O hospital moderno é fruto da diferenciação e do desenvolvimento tecnológico da segunda metade do século XX. Ao longo dos últimos 70 anos, estas novas catedrais deram uma nova centralidade às nossas vidas: nascemos, vivemos e morremos no hospital. O hospital mudou e prolongou as nossas vidas.

As necessidades de hoje são bem diferentes das observadas no passado recente. O envelhecimento populacional e a multimorbilidade, o aumento das expectativas dos cidadãos, a restrição fiscal num contexto de baixo crescimento económico, a emergência e reemergência de doenças infecciosas, ou mesmo a sociedade digital colocam novos e importantes desafios a um sistema de saúde estruturalmente rígido e fragmentado. Um sistema que se tem demonstrado incapaz para promover a saúde e prevenir a doença, eliminar a variabilidade e iniquidade no acesso, e para prestar cuidados integrados e centrados nas necessidades das pessoas. A pandemia não eliminou nenhum desafio, pelo contrário, criou outros. Porventura, permitiu perceber ser possível mudar num contexto adverso.

Face à dimensão dos desafios apresentados podemos escolher um dos caminhos: ignorar a necessidade de mudança ou preparar a transformação. Ainda muitos insistem nas soluções do passado, prometendo mais orçamento, hospitais ou médicos, sem compreender que o modelo atual se aproxima da caducidade.

A burocracia profissional, o administrativismo, ou o gerencialismo mais basista, limitam a necessidade de mudança e de envolvimento de doentes e profissionais. Os dois primeiros resistem à mudança e perpetuam o statu quo. O último desconsidera o valor dos profissionais, e as necessidades individuais dos doentes e das suas famílias. Uns digladiam-se pela sua autonomia técnica, outros vivem do rigor processual e da gestão do pica-ponto, outros do volume de cuidados e dos índices de conversão cirúrgica.

O futuro da saúde ganha-se com uma nova gestão, focada na prevenção e na saúde de base populacional, nos resultados e não no volume, em cuidados integrados e coerentes, em hospitais sustentáveis, flexíveis e sem muros, na medicina personalizada e potencialidades do big data, da genómica e da inteligência artificial. Principalmente, para um país periférico como o nosso, o sucesso do setor e da gestão em saúde passa pela aposta na promoção da investigação & desenvolvimento & inovação para a criação de saúde, emprego e riqueza.

A distância entre as competências daqueles que atualmente exercem funções de gestão e as competências necessárias para a transformação do setor é crescente. Moldar o ambiente de saúde e fazer a transição com sucesso, exige coragem de todos os atores, assumindo diferentes formas à medida que exploram modelos de negócios e operacionais que vão muito além dos produtos, tecnologias ou serviços tradicionais.

Aos líderes exige-se coragem para assumir uma nova visão e a difusão de uma nova metáfora: preparar o novo mundo da saúde.