A 8 de Março de 1971, na base aérea de Tantos, 28 helicópteros e aviões militares desapareceram no meio do fogo. A reacção do regime foi a de sempre: não aconteceu nada. Os jornais, onde funcionava a censura prévia, noticiaram pouco e mal: tudo não tinha passado de um acidente sem grandes estragos.
Mesmo depois da Revolução de 1974 a questão de Tancos manteve-se numa espécie de limbo sem grandes explicações. Só muito mais tarde veio a saber-se porquê: a operação militar, ou para-militar, tinha sido levada a efeito por um grupo armado que tinha surgido no interior do Partido Comunista Português (PCP). Os comunistas nunca gostaram de ver os seus arquivos vasculhados por estranhos e, por isso, as notícias sobre a matéria eram muito poucas ou mesmo nenhumas.
Só quando no ano de 2000 o mais importante operacional de uma chamada Acção Revolucionária Armada (ARA), Raimundo Narciso, decidiu contar a história do grupo é que ficou a saber-se que tinha sido ele, entretanto eleito deputado, a organizar, como um dos operacionais, o ataque aos veículos imobilizados em Tancos. Ficou assim a saber-se (ou é essa, pelo menos, a verdade de Raimundo narciso) que Álvaro Cunhal resistiu até ao limite a dar o seu acordo à criação de um grupo armado no interior do PCP – e que só o fez porque outros grupos (como o PRP-BR) já estavam no terreno.
O PCP estava convencido que a luta contra o regime devia ter por base a sublevação das massas trabalhadoras e que a luta violenta não tinha cabimento em Portugal. Mas o arrastar do regime – nomeadamente no que tinha a ver com a guerra colonial – modificou as coisas: a acção armada, o mais possível cirúrgica para não criar mortes desnecessárias, pareceu poder apressar o fim da agonia.
Raimundo Narciso foi membro do Comité Central do PCP entre 1972 e 1988. Acabou por sair do partido e de ser um dos fundadores da Plataforma de Esquerda. Mais tarde acabou por ser deputado do Partido Socialista, como independente, entre 1995 e 1999. A ARA esteve activa entre 1971 e 1973 e, para além da acção em Tancos, concluiu outras operações de envergadura. A sabotagem do navio Cunene, o rebentamento de uma bomba no Centro Cultura Americano, ou a sabotagem do quartel general da NATO em Lisboa foram algumas das mais inesperadas.