Como sabemos, o revisionismo histórico anda à solta. Organizações subsidiadas com dinheiros públicos, revolucionários da palavra, militantes de causas fraturantes e outros habituais convivas de restauração criaram uma frente unida contra a História de Portugal. Das cruzadas ao colonialismo, passando pelo chamado Estado Novo, nada tem deixado de ser escrutinado à lupa, de modo a termos uma certeza: somos descendentes dos maiores, senão os únicos, criminosos à face da Terra. Se ainda não desenterrámos Salazar foi apenas porque o provinciano ditador nacional, ao contrário de Franco, em Espanha, foi avisado em preferir a campa rasa num cemitério da terra de origem.

Encontro os gritos de terror destas almas puras um pouco por todo o lado, mesmo que tenha deixado de ser cliente de plataformas em vias de extinção, nas quais, dizem-me, elas serão particularmente ativas.

Desta vez, no entanto, confesso, fui eu quem foi à procura delas.

Tive um motivo: a recente recusa do Parlamento nacional em se associar à resolução do Parlamento europeu que condenou de forma inequívoca, e por igual, os crimes de fascismo e comunismo. E, ingenuidade minha, esperava ver esta gente escandalizada com a situação, na qual o PS se comportou com o talento de um contorcionista de circo de aldeia.

Creio que devo esperar sentado.

Com certeza assoberbadas pelo trabalho, das tais almas nem um pio! Encontrei um ou outro embaixador da coisa, sem muito que fazer, a sacudir tuítes do capote mas, de resto, nada a assinalar. A malta, quando o assunto lhe mexe na avença, vai de férias e fará muito bem.

E no entanto o caso é escandaloso.

Em pleno século XXI, o Parlamento de um país europeu, aparentemente civilizado e crente da Democracia, ainda não consegue olhar substantivamente para a História e reconhecer o óbvio: que, naquilo que diz respeito a vidas humanas, o comunismo foi exactamente igual ao fascismo. Dizem alguns reputados historiadores que, neste campo, terá sido ainda pior. Comparando apenas os dois mais óbvios criminosos, Hitler e Estaline, o primeiro ‘só’ atormentou a Humanidade por seis anos enquanto o soviético andou mais de três décadas a perseguir e matar os seus opositores internos numa escala nunca antes vista à face da Terra.

Não vou trazer aqui esse campeonato dos mortos. A coisa está nos livros, tem declinações intermináveis no Google – está, pois, ao alcance de qualquer pessoa que queira mesmo saber.

O que me interessa assinalar, para além da hipocrisia das almas, é o comportamento do PS nesta questão, pois tanto o PCP como o Bloco de Esquerda não possuem capacidade de me surpreender quanto à visão do mundo. As seitas, como as religiões, têm ritos próprios, todos o sabemos. Já a posição do PS foi indigna de um partido com as suas responsabilidades e o legado de muitos dos fundadores: inviabilizou textos à esquerda e à direita para aprovar, salomonicamente, um outro que não lhe estraga a possibilidade de continuar a ‘geringonçar’. As necessidades comezinhas bem acima da verdade histórica! Palavras bonitas, de condenação de “todos os totalitarismos”, que evitaram a associação à resolução do Parlamento Europeu, de 19 de setembro, na qual os seus deputados já na altura se dividiram em votos vários.

A Liberdade tem dias. Portugal também. E lá vamos andando.