O objetivo deste conjunto de artigos é de dar a conhecer aos leitores o que sabemos, mas também o que não sabemos, sobre finanças sustentáveis. Deixo desde já um aviso à navegação! Vou basear estes artigos em evidência científica e não na minha ideologia política ou económica. Acredito acima de tudo que as decisões dos nossos governantes, do setor público em geral, e do setor privado devem basear-se em dados e factos e que as políticas devem ser avaliadas pelos efeitos que têm na vida das pessoas, das empresas e da sociedade como um todo.

Esta abordagem está muitas vezes ausente em Portugal onde as políticas são elaboradas sem qualquer tipo de avaliação a posteriori, ou muito menos a priori, dos seus impactos e potenciais efeitos adversos. Um exemplo atual é o programa “Mais habitação” recentemente anunciado pelo governo ou ainda outras medidas que foram adotadas no passado – o regime fiscal do residente não habitual, o programa do visto gold ou as sucessivas reformas do mercado de arrendamento e alojamento local. Sempre que possível vou também tentar ilustrar com exemplos da vida real das pessoas e empresas.

As finanças sustentáveis consistem em tomar em conta os fatores ambientais, sociais e de governo das sociedades (os designados fatores ESG – “Environmental, Social and Governance”) na definição das políticas e práticas das organizações, empresas e investidores. Exemplos desses fatores são a mudança climática, a poluição e emissões de gases de efeito de estufa, as condições de trabalho e formação dos trabalhadores, a diversidade de género e social entre os trabalhadores, ou a remuneração dos gestores (um tema sempre na ordem do dia como o recente caso da TAP bem ilustra).

As finanças sustentáveis ganharam protagonismo nos últimos anos com os investidores em todo o mundo (fundos de pensões, fundos de investimento, fundos soberanos, fundações, bancos e seguradoras) a terem em conta fatores ESG nas suas estratégias de investimento (que empresas comprar e vender ou em que empresas intervir para levar os gestores a melhorar as suas práticas de ESG).

A título de exemplo, a Fundação Calouste Gulbenkian em 2019 vendeu todos os interesses que tinha em extração de petróleo e gás que representavam uma parte significativa do seu rendimento e património (mais de 500 milhões de euros). Ou ainda o fundo soberano da Noruega, um dos maiores do mundo, que tem uma longa lista de empresas que estão excluídas dos seus investimentos por desrespeitarem os fatores de ESG, como a Vale SA, uma multinacional brasileira de exploração de minérios, devido à gravidade dos impactos ambientais decorrentes da sua atividade (recorde-se o desastre ambiental do Rio Doce em 2015).

A finalidade última das finanças sustentáveis é contribuir para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável tais como reduzir a pobreza, a fome e as desigualdades, melhorar as condições de vida e do trabalho, melhorar os cuidados de saúde e os níveis de educação e tornar as cidades mais sustentáveis. Uma questão fundamental para as finanças sustentáveis é saber se os investidores que “fazem bem, fazem melhor”, ou seja, se os investidores com preocupações ESG tem melhores rentabilidades financeiras.

Segundo a perspetiva tradicional em finanças, a resposta é não! Os investidores vão exigir menor prémio de risco, e consequentemente terão rentabilidades esperadas mais baixas, nos seus investimentos em empresas com melhores práticas de ESG. Desta forma, estas empresas vão ter acesso a financiamento mais barato, o que do ponto de vista social é desejável para promover o investimento em projetos que contribuam para a sustentabilidade da nossa sociedade. Exemplos desse tipo de projetos seriam o investimento em energias renováveis (que pode ser financiado com recurso a green bonds como tem acontecido no caso da EDP com várias emissões) ou uma empresa construir uma creche para os filhos dos seus trabalhadores (que pode ser financiado com social bonds).

No entanto, pode haver razões para as empresas com modelos de negócio mais sustentáveis proporcionarem melhores rentabilidades financeiras. Uma razão pode ser estas empresas terem no futuro lucros superiores ao que neste momento se espera. Uma outra razão pode ser os investidores preferirem empresas mais bem posicionadas em termos de ESG por razões não puramente financeiras.

Essas razões podem ser uma maior capacidade de atrair e reter talento (tal como os trabalhadores têm acesso a melhores condições de trabalho, mais formação ou ainda orgulho em poder contribuir para um mundo melhor!) ou ainda uma maior capacidade de fidelizar clientes e fornecedores. Infelizmente, a investigação científica ainda não tem respostas definitivas sobre esta questão se os investidores e as empresas que “fazem bem, fazem melhor” e também sobre o impacto real das finanças sustentáveis e a sua contribuição para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Em resumo, temos ainda muito a aprender sobre finanças sustentáveis e espero com o meu trabalho, e estes artigos, poder contribuir para essa aprendizagem!