Nos momentos de crise, a comunidade criativa une-se e amplia o impacto das artes e da cultura na sociedade. A incerteza do futuro que vivemos, com as alterações climáticas, demográficas, geopolíticas e pandémicas, representa a circunstância que exige respostas criativas. Compete à cultura e à arte a função basilar, i.e. serem criadoras de uma perspetiva visionária, gerando e transformando os desejos dos que vivem a cidade através da vontade de querer pensar, aprender, colaborar e fazer.

Tal situação exige que se olhe para a arte coletiva experimental do nosso bairro com mais atenção, pois pode ser uma voz de liderança unificadora para a inteligência cívica criativa, um mecanismo de socialização, inclusão e promoção de um espírito crítico de cidadania ativa. Uma fonte mobilizadora de coprodução de conhecimento.

Os territórios criativos enraizados nas particularidades do local respondem às mudanças com práticas sociais e económicas alternativas. As micro intervenções artísticas temporárias (música independente, artes visuais e artes performativas) realizadas em espaços públicos ou privados, introduzem novos usos e estimulam  a respetiva valorização económica e social, que se pretende no médio e longo prazo.

O Bairro C é um exemplo da consciencialização das pessoas para a importância da criatividade, a utilização da arte pública como ferramenta de discussão do espaço público. A Rede ARTÉRIA, uma proposta inovadora de colaboração regional de uma radiografia das comunidades urbanas, fomenta a necessidade de circulação de informação e mobilização transformadora dos territórios meramente geográficos em comunidades relacionais.

Contudo, a questão de fundo que se coloca é como ampliar estas intervenções para que permitam à comunidade criativa local construir uma base sistemática e mensurável das contribuições da cultura com impacto global. Encarar a criatividade como algo transversal à economia e à sociedade, à vida urbana, é fundamental para o desenvolvimento resiliente que se quer atingir nos próximos 10  ou 30 anos.

Neste objetivo, o papel dos decisores políticos é determinante, e deve começar por escutar e ler a realidade nos bairros e nas ruas. Conscientes deste mapeamento, devem criar as condições para que o ADN da cultura dos ecossistemas locais na promoção de diversidade, tolerância e identidade seja um ativo urbano. O desenho de políticas públicas com ligação a lógicas de territorialidade mais profundas e endógenas, ou seja, com forte envolvimento e enraizamento na comunidade criativa local, assume que cultura e a criatividade contribuem transversalmente para os pilares da sustentabilidade.

Esta prioridade é ainda mais significativa quando o Conselho de Ministros de 15 de abril considerou a cultura como um dos eixos basilares do Plano de Recuperação e Resiliência. Um instrumento crucial, nos próximos anos, para responder aos desafios nacionais, viabilizando políticas ativas de reformas e modernização social e económica.

Que espaços tem no seu bairro para esta experimentação local? O potencial está todo lá, basta estar atento e contribuir.