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O que podem os bancos fazer pela transição climática

Clara Raposo, vice-governadora do Banco de Portugal defendeu, esta quinta-feira, a necessidade de medir adequadamente a forma como as empresas e a sua cadeia de negócio estão expostas aos riscos climáticos.
18 Maio 2023, 18h40

Clara Raposo, vice-governadora do Banco de Portugal, disse, esta quinta-feira, na conferência The Urgency to recognize the Planet is changing, organizada pela Systemic, no Montes Claros – Lisbon Secret Spot, que “obviamente tem de haver financiamento para a transformação profunda que a economia necessita”.

Numa mesa redonda moderada pelo diretor do Jornal Económico, Filipe Alves, Clara Raposo considerou que, obviamente, também, “todos temos” de fazer o nosso trabalho para que “o planeta seja mais sustentável” e permita condições às gerações que vem a seguir à nossa.

“Aquilo que precisa de transformação são os nossos hábitos de consumo, de produtos e de serviços. Quer na forma como consumimos quer na forma como produzimos está o segredo da utilização dos recursos do planeta”, afirmou. Simultaneamente, acrescentou, temos de ter capacidade para desenvolver  soluções de energia que permitam termos qualidade de vida mínima.

A vice-governadora do Banco de Portugal lembrou que as autoridades políticas europeias abraçaram o desafio das alterações climáticas e colocaram no sector financeiro um papel importantíssimo. A estratégia, salientou, é tentar que sejam os bancos, os bancos centrais incluídos, “a controlarem e a exigirem que haja medição por parte das empresas da forma como estão expostas ao risco climático e apresentem a sua pegada de carbono, digamos assim, para que isto possa ser monitorizado, além das outras componentes “S” e “G.” (iniciais de Social e Governance que com Environment perfazem os critérios ESG, Ambiental, Social e Governança).

“Os bancos, salientou, têm um papel importante nesta matéria  – como é que se consegue aferir devidamente aquilo que as empresas estão a fazer e as economias estão a fazer para que os dados que os bancos colhem e analisam e nós próprios analisamos, depois, sejam dados credíveis e estejamos a medir as coisas certas?!” – Questionou, respondendo de imediato: “Tentamos fazer essa medição, mas ainda não o conseguimos fazer de forma perfeita”.

Fazê-lo é fundamental, atirou. “Temos de ter capacidade de fazer uma medição adequada no terreno na forma como as empresas e a sua cadeia de negócio estão expostas a estes riscos”.

Numa intervenção de fundo, minutos antes, Peter Blom, Co-chair of the Sustainable Finance Lab, fundador e antigo CEO do Triodos Bank, tinha defendido que o sistema financeiro tem um papel determinante em todo o processo de transição climática, deixando a ideia de umas finanças diferentes no futuro, com outra perspetiva, a de que têm que contribuir para um mundo mais sustentável.

 

A estratégia do Crédito Agrícola

Filipa Saldanha, Sustainability Director do Crédito Agrícola, que interveio no mesmo fórum, considerou, o atual período de transição climática uma oportunidade a muitos níveis. “Se temos uma carteira de clientes em que 13% é sector agrícola e se temos um sector agrícola que não está adaptado às alterações climáticas, temos que forçar uma relação de proximidade com estes clientes para os ajudar nesta transição”, afirmou.

A estratégia de sustentabilidade do Crédito Agrícola assenta em quatro eixos. Prioridade entre prioridades, é o negócio. “Temos que ter boas linhas de crédito que permitam não só ajudar os nossos clientes a acelerar esta transição para a sustentabilidade e ao mesmo tempo captar novos negócios que sejam efetivamente estratégicos para o país”. Como exemplo deu as farmacêuticas, as greentech, a biotecnologia azul.

Filipa Saldanha salientou a importância de recolher dados de forma granular – “temos de coordenar para começarmos a colher todos o mesmo tipo de dados”. Adiantou que outra prioridade está relacionada com o posicionamento  – qual o papel do sector financeiro na sociedade?

“Concordo”, afirmou a responsável do Crédito Agrícola, referindo-se à intervenção da vice-governadora do Banco de Portugal, que colocou o foco na produção/consumo. Mas, acrescentou, “nós enquanto bancos temos que saber qual é o nosso propósito”. Admitiu que a mudança vai mexer na relação como se relaciona com os clientes e comunica as temáticas.

“Temos que deixar de ser um mero parceiro comercial  para os nossos clientes para ser um parceiro consultivo e mais pedagógico nesta jornada em prol do desenvolvimento sustentável”, concluiu.

 

A perspetiva dos fundos de investimento e do imobiliário

Florence Ricou, CEO da Insula Capital, confessou que  a  sociedade gestora de fundos de investimento compreende a dimensão do que está em causa e vive uma “profunda alteração” interna tanto na parte estratégica como operacional em consequência disso.

“Não há hoje uma decisão que não seja tomada na Insula sem pensar nos impactos positivos ou negativos”, afirmou Florence Ricou. São decisões difíceis sim, admitiu, salientando que, no geral, do sector o “tema é incontornável, neste momento”.

Gilbert Jordan, do André Jordan Group,  defendeu que face aos dados existentes,” todos temos a obrigação moral” de fazer a nossa parte “tenha ou não tenha impacto, seja ou não decisivo”. A mudança só é possível com o envolvimento de toda a sociedade, do mundo inteiro e isso  passa pela educação.

O empresário abordou a importância do “seu” sector, o imobiliário – responsável por 41% das emissões,  das quais 16% são antes até da obra começar. “O problema é que os benefícios da ação só são sentidos daqui a 20 anos (…) 99% da economia não vê os benefícios e a inovação energética, tecnológica tem que ter escala são os custos são incomportáveis”.

 

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