Os alarmes soaram com estrépito entre as figuras do CDS-PP. São tantos os obituários do partido que se avolumam diariamente nos média que Adolfo Mesquita Nunes não teve outra alternativa que não avançar (já tardiamente, a meu ver) para a disputa da liderança do CDS-PP. A eleição de Francisco Rodrigues dos Santos como líder, há cerca de um ano, não tem permitido ao partido sobreviver à nova reconfiguração da direita portuguesa, abalada pela insurgência fulminante do Chega e, em menor medida, da Iniciativa Liberal.

Saúda-se esta tentativa de reverter um curso que leva à extinção. A tarefa é difícil, mas não impossível. Por maiores que sejam as divergências ideológicas perante o projeto político de uma direita ultraconservadora, ninguém pode ver com bons olhos a canibalização do CDS-PP por um partido da extrema-direita como o Chega, que tem absorvido tantos quadros dirigentes sedentos de poder.

Lendo o projeto de intenções de Adolfo Mesquita Nunes publicado no Observador, uma eventual liderança sua faria caminhos por entre o eleitorado tanto de centro-direita como liberal, rejeitando a retórica de xenofobia e autoritarismo plenamente assumida pelo Chega.

E é de facto no centro que a direita se deve posicionar com firmeza, estando esse mesmo centro-direita atualmente órfão. Rui Rio tem ido descaradamente ao encontro de André Ventura e já demonstrou, pelo seu discurso inconsistente e contraditório na noite das presidenciais, não ter capacidade ou visão para compreender o enorme e grave perigo que enfrenta o partido que lidera.

Há quem deseje um PSD com um discurso mais extremista, populista e que aceita coligar-se com propostas inconstitucionais, mas há também quem lute para se manter no campo social-democrata que está na génese do partido. Um PSD refém de André Ventura é a pior notícia que o país poderia receber, mas Rui Rio, na sua arrogância típica de quem se acha mais inteligente do que toda a classe política, caminha alegremente para o abismo.

Marcelo Rebelo de Sousa não deve ser descurado, na medida em que poderá escolher ter um papel mais ativo neste novo mandato para travar a ofensiva anticonstitucional que ameaça as instituições. Se há algo que provam os resultados das eleições de domingo passado é que o discurso antissistema colhe frutos por todo o país e espetro político, não se cingindo apenas à direita. Um bloco central que dominou durante mais de 40 anos a política portuguesa já demonstrou não corresponder mais aos anseios e expetativas de muitos eleitores. E a História já provou que sentimentos como o desencanto, revolta, frustração e sensação de abandono foram sempre terreno fértil para grandes convulsões políticas.

De facto, poucas vezes na história recente a direita portuguesa assistiu a uma convulsão como aquela que atravessa atualmente, convulsão essa que terá apanhado muitos dos seus dirigentes de surpresa, os quais procuram agora reagir contra o tsunami da extrema-direita. Não descuremos a importância deste momento. A forma como a direita portuguesa irá atravessar o Rubicão será crucial para definir a próxima década da política nacional.