O Reino Unido prepara-se para – pela primeira vez na sua história – comemorar o quarto jubileu de um soberano. Durante quatro dias decorrerão as festividades do 70º aniversário da aclamação de Isabel II, iniciadas no dia 2 de Junho, data da sua coroação em 1953, homenageando o longo percurso de serviço público da vetusta monarca.

O reinado de Isabel II não é apenas notável pela sua longevidade. A rainha, que cresceu numa sociedade conservadora que venerava a Monarquia e o Império e observava os preceitos da igreja anglicana, foi confrontada com um mundo em mudança profunda que abalou todos os valores que lhe haviam sido transmitidos por uma educação vitoriana, valores que lhe cabia por dever dinástico representar e defender.

O fim do Império, “uma fé e ao mesmo tempo um negócio” como o descrevia Lytton Strachey, biógrafo da rainha Vitória, a secularização da sociedade, que enfraqueceu os vínculos espirituais com a Coroa, simultaneamente governadora da Igreja nacional, a afirmação da igualdade como desiderato prevalecente da sociedade do pós-guerra, que colidia com a rígida hierarquia, transmitida por herança, a que a monarquia devia a sua legitimidade, assim como a cultura de contestação de instituições sociais tradicionais, como a família, que a Monarquia representa, constituíram desafios de monta para a soberana.

Ainda assim, Isabel II conseguiu manter o prestígio da instituição que lhe coube chefiar e mantê-la como uma referência para a grande maioria dos britânicos. Mesmo que algumas das adaptações que foi operando lhe fossem pessoalmente desagradáveis ou de difícil compreensão, procedeu de acordo com os ditames do tempo, sem as comprometer com a revelação dos seus estados de alma. E fê-lo através do exemplo, da sua integridade pessoal e institucional, pois uma sociedade em intensa mutação precisa de marcos, de exemplos éticos, que atenuem os efeitos desagregadores que a mudança sempre acarreta.

Como refere uma das suas biógrafas, Sarah Bradford, “Isabel representa valores que a maioria das pessoas continuam a reconhecer, mesmo que não os pratiquem ou a eles aspirem – coragem, decência e sentido do dever”.

No ocaso do seu reinado, a Monarquia confronta-se com novas provas: além das recentes crises familiares, que recomendarão uma redefinição da Família Real, a decisão da maioria dos seus súbditos de se desvincularem do projecto europeu, optando por seguir o seu caminho desacompanhados dos seus outrora parceiros e o consequente aumento das tensões secessionistas nos seus reinos, a que se junta a crescente contestação, muito em voga, do passado colonial britânico, recentemente expressa em territórios longínquos que têm Isabel II como soberana, constituem potenciais focos de crise a que a instituição terá que responder.

Cabe às gerações vindouras encontrar respostas para os novos problemas. Para estes e para outros que sobrevirão. Basta que sigam o exemplo da actual soberana, que, como qualquer bom exemplo, deve sempre ser seguido.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.