A BBC considerou as eleições nigerianas “um grande teste para o atual sistema democrático do país”. E com razão. Quando os mais de 84 milhões de eleitores inscritos expressarem a sua vontade este sábado nas urnas, os nigerianos irão optar entre nada mais, nada menos, do que 73 candidatos e 91 políticos. Embora, na verdade, a disputa tenda a centrar-se em torno do atual presidente, Muhammadu Buhari, e do seu antigo parceiro, Atiku Abubakar, que exerceu a vice-presidência entre 1999 e 2007. Sendo que não se deve ignorar a popularidade de Oby Ezekwesili, ativista do movimento #BringBackOurGirls e rosto da terceira principal força política.

A importância destas eleições está obviamente ligada ao facto de a Nigéria ser o primeiro país produtor de petróleo em África, seguido de Angola, que segundo o relatório da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP) divulgado em Novembro, que produz 1.521 milhões de barris por dia face aos mais de 1.700 milhões da Nigéria.

Existe algum desacordo ou mesmo antagonismo entre Buhari e o parlamento nigeriano, suspeitas de que o processo eleitoral poderá ser alvo de fraudes e receios de violência, para além de uma tensão entre os governantes nigerianos e a União Europeia, o Reino Unido e os EUA, com um governador estadual, Nasir El-Rufai, a ameaçar com a morte de soldados estrangeiros que tentem interferir nos assuntos eleitorais. Uma ameaça que resulta do facto da UE e os dois países mencionados terem criticado a demissão por Muhammadu Buhari de Walter Onnoghen, até aqui a principal figura da justiça nigeriana, a poucos dias da votação.

Um relatório do United States Institute of Peace alertou já para a possibilidade de violência no processo e apelou a que os governantes locais, regionais e nacionais sirvam de mediadores para as previstas disputas e para a aceitação pacífica dos resultados que venham a ser obtidos.

Em suma, é ainda uma incógnita, na altura em que escrevo, como tudo irá decorrer. Mas uma coisa é certa, é muito importante, não apenas para a Nigéria, mas para todo o continente africano – e não só – que os nigerianos consigam prosseguir um caminho democrático tranquilo e seguindo os melhores padrões da comunidade internacional. E que, seja quem for o vencedor destas eleições, o país demonstre a sua maturidade e corresponda ao que dele é esperado.

Recordo Abraham Lincoln, “um boletim de voto tem mais força que um tiro de espingarda”, e também a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie – “existem pessoas que acham que nós não conseguimos governar o nosso próprio país, pois falhámos nas poucas vezes em que o tentámos, como se todos os outros que governam hoje em dia tivessem acertado logo à primeira vez”. Desta vez, está na altura de os nigerianos trocarem o falhanço pelo sucesso.

 

Ainda recentemente tive a oportunidade de, na conferência organizada pelo MEL – Movimento Europa e Liberdade, abordar a maior importância que podem ter os referendos locais para a tomada de decisão com o envolvimento dos cidadãos. Saúdo pois a decisão da Câmara Municipal de Braga, presidida por Ricardo Rio, de lançar um referendo para decidir sobre a venda ou não do seu estádio municipal. Uma iniciativa com sentido e que deverá ser bastante participada.