1. Em Espanha temos manifestações violentas, reprimidas de forma igualmente violenta, e na base de tudo está um rapper condenado por terrorismo, mas aquilo que sobressai é a punição da monarquia. São elementos completamente marginais do espetro político espanhol e que exprimem raiva. A ironia do destino? É um governo Podemos que “malha” neles.

Em França houve o movimento dos “coletes amarelos”, também ele violento, e alguns elementos subversivos foram denegrindo a imagem daquilo que pretendia ser um movimento de contestação legítimo e democrático.

Portugal tem sido diferente e enviámos esses genes para o Parlamento, onde uma deputada exige uma espécie de repintura do respetivo Salão Nobre, e um deputado defende a demolição do Padrão dos Descobrimentos, enquanto parece sanado o diferendo que envolve peticionários e edilidade de Lisboa devido aos brasões em Belém. Tudo em nome do apagamento do passado!

Isto não passa de hipocrisia e significa que todos estes cidadãos ainda não perceberam o que é a História, os factos históricos e o desenvolvimento. É caricato quando alguém não percebe que o edifício do Mosteiro de S. Bento (parlamento) sofreu um grave incêndio no final do século XIX e que foi um plano da república democrática dos anos 20 do século passado que permitiu a reabilitação das pinturas que deveriam ser destruídas. Aliás, só falta declarar que foi a esquerda que construiu o império colonial.

E sobre o império e a guerra colonial é desnecessário reconstruir a narrativa, pois ela não começou em 1961, porque sempre tivemos guerras coloniais e aquilo que nos lembramos é de 1848, segundo o historiador francês René Pélissier, citado pelo politólogo José Maltez, e que, sendo pouco ou nada salazarista, fez o inventário completo dos conflitos no ultramar português.

Mais. Não nos podemos esquecer do modelo de colonizador com que os portugueses são rotulados e que não é mais do que a metodologia universitária anglo-saxónica, i.e., dos ingleses, os tais que impediram o império de anexar territórios africanos entre Angola e Moçambique. Enfim, estórias da História.

Claro que a Nação não pode negar que foi imperialista e racista, mas é preciso estudar em que condições o fomos. Não vale a pena impor um rótulo aos países do sul da Europa, Portugal, Espanha e em certa medida França, com base numa leitura anglo-saxónica. E também não vale a pena apelar ao sentido patriótico nacional. Os portugueses, quando confrontados com esses temas, têm uma resposta caótica mas claramente querem continuar a ser Portugal.

E, já agora, para quem não gosta da música e da letra do hino é melhor propor uma revisão constitucional e colocar as hipotéticas alterações num referendo. Possivelmente ficará admirado quando a maioria se expressar a favor de manter os mitos fundacionais. Temos um hino que nos diz que perante a humilhação e a ofensa temos de nos levantar de novo. É um hino de resistentes, não de ocupantes.

2. Março é um mês fatídico para quem solicitou moratórias privadas aos bancos e não conseguiu retomar a vida normal. Vão regressar as obrigações de pagamento mensais. A única recomendação possível é que negoceiem com os bancos, não deixem a situação cair caos.