Pela primeira vez na história, os smartphones dominam o tempo gasto pelos consumidores nos Estados Unidos da América em relação à televisão. Não sendo surpresa, o estudo recente da eMarketeer valida um ponto de viragem no consumo de media.

Apesar da crescente discussão sobre a necessidade de equilíbrio no tempo passado em dispositivos móveis, com empresas como a Google e a Apple a introduzir controlo de tempo de ecrã, o comportamento do consumidor ainda não reflete inteiramente esta preocupação. Sendo cada vez mais rápidas, as mudanças exigem sempre um tempo de maturação.

Quando a TV foi introduzida, houve certamente quem tivesse declarado preferir a rádio. Poderá ter dito que tinha imagens mais bonitas. Como? Afinal, a imaginação visual do ouvinte preenche a linguagem e, nesse campo, não existem limites. Talvez por isso seja tão comum preferir um livro à sua adaptação a cinema. O que é imaginado tende a ser mais extraordinário, quando temos a capacidade de sonhar mais alto.

Isto leva-nos ao mito de Ícaro. Preso, constrói um par de asas para poder voar por cima do labirinto. Dédalo avisa-o de que não deve voar demasiado alto ou o sol derreterá as asas. Mas o pai avisa-o também que será perigoso voar demasiado baixo.

Seth Godin, guru do Marketing, escreveu um livro a partir deste mito. Defende a arte como o caminho de sucesso na nova economia. E a arte não é apenas a música, o teatro ou a pintura. Pode, por exemplo, ser uma folha de cálculo que traz algo de novo.

A pergunta é: há maior risco do que não correr riscos?

Na era industrial, época da produção em série, tudo se resumia a segurança. O processo garantia produtividade e lucro. Alterá-lo seria uma insensatez.

Mas hoje a equação mudou. Será melhor pedir desculpa por um erro do que não sair da cerca segura. O crescimento vem da força das novas ligações que se criam a uma velocidade estonteante. Então a vulnerabilidade e imprevisibilidade assumem papéis essenciais. E o erro, claro. As marcas que o encaram com coragem, investindo continuamente em inovação, têm o poder de se distinguir das concorrentes e um maior potencial de negócio. Por vezes, mais vale largar o pássaro que impede a mão de experimentar a mudança.

No ranking das 50 empresas mais inovadoras deste ano que impactam a indústria e a cultura, a revista Fast Company – dedicada a explorar temas de tecnologia e informação – destaca a empresa Domino’s.

A rede de pizzarias, em 2018, registou mais de 60% das vendas nos Estados Unidos da América via pedidos digitais, alcançando o trigésimo trimestre consecutivo de crescimento. Entre várias ações, foi pedido para os clientes indicarem os buracos encontrados na rua para a própria Domino’s poder asfaltá-los e, dessa forma, cumprir a sua missão: entregar pizzas o mais rapidamente possível. Uma ideia que poderia parecer demasiado ousada tornou-se numa campanha com resultados à altura.

Só arriscando, falhando e melhorando pode haver um salto tão disruptivo como o que permitiu que o smartphone superasse a televisão. E hoje temos um na palma da mão que nos conecta a um mundo de possibilidades. Como vamos aproveitar o que de mais valioso tem?