Deambular pela Covilhã e pela Guarda, neste belo interior longínquo – a menos de 100 quilómetros do litoral –, é sentir um novo cosmopolitismo, um encontro permanente de culturas diversas, um entrelaço de mulheres, homens e pessoas de tantos géneros, que viver aqui é cada vez mais viver no centro de uma área metropolitana emergente: a da Beira Interior.
Nesta Beira onde se cruzam covilhanenses, guardenses, claro está, e tantas/os outros portugueses em alegre convivência com angolanas/os, moçambicanas/os, são tomenses, cabo verdianas/os, guineenses e outras e outras pessoas das mais variadas proveniências.
Nesta semana em que celebrámos o Dia de África, 25 de maio, observei com especial atenção e tempo as minhas/meus alunas/os dos mais diversos países do imenso, intenso, vibrante e colorido continente africano. E conversei com o Luís, guineense a estudar no interior, que, com a voz embargada, lembrou que a memória mais feliz desde que chegou a Portugal foi a primeira festa de aniversário que os “colegas-irmãos” são tomenses lhe fizeram de surpresa a 13 de agosto último.
Nesta roda de conversas sobre memórias e África no interior de Portugal, a Nay, são tomense, guardiã de sonhos, sorrisos e solidariedades, partilhou o apoio que recebeu da Mariana, uma portuguesa que se tornou amiga. E olhá-las a entreolharem-se com lágrimas de alegria marcou a minha semana. Aquelas duas mulheres, de culturas diferentes, com aspirações porventura distintas, tornaram-se, aos meus olhos, em duas grandes mulheres porque se enriqueceram intelectual e emocionalmente em conjunto.
Nesta roda de conversa estavam também o Hermínio, a Edvânia, o Idalécio e tantos outros colegas que, em comum, têm a vontade de concluir a licenciatura, o sonho de trabalhar na área de formação (comunicação, no caso) e o objetivo de ajudar a família. Este grupo, que se entreligava com a restante turma num laço emocional raro de se testemunhar.
Após esta observação dei por mim a pensar que celebrar a vinda de milhares de estudantes de países africanos para a Covilhã e para a Guarda é celebrar um novo cosmopolitismo interior, uma nova alegria e uma nova esperança para um interior construído por um conjunto histórico de colonizadores e herdeiros do colonialismo.
Celebrar África no interior de Portugal é celebrar o repovoamento deste pedaço enorme de país assimétrico por português falantes, que pintam a região de tantas cores quanto as cores da própria região.
Região da Beira que é interior, repovoada cultural e formalmente pelo Luís, pela Nay, pelo Idalécio, pelo Hermínio, pela Edvânia, e por mais e mais pessoas que aqui procuram conhecimento, perspetivas de futuro e a concretização de sonhos tão importantes quanto os sonhos de todas/os as/os colegas que, de outras proveniências, celebram a amizade e os laços que só uma cidade mais tranquila permite atar.
A todas/os as/os minhas/meus alunas/os de Cabo Verde, da Guiné-Bissau, de São Tomé e Príncipe, Moçambique ou Angola, aqui fica o meu agradecimento público por tornarem a minha profissão tão mais bonita.