O Parlamento aprovou um projeto de resolução que recomenda que Aristides de Sousa Mendes seja homenageado no Panteão Nacional. Esta recomendação – sem de força de lei, pretende homenagear o antigo cônsul português na forma de um túmulo sem corpo, não implicando assim a habitual trasladação para o Panteão Nacional. Desta forma, o seu corpo continuará na terra onde nasceu e viveu.

Aristides de Sousa Mendes nasceu em Cabanas de Viriato, licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra e enveredou pela carreira diplomática, tendo ocupado delegações consulares em Zanzibar, Guiana Britânica, Brasil, Estados Unidos da América, Luxemburgo e Espanha. Em 1938, nas vésperas do início da Segunda Guerra Mundial, foi nomeado cônsul em Bordéus. Mas o governo fizera chegar a todos os diplomatas portugueses na Europa a “Circular 14”, ordenando a suspensão de vistos a certos refugiados e que para tal seria necessário pedir aprovação da Polícia Política.

Espanha negara os vistos aos refugiados judeus e a única esperança residia no consulado português. O nosso cônsul tomou então a mais corajosa e humana das decisões: emitir vistos sem distinção de raça ou religião.

Os números de vistos emitidos chegaram aos 30 mil, dos quais 10 mil a refugiados de confissão judaica. A 20 de junho de 1940, imagino que sem surpresa, recebeu a ordem de vinda a Lisboa, para se justificar das repetidas desobediências. Foi assim demitido da função, despromovido à categoria inferior e condenado a um ano de inatividade. No final desse ano acabou por ser aposentado.

Com o salário penhorado, a perda do direito de exercer a sua profissão de advogado e com a licença de condução emitida no estrangeiro retirada, passou os últimos e difíceis anos de vida com imensas necessidades e morreu pobre num hospital Franciscano em 1954. Acabou sepultado apenas e só com um traje cedido por caridade alheia.

O primeiro reconhecimento veio tarde, quando em 1966 o memorial do Holocausto em Jerusalém, Yad Vashem, lhe atribuiu o título de “Justo Entre as Nações”. Em 1986 recebeu a título póstumo o grau de Oficial da Ordem da Liberdade e à sua família foram apresentadas desculpas públicas, iniciando-se assim a reabilitação da sua memória. E em 2016 foi elevado à Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.

Aristides de Sousa Mendes foi um Senhor Diplomata e um Homem justo e bom que quebrou as regras, salvando vidas de um trágico fim, num dos piores cenários da história.