[weglot_switcher]

O que Portugal precisa para não falhar, segundo António Costa Silva

O gestor que o primeiro-ministro convidou para ajudar o Governo a delinear o plano de recuperação diz que Portugal tem instituições sólidas, mas alerta que as políticas públicas têm de ser mais inteligentes e inclusivas.
1 Junho 2020, 08h15

No livro “Why nations fail”, editado em 2012 e com o título português “Porque falham as nações”, os economistas Daron Acemoglu e James A. Robinson, escrevem  que a prosperidade económica advém da existência de instituições inclusivas, ou seja, instituições nas quais muitas pessoas têm um papel na tomada de decisões, e não apenas um grupo pequeno de decisores que as controlam e que estão contra a mudança.

As instituições inclusivas, dizem os dois economistas norte-americanos, promovem a prosperidade porque incentivam as estruturas que permitem que o talento e as ideias criativas sejam recompensadas.

Como é que Portugal se enquadra nesse critério? Segundo António Costa Silva, o gestor escolhido pelo primeiro-ministro para ajudar a desenhar o plano de recuperação da economia, o país cumpre uma condição para não falhar, mas há outras duas nas quais precisa de melhorar.

Num webinar organizado pela Ordem dos Engenheiros, a 18 de maio, sobre o tema “Pandemia Covid-19, impactes globais e mudança de paradigmas”, o ainda presidente executivo da Partex fez referência ao livro de Acemoglu e Robinson para analisar três factores cruciais para o desenvolvimento do país.

“A qualidade das instituições. Em Portugal isso está assegurado”, referiu. “Temos em Portugal instituições de qualidade, se havia alguma dúvida, esta crise mostrou como é que as instituições responderam, o SNS, a DGS, o Governo, o Parlamento, o Presidente, portanto dá uma confiança aos cidadãos ao nível da qualidade das instituições”.

António Costa Silva alerta, no entanto, que nos outros dois fatores de sucesso, Portugal tem de trabalhar muito, “porque até aqui trabalhamos muito pouco” . O segundo fator é a inteligência nas políticas públicas, sobretudo económicas. “Temos de ter políticas económicas nesta fase muito mais inteligentes para termos uma economia muito mais dinâmica, muito mais transformadora e que aproveite os nichos não só no mercado interno europeu, mas também no mercado global”.

“E o terceiro factor de sucesso é a capacidade de construirmos mercados inclusivos, isto é para trazer o maior número de pessoas possível para a atividade económica e a partir daí serem capazes de desenvolver os seus projetos e as suas empresas”, salientou.

Novo modelo laboral

O gestor explicou que houve paradigmas que mudaram com esta crise, por exemplo a questão do teletrabalho. “Vamos ter um novo modelo laboral, que será uma das contribuições positivas desta crise. Se nós tivermos 10%, 20% ou 25% de pessoas que possam estar em teletrabalho e rodar em turnos, isso será muito importante para as cidades, para a qualidade de vida nas cidades, para a questão da poluição, para o controlo do tráfego, para o uso eficiente dos recursos”.

Costa Silva sublinhou que outro ponto muito importante que não nos podemos esquecer é que é que esta crise veio intensificar “a grande luta que já existia anteriormente entre as empresas de índole físicas e as empresas digitais”.

Recordou que a nível de capitalzação bolsista no mundo as empresas digitais já eram as maiores e que esta crise acentuou a seu favor as mudanças na economia. “Quem são os grandes penalizados? São as empresas físicas, a aviação, as indústrias, a manufactura, o turismo, a restauração”, explicou.

“Vamos ter um sistema híbrido que vai evoluir e que combina estas duas vertentes. Mas vai ser muito importante reconhecer a crescente virtualização dos serviços, a crescente influência do comércio online, todas aquelas tendências que existiam anteriormente vão afirmar-se. O asset light model, empresas com ativos físicos muitos ligeiros, vão ter sucesso”, concluiu.

 

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.