O dólar americano atingiu o valor mais alto em vinte anos contra o iene japonês. Em duas semanas o Japão desvalorizou a sua moeda em mais de 14% tornando as suas exportações mais competitivas e as importações mais caras. Tendo a maior dívida pública mundial, cerca de 266% em 2020, o Japão tinha conseguido escapar à desconfiança dos investidores e aguentar a desvalorização da sua moeda devido a uma balança comercial positiva e ao facto da maior parte da sua dívida ser detida por investidores japoneses, ou seja nacionais.
Ainda esta semana o Banco do Japão, que já detém mais de 45% da dívida japonesa, reforçou a sua política de compras ilimitadas das obrigações a dez anos mantendo assim as taxas próximas de zero. Ou seja em outras palavras, não se importa com o valor do iene, apenas na manutenção dos custos de financiamento baixo à sua economia.
Por outro lado a política de juros baixos, na última década, por parte da Reserva Federal Americana (FED) e do BCE contribuíram para encobrir os problemas da economia japonesa e manter as poupanças no país.
A alteração nos últimos meses da política monetária da FED, no sentido de subir dos juros de forma mais agressiva, fez regressar o famoso “carry-trade” ou o investimento no diferencial dos juros das diversas moedas. Na prática um investidor pode vender ienes japoneses cujo financiamento é pouco superior a zero, e aplicar em dólares americanos ou em obrigações a dez anos do tesouro americanas que anualmente rende 2,8%, ficando com a diferença.
Mas não é só o iene a desvalorizar. Também o euro atingiu um mínimo de cinco anos contra o dólar americano e aproxima-se de mínimos desde 2003, ou dezanove anos. Quer a economia europeia quer a japonesa apresentam similaridades que demonstram um declínio da sociedade. O inverno demográfico é comum e no caso japonês assiste-se já a um declínio da população, com a incapacidade de renovação da sociedade.
Por outro lado, a subida do custo da energia terá maior impacto nestas duas economias uma vez que o preço do petróleo é fixado em dólares. À medida que o euro e o iene desvalorizam, cada vez serão necessários mais dólares para comprar energia, ou seja estas economias estão a perder competitividade.
A Europa continua à procura de parceiros fiáveis para comprar energia ao invés de se focar em aproveitar os recursos internos e o melhor de cada país e aprofundar as interligações energéticas. Continuar com a dependência externa inclusivamente dos “aliados” é manter a a transferência de riqueza para os países produtores de energia que vão comprando a Europa a metro, incluindo os Estados Unidos que serão um importante fornecedor de gás.
Infelizmente, o regresso dos juros e o aumento da produção de gás e petróleo, irão permitir aos EUA ganharem ainda mais influência e a manterem a hegemonia mundial.