O que queremos atingir amanhã?

Existe a necessidade de um investimento mais eficiente, complementar, entre o setor privado e público, que se materialize num crescimento sustentado. E que ao mesmo tempo seja capaz de responder à transição climática e tecnológica no longo prazo.

As previsões para 2023, com uma desaceleração da atividade económica, tensões no mercado de trabalho e a persistência do choque inflacionário, exigem um esforço coletivo para a sua resolução no curto prazo. Não obstante, o planeamento estratégico, num horizonte temporal mais alargado, não deve ser esquecido. Mesmo constrangidos pelas limitações do presente, influenciadas pela ciclicidade das crises e desafios impostos, é necessário um planeamento que supere a circunstancialidade dos problemas políticos e socioeconómicos.

Os efeitos assoladores da pandemia de Covid-19 nas diversas economias em redor do mundo, expuseram problemas estruturais que em muito estavam relacionados com a globalização. A economia portuguesa não foi exceção, registando uma contração do PIB de 7,6% em volume, em 2020, sendo mais acentuada do que a média europeia. Um fator explicativo é a volatilidade inerente a alguns setores de atividade da economia portuguesa. O crescimento do setor do turismo experienciado pelas economias do Sul da Europa nas últimas décadas veio com um preço – uma maior dependência das mesmas a choques da economia mundial.

Uma solução crucial passa por aumentar os instrumentos de financiamento e capitalização de empresas que invistam em áreas que beneficiem de vantagens comparativas em setores menos expostos a tanta volatilidade. Para um crescimento sustentado, os ganhos de setores como o do turismo devem ser acompanhados por uma base económica menos volátil.

Por sua vez, ao estado, em simbiose com o investimento privado, deve competir o investimento em áreas estratégicas para o interesse nacional. No entanto, nas últimas décadas vários investimentos fulcrais foram adiados devido às circunstâncias em que a economia portuguesa se encontrava. Projetos como um segundo aeroporto na área metropolitana de Lisboa, ligações de comboios de alta velocidade e a construção de hospitais em diversas regiões de Portugal representam oportunidades perdidas para um crescimento sustentado de longo prazo e para uma renovação do Estado-providência. Parece haver um desequilíbrio entre as contribuições dos cidadãos para o estado social e a qualidade dos serviços prestados, assim como a sua própria existência em algumas áreas do país.

Outra solução deverá passar por uma melhoraria da qualidade do investimento público, numa alocação mais eficiente, criteriosa e transparente dos recursos. A execução do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) ditará a capacidade de consolidar um crescimento sustentado a médio-longo prazo. Representa uma oportunidade única para uma planificação estrutural da economia portuguesa, assim como a capacidade de fomentar uma transição climática e digital mais eficiente. No entanto, é essencial reduzir a burocratização e carga administrativa neste processo, assim como assegurar a sua integridade e a prevenção dos riscos de corrupção no setor público. Ao mesmo tempo, deve ser assegurada uma modernização das instituições e uma articulação mais aprofundada e complementar entre o investimento público e privado.

Paralelamente, o problema demográfico da sociedade portuguesa não deve ser omitido deste planeamento. Representa não só uma séria ameaça à sustentabilidade do estado social, mas também ao próprio crescimento económico. O envelhecimento populacional, que se faz sentir um pouco por todas as economias desenvolvidas, traz consigo fenómenos que alteram a propensão para poupar e investir. A estagnação secular pode assim alterar a trajetória de crescimento de longo prazo. Deste modo, um conjunto de medidas de incentivo demográfico devem ser adotadas rapidamente na sociedade portuguesa, uma vez que a sua conjetura é dificilmente reversível no curto prazo.

Tendo em consideração estes aspetos, existe a necessidade de um investimento mais eficiente, complementar, entre o setor privado e público, que se materialize num crescimento sustentado. E que ao mesmo tempo seja capaz de responder à transição climática e tecnológica no longo prazo.

O artigo exposto resulta da parceria entre o Jornal Económico e o Nova Economics Club, o grupo de estudantes de Economia da Nova School of Business and Economics.

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