1. O mundo real trouxe mais um desgosto ao Bloco de Esquerda. Os votos caíram para metade. O grupo parlamentar encolheu para cinco. A subvenção do Estado perdeu cerca de 65 mil euros/mês. São menos 3,1 milhões de euros nos próximos quatro anos. E como na economia não existem os milagres que os políticos da extrema-esquerda gostam de pedir aos patrões que façam acontecer nas respetivas empresas quando estas perdem clientes e faturação, vão ter de seguir a receita: emagrecer, reorganizar, reestruturar, otimizar, despedir.

Ou seja: há, no Bloco de Esquerda, instalações a fechar, pessoas a ficarem sem emprego. No fundo, aquilo que é normal em qualquer atividade na qual o produto deixa de interessar aos consumidores. Nesse aspeto, não conseguir passar ideias e arrecadar votos é tão perigoso quanto não conseguir vender chouriços ou peças de aeronáutica. Dá nisto.

2. O mundo, verdade seja dita, parece empenhado em desafiar a extrema-esquerda em geral e o Bloco de Esquerda em particular. Já assistimos ao ‘filme’ das mais-valias do prédio de Ricardo Robles. Seguimos o caso da ‘morada falsa’ da deputada Sandra Cunha (para receber um subsídio otimizado). Tivemos a questão das viagens pagas em duplicado a sete deputados (entre os quais estava José Paulino Ascenção, do BE).

Vimos, mais recentemente, queixas de violência doméstica a travarem um candidato autárquico a Vila Nova de Gaia. Agora mesmo, Mariana Mortágua já admite que infringiu o regime de exclusividade que tem no Parlamento. É a vida, com todos os seus defeitos, a abater-se sobre o partido das virtudes e alguns dos seus mais fervorosos sacerdotes. Uma chatice.

3. Mesmo a guerra decretada pela Rússia à Ucrânia, na qual agora o BE já condena a ação de Putin, trouxe esta consequência dos portugueses, como todos os europeus de bom senso, olharem para a NATO com outros olhos. Provavelmente, a União Europeia, que os bloquistas desejariam exterminar e, de caminho, acabar com o euro, também faça agora mais sentido e ganhe outro fôlego. Novos anos de luta pela frente. Outro aborrecimento.

4. O problema da hipocrisia na mensagem política paga-se desta maneira: chega sempre o momento em que a sorte acaba. Sobretudo, quando se prega a moral como produto com região demarcada, um dia o diabo aparece no caminho. O problema, para o BE, é que parece terem aparecido vários e ao mesmo tempo. Veja-se o erro político de terminar com a geringonça permitindo a maioria absoluta ao PS e este vendaval no número de deputados, com a consequente redução das subvenções do Estado que agora traz a crise financeira ao partido.

Mas fica a principal lição: o BE, que exige às empresas que inventem dinheiro quando ele não existe, afinal sabe comportar-se como uma empresa e percebe que quando não há dinheiro tem de se mexer nos fundamentos do negócio. O do BE não parece estar a correr pelo melhor. E permitam-me o desabafo: ainda bem para Portugal.