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O outro lado do Vaticano: Orçamento para 2022 tenta reduzir défice em 21,4%

Com os donativos a caírem mais de 15%, a ordem é diminuir as despesas – estratégia de gestão que já vinha do ano anterior. O orçamento é de 800 milhões de euros. Entretanto, o Vaticano vendeu um prédio em Londres, um dos piores negócios da sua história recente.
28 Janeiro 2022, 17h50

A Secretaria da Economia da Santa Sé apresentou esta sexta-feira o Orçamento para 2022, que prevê um défice de 33 milhões de euros – uma forte diminuição de cerca de 21,4% face ao défice de 2021, que atingiu os 42 milhões – e insiste no compromisso de “uma maior transparência e controlo rigoroso dos seus recursos”.

O documento enviado aos jornais é acompanhado por uma entrevista ao padre Juan Antonio Guerrero Alves, prefeito da Secretaria da Economia, que destaca a “contenção de despesas”, em quatro milhões de euros, “sem reduzir a caridade do Papa, pelo contrário, aumentando-a”.

Em 2021, o défice projetado era de 42 milhões de euros, tendo sido registada uma diminuição de cerca de 15% no chamado ‘Óbolo de São Pedro’, os donativos de instituições e de católicos de todo o mundo para a atividade do Papa e da Santa Sé.

Uma das notas destacadas no novo documento é o aumento das instituições presentes no orçamento, mais 30 em relação ao último ano, elevando para 90 as entidades envolvidas – dependentes da Cúria Romana, propriedade da Santa Sé ou sob a sua responsabilidade.

Entre elas estão, pela primeira vez, o Hospital Pediátrico Bambino Gesù, as quatro Basílicas Pontifícias de Roma e os santuários de Loreto, Pompeia e Pádua. Com este alargamento, o orçamento previsto para 2022 chega aos 800 milhões de euros – que talvez compare com os 300 milhões do ano passado, mas este valor não é oficial, ao contrário do que sucede com o deste ano.

O padre Juan Antonio Guerrero Alves assume como objetivo “ajudar a economia da Santa Sé a satisfazer as suas necessidades, cuidando para que a atividade económica não se distancie ou tire credibilidade à missão de ajudar a unidade na caridade e à missão evangelizadora da Igreja”.

“Creio que os dicastérios [departamentos do governo da Igreja Católica que compõem a Cúria Romana] estão cientes da situação económica e reduzem as suas despesas o máximo possível, mas às vezes pedimos que as reduzam ainda mais. É claro que há um limite para a redução, a missão deve ser cumprida. Em geral, isso é feito com muito sacrifício pessoal por parte de muitos”, afirma.

O colaborador do Papa assume que a pandemia teve um impacto negativo nas contas da Santa Sé e aponta à necessidade de “um plano para aumentar a receita”.

Guerrero, jesuíta espanhol, invoca “disciplina, mas também mais transparência e economia” nos procedimentos económicos do Estado. “O tempo de fazer negócios individualmente e sem prestar contas acabou. Hoje, acima de um certo montante, é necessário dar uma explicação detalhada da operação para obter a autorização, bem como seguir os procedimentos para os contratos”, precisa.

Ora, no mesmo dia em que deu a conhecer o orçamento para o exercício em curso, o Vaticano também relevou que assinou um contrato para vender um edifício de luxo em Londres, que está no centro de um julgamento por fraude e peculato que corre no tribunal criminal do Vaticano. A Secretaria de Guerrero revelou que recebeu 10% do valor da venda, que deve ser concluída em junho, mas não adiantou qual é esse valor. Mas a disse que a perda gerada pela compra do prédio de Londres já foi sido contabilizada nos balanços da Santa Sé.

A compra do prédio pelo Vaticano em 2012, localizado no bairro de Chelsea, foi uma das marcas mais negras nas finanças do Vaticano nos últimos anos. A Secretaria de Estado deu cerca de 350 milhões de euros pelo edifício, quando o seu proprietário anterior o tinha comprado por 155 milhões, menos da metade do valor investido.

Para além do golpe financeiro, o ruinoso negócio foi também um golpe na reputação do Vaticano, já que grande parte do financiamento para o investimento original em Londres veio das doações dos fiéis que se destinam às obras de caridade do Papa e à manutenção da Santa Sé.

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