Na semana passada passou despercebida a presença e os comentários de Maria José  Morgado no programa “Governo Sombra”, da SIC.

Meia dúzia de comentários certeiros, para mais com bonomia e boa disposição, a traduzirem com realismo  o clima político, social e psicológico em que vivemos vai para  um ano. Pena foi que não lhe fosse possível explicar melhor e de forma mais desenvolvida algumas das reflexões ou avisos que deixou.

O que mais chamou a atenção foi o tom desencantado relativamente à actual situação de emergência que apelidou de “processo de emergência em curso”, sinónimo de suspensão de direitos, liberdade e garantias”. Um processo que tendo como pressuposto o “estado de calamidade”, é “mais difuso” e daí “mais problemático” porque “não tem princípio nem fim”.

A preocupação decorre do facto do Estado de Excepção, abundantemente teorizado sobretudo no contexto do terrorismo, ser o modelo em que a “diluição de fronteiras entre a Democracia e o Estado Totalitário “mais se evidencia.

É neste ambiente que o Estado – ou melhor, o “novo poder” que são as “autoridades sanitárias” – desenvolve  mecanismos de propaganda e encenação no sentido de alimentar um clima de “catástrofe”. A tal ponto que as pessoas deslocam o “ juízo do medo/risco” para um “juízo de realidade”. É a “encenação mediatizada do medo”.

Maria José Morgado constata o crescimento de um sentimento de intolerância em relação à vulnerabilidade da vida humana. E as pessoas “não querem aceitar os perigos”. Daí o “ambiente pesado” em que vivemos muito motivado por essa “patologia grave” que é a constatação de que a sociedade portuguesa se mostra “esmagada pelo desejo de segurança”.

Ora, esta realidade, pode deduzir-se do pensamento de Maria José Morgado, é obviamente facilitadora do abuso do poder, sobretudo porque este deixa de ser escrutinado na sua acção política, na medida em que decide com base em critérios supostamente “científicos”.

Uma  opinião seguramente controvertida e que se afasta do “mainstream” das opiniões publicadas nesta matéria. Mas a merecer a atenção e o debate que até agora não teve.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.