“Diz-me e esquecerei – ouço, esqueço; ensina-me e lembrar-me-ei – vejo, lembro; envolve-me e aprenderei – faço, aprendo” Confúcio.

Começo por referir que sustento esta minha reflexão nas aulas académicas de Didática, que obtive há uns anos no Curso de Habilitações Pedagógicas Complementares. Como que uma atualização, pois o que ali fora doutrinado continua tão verdade. Por vezes, esquecemo-nos disso ou o não temos tão presente…

A educação é criação. Nós ajudamos os pais a criar os seus filhos. A criação é Presente e não Pretérito Perfeito; é um ato, é uma ação contínua, é uma convergência. Neste processo, quanto mais valiosas são as metas, mais árduos são os caminhos. E não há perfeição sem esforço. Tudo o que tem valor custa, porque tem valor. E os valores morais também custam. Ninguém nos pode tirar aquilo que ninguém nos deu ou nos dá, aquilo que é inerente e que faz parte do nosso ser.

Há aqui, portanto, uma estreita correlação entre: Perfeição/Esforço/Perseverança. Quantas vezes o Professor sofre uma senda amarga atravessada por determinados alunos, ao não perceberem esta trilogia neles incutida (não passando duma tentativa, dum vislumbre) e dificultarem-na muito na causa docente implementada para o efeito…

Nesta criação surge um passo crucial: a ‘relação’ (aumentativo de laço), esse laço grande, um “lação” estabelecido entre duas ou mais pessoas para ligar e unir. Daí o prefixo re, com a intenção de repetir/reforçar um grande laço. Ora, nós temos sobre os outros o poder que eles nos dão. Para Gregório Nazianzo, a pedagogia era “a arte das artes” e está em criarmos atividades facilitadoras da(s) aprendizagem(ns).

Essa difícil arte faz com que se evita que “o que depressa se adquire depressa se perde”: tudo tem o seu tempo e não se pode começar pelo fim, ou melhor, chegar ao fim sem ter passado pelo início e seu meio. Pois o caminho faz-se caminhando.

Ser Professor não é um complemento, é um predicativo do sujeito. O ser é “ser com” e é “ser para”. O dar-se bem é dar muito. É uma graça grande, fruto da gratuidade. Alguém pode ter muito mas pode estar ou viver em desgraça, por não se dar com o outro, com o seu próximo, com a sua cara-metade. A graça é dar-se. Este sopro recebido, nunca descabido nem falido, continua. E, jamais vencido, tem de continuar a ser expelido! Já que a vida como dom é o organizador da vida por excelência.

Uma das coisas que mais queremos na vida é darmo-nos bem. Este bem implica muito bem: qualidade com intensidade. É o dar-me (pessoal e reflexo). O ideal é gostar dos alunos e o ideal tem dois sentidos: de atrair e de orientar. Muito do que fica nos nossos alunos não é o que ensinamos, mas o que somos. Os alunos – como nossa «matéria-prima» – são inteligentes, livres e sensíveis.

O perfil do professor reduziu-se muito a um perfil disciplinar e instrutor. “Estou a dar aulas” é uma visão redutora, porque reduz a profissão a uma tarefa e ela tem muitas tarefas. A nossa obra-prima é o bom aluno, mas ele não é matéria, não é moldável: é, pelo contrário, sujeito. A profissão implica uma postura ética.

O que é a Escola, como realidade humana e terrestre? A Escola forma um tempo e um lugar de educação integral, mediante a transmissão/assimilação sistemática, crítica, histórica, dinâmica, livre, gradual e dialógica da cultura. Subjacente a estes adjetivos todos está a pedagogia da descoberta e da caminhada, de que o aluno é o próprio sujeito da sua vocação.

Esta é (deve ser) a cultura da vida professoral: a cultura é tradição e cultivar é educação. O mesmo sucede com o ‘respeitar’ (re + sppectare), que é reolhar, ser atencioso. Logo, a ‘cultura’ tem a ver com ‘culto’ e também com ‘cultivo’ (de humanidade que guarda, dispõe e transmite). Soleniza-se com ritos, através dos valores. A cultura sem culto não ganha profundidade. Assim sendo – nos dias correntes e carentes, sem correias e nem sempre coerentes  o desafio maior de ser Professor mantém-se (mesmo nas dificuldades) e sustém-se neste ideal: “Valoriza-te para servir, porque pior de tudo é não ser prestável – não prestar – e não ser útil – ser inútil”.