Os próximos tempos colocarão à prova o modelo europeu e a recente convergência europeia para enfrentar os desafios económicos provocados pela COVID-19. Não será tarefa fácil, dada a encruzilhada europeia que queria reformar as instituições, os orçamentos dos fundos estruturais e avançar para um novo modelo pós-Brexit assente numa outra lógica contributiva e reformista.

No que diz respeito a Portugal,  se por um lado temos a garantia sólida dos apoios financeiros da União Europeia (UE), receia-se se chegarão efectivamente a tempo ao nosso país e se a letargia do costume, do governo PS, na reacção aos eventos adversos não se propagará aos mecanismos europeus de apoio financeiro já referidos. De nada servirão os fundos europeus, se já nada houver para salvar. A questão do tempo passou a ser primordial. Há que agilizar a organização e disponibilização dos fundos e não augura nada de bom se os mesmos saírem da esfera de controlo do Ministério das Finanças. Seria útil o governo nomear alguém com perfil e peso político, em articulação com o gabinete do primeiro-ministro,  para gerir os fundos e confrontar alguns ministérios, se assim tiver que ser, tendo em mente a rapidez da disponibilização à sociedade dos mesmos.

O surgimento da pandemia dos nossos tempos interrompeu todas as reformas que estavam projectadas pela UE, nomeadamente a competitividade da economia e a reorganização dos fundos estruturais, abrindo a porta a orçamentos rectificativos e a algum laxismo financeiro, agora perfeitamente compreensível face à incerteza económica dos tempos que vivemos. Os efeitos gravíssimos na economia que todos temos consciência e que decorrem actualmente, vão sendo progressivamente sentidos por todos os europeus e, naturalmente, com maior impacto nas economias mais frágeis e dependentes, como a nossa.

O impacto económico da pandemia foi inicialmente subestimado, mas cerca de sete meses após a pandemia ter chegado à Europa, se as respostas financeiras são substanciais, o que tranquiliza os governos e os europeus, cria a angústia da demora na resposta.

Há um país “dos outros”, das empresas que sentem uma quebra brutal de facturação, dos empresários que desesperam, dos profissionais liberais que perderam os rendimentos e estão sem trabalho, ou de muitos e muitos portugueses que viram de repente a sua vida virada do avesso com uma diminuição de rendimentos sem precedentes. São aqueles portugueses que estão sem apoios, esquecidos e já quase à beira do precipício, que constituem “os outros”.

A resposta atempada à disponibilização dos fundos será a prioridade política nacional que se segue. O governo minoritário PS, com o apoio parlamentar da Esquerda, tem essa responsabilidade. Oxalá não falhem desta vez.

O autor escreve de acordo com o Antigo Acordo Ortográfico