Por ocasião da XXI Mostra Regional da Banana que decorreu no mês de Julho no concelho da Ponta do Sol, importa refletir sobre o estado deste setor. A Madeira dada a sua orografia, possui uma mancha agrícola caracterizada por um regime de minifúndio, com pequenos “poios” distribuídos em socalcos. Apesar da orografia acidentada a ilha apresenta condições excecionais para a produção de frutos tropicais. Um dos mais produtivos em termos de quantidades é a banana, embora as explorações neste regime, dada a sua dimensão e orografia apresentem uma rentabilidade quase nula. Essa falta de rentabilidade prende-se pela utilização intensiva do fator mão-de-obra, ao contrário do regime de latifúndio que permite uma grande afetação do fator capital com a utilização eficiente de maquinaria agrícola. Estando ciente desta falta de rentabilidade a União Europeia (UE) começou a subsidiar a produção de banana da Madeira atribuindo uma compensação ao produtor por quilo de banana que cumpra os calibres definidos.
Em 2008 foi criada a Empresa de Gestão do Setor da Banana, Lda. (GESBA) uma empresa pública, para substituir as antigas cooperativas agrícolas, e que ficou com o monopólio do processamento e exportação da banana da Madeira. O facto de se ter tornado no único operador no mercado permitiu exercer uma manipulação de preços de acordo com os seus interesses. O pequeno produtor de banana acaba por ser o elo mais fraco desta cadeia de produção, ficando à mercê dos valores que o operador monopolista entender pagar. Em 2005 antes da existência da GESBA um pequeno produtor recebia 0,60 euros/kg de banana extra. Em 2022, anos depois da constituição da empresa o produtor recebe menos de 0,30 euros pelo mesmo quilo de banana extra. Decorreram 17 anos e os produtores recebem menos cerca de 30 cêntimos por quilo do que recebiam em 2005. Estes dados são comprovados por faturas dos produtores e pela rubrica “Custo das Mercadorias Vendidas e das Matérias Consumidas” dos relatórios de contas da GESBA.
É certo que o apoio comunitário por quilo de banana aumentou ao longo destes 17 anos, mas não deveria o produtor beneficiar efetivamente de um preço mais alto? Por outro lado, o preço da banana no mercado abastecedor da região de Lisboa aumentou para pouco mais do dobro entre 2004 e 2021 de acordo com dados do Sistema de Informação dos Mercados Agrícolas, mas o produtor recebe menos (líquido de subsídios).
Simultaneamente com a criação da GESBA, o governo regional aprovou legislação que impede os pequenos produtores de banana de se organizarem de forma livre e comercializarem o seu produto diretamente, a menos que tenham no mínimo 100 produtores e um volume de vendas mínimo de cinco milhões de euros. Estas restrições para além de serem desajustadas à realidade madeirense, atuam como bloqueio ao progresso do setor, favorecendo apenas o monopólio da empresa pública GESBA.
Será justo uma empresa pública aproveitar os apoios europeus, que se destinavam a remunerar o árduo trabalho dos pequenos produtores de banana, utilizando manobras contabilísticas para passar a pagar menos pela matéria-prima? Irão as instituições europeias ficar impávidas e serenas face a tamanha injustiça na distribuição de apoios comunitários aos agricultores?! Veremos!
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