O medo da morte é algo que tento combater desde cedo, sobretudo porque gosto de viver, gosto mesmo muito de viver, mas também porque lido mal com essa inevitabilidade. Não sou a única, bem sei, mas os últimos anos não têm ajudado a quem sofre deste mal.

A pandemia, inevitavelmente, aumentou este medo, em mim e na generalidade da população, mas o cancro, esse monstro silencioso e não menos pandémico tem atingido cada um de nós, de uma ou de outra forma. Já perdi algumas pessoas para o cancro, umas mais velhas, outras demasiado novas. Esta semana todos perdemos a Irina.

Nunca a conheci, mas torcia por ela, para que vencesse esta batalha e chegasse a velhinha como acreditava. Quando recebemos a notícia da morte da Irina todos deixámos de acreditar um pouco. É isso que acontece quando alguém que conhecemos de perto ou de longe morre de cancro, o medo volta e a esperança perde pavio.

O legado de Irina Fernandes foi maior do que ela e que a sua doença. Confesso que demorei algum tempo a entender a sua mensagem. Alguém com um diagnóstico tão fatal decidir que vai amar o cancro que a está a matar por dentro intrigou-me. Como se consegue amar algo que nos mata?

A Irina conseguiu e passou essa mensagem a quem a seguia. Sem medir palavras, gestos ou atitudes. Dali só vinha mesmo amor. O exercício é duro, mas deve ser isso mesmo, um exercício diário, interior. Amar mais, até aquilo que nos mata. Acho que foi isso que aprendi com a Irina.

O amor é sempre a cura, tem de ser e isso é o que temos todos de aprender. Obrigada Irina.