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O “projeto impossível” de Joana Vasconcelos já é realidade

Um templo do amor que é um bolo de noiva em cerâmica. Eis a obra-devaneio de Joana Vasconcelos, agora aninhada num recanto da propriedade dos Rothschild, em Weddesdon Manor, Inglaterra.
9 Junho 2023, 13h30

Nos jardins ingleses tudo pode acontecer. E se, quando menos se espera, Alice atravessa o espelho para entrar num mundo fantástico e fantasioso, também nos jardins de Weddesdon Manor poderemos entrar num universo paralelo, a escultura-edifício “mágica, física e espiritual” que Joana Vasconcelos concebeu para a propriedade dos Rothschild, a cerca de uma hora de Londres.

“Bolo de Noiva” assim se chama esta escultura revestida por mais de 15.000 azulejos, por dentro e por fora, com quatro camadas, ou seja, quatro andares, cujo glacé apetece provar. Feito inteiramente em Portugal com materiais nacionais, esta obra-devaneio deve muito do seu encanto não só à imaginação da artista portuguesa, mas também às peças vidradas à mão – mais de mil –, produzidas pela fábrica Viúva Lamego.

Este “projeto impossível”, como refere Joana Vasconcelos, começou a ser pensado há seis anos e sua construção desenvolveu-se no último ano para dar forma a um “templo do amor”, que combina a pastelaria e a arquitetura. “Tenho abordado o tema do amor ao longo da minha carreira há quase 30 anos, mas este é o meu maior desafio até à data. Muitos artistas têm o seu ‘projeto impossível’ e este é o meu. Uma obra desta envergadura só se tornaria possível com a visão e o incentivo de um mecenas extraordinário e generoso. O Lorde Rothschild viu o seu potencial onírico, acreditou na minha equipa e deu-nos os meios para o concretizar. Um cruzamento entre pastelaria e arquitetura, a obra de arte só estará completa quando duas pessoas se encontrarem no topo do Bolo de Noiva. Que é, acima de tudo, um templo ao amor”, lê-se no comunicado de imprensa.

Inspirado nos exuberantes edifícios barrocos e nas tradições cerâmicas altamente decorativas de Lisboa, o “Bolo de Noiva” de Joana Vasconcelos é, também, uma resposta contemporânea à tradição Rothschild de hospitalidade, bem ilustrada nos pavilhões de jardim do século XVIII. E se é verdade que o projeto mais ambicioso da artista portuguesa até à data, celebra a festa do casamento, com uma forte componente interativa, ironia e humor, também coloca em evidência a sua capacidade de diálogo com o espaço envolvente, entrosando a sua criatividade “com a paixão que levou o Barão Ferdinand, o criador de Waddesdon, a construir este espaço, onde queria que os seus muitos amigos se surpreendessem e se deliciassem a cada esquina. Tenho a certeza de que o «Bolo de Noiva» terá um enorme impacto nos nossos visitantes e convidados”, realça Lorde Rothschild, antes de recordar que a obra de Joana Vasconcelos “já está representada em Waddesdon de forma magnífica através dos castiçais gigantes «Lafite»”, lê-se em comunicado.

Estão previstas visitas guiadas aoBolo de Noiva”, para que os visitantes possam explorar o seu interior e desfrutar de vistas panorâmicas sobre os jardins, assim como descobrir a impressionante coleção de escultura contemporânea no Water Garden do Dairy. As visitas vão decorrer até 26 de outubro, sempre às quintas-feiras e nalguns domingos. Os bilhetes devem ser previamente marcados através do site de Waddesdon Manor e apresentados à entrada.

À laia de “aperitivo”, deixamos aqui a receita do “Bolo de Noiva”, que o Atelier Joana Vasconcelos partilha com todos os curiosos, visitantes e interessados na sua obra.

Ingredientes:

Uma ideia poderosa que envolve 1 colecionador visionário, 2 equipas internacionais, 1 pitada de especialistas, 3500 peças de metal, 21.815kg de folha de metal, cerca de 25.000 azulejos Viúva Lamego e mais de 1.200 peças de cerâmica Viúva Lamego; ornamentos vários – como sereias, golfinhos, velas, globos, Santo António, anjos, etc. –, luzes de exterior e interior; cerca de 3.000 metros de fibra ótica ; um sistema de água; suor, esforço e esperança em abundância.

Preparação:
Misturar tudo com quantidades generosas de criatividade e paciência. Dividir por painéis diferentes. Erguer quatro camadas até atingir os 12 metros de altura. Guarnecer em Waddesdon. Servir com amor.

 

As fotografias foram cedidas pelo Atelier Joana Vasconcelos, que conta com a colaboração de Lionel Balteiro / LaMousse.

 

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