas, como sempre, os políticos andam de olhos TAPados e de bolsos abertos.