Há pouco menos de uma década, Portugal viu o mercado dos recondicionados, nomeadamente de telemóveis, ganhar popularidade, criando oportunidade para os utilizadores adquirirem aparelhos mais económicos, como novos. Mas as incertezas pairavam no ar, lançadas sobretudo pela estranheza deste mercado, e por isso foi fundamental trabalhar a confiança dos utilizadores – onde a educação para o tema
se revelou essencial, explicando o que é um aparelho recondicionado e como difere de algo novo ou usado.

Hoje, o cenário é diferente: na Europa, atualmente, cerca de 10% do mercado de smartphones vendidos são recondicionados, o que representa um mercado de 10 mil milhões de euros. As incertezas começam a desvanecer-se e as pessoas já olham com confiança para este tipo de oferta.

Passo a passo, há cada vez mais consumidores interessados em opções mais sustentáveis, com as camadas mais jovens a terem um papel de destaque nesta transição, o que se revela fundamental na mudança de hábitos e de mentalidade. Especialmente hoje em dia, em que vemos a inflação a “apoderar-se” do espaço que, antes, notas e moedas ocupavam na carteira dos portugueses, esta surge como uma opção mais viável e económica para os
consumidores.

A inflação tem criado dificuldades às famílias e à sua vida quotidiana. E reconhecemos que até os produtos mais básicos, que nos acompanham durante todo o dia, já não estão tanto ao alcance dos consumidores como antes. O mesmo se aplica aos produtos produtos tecnológicos, que usamos diariamente: como revela um estudo da Kantar em 2022, nove em cada dez portugueses utiliza o seu smartphone tanto na rotina pessoal como na profissional.

A verdade é que migrámos para o telemóvel grande parte das funcionalidades de que precisamos no nosso quotidiano: fazer chamadas, enviar emails, tirar fotografias, ver séries, mandar vir comida ou mesmo controlar a nossa casa através de um simples toque no ecrã. Temos tudo à mão, seja para trabalhar, para nos entretermos ou para darmos seguimento a outras tarefas.

É possível manter este estilo de vida através dos telemóveis recondicionados, que representam uma poupança de até 40% para as famílias comparativamente a um mesmo modelo comprado novo. Sabemos que a relação preço-qualidade é o fator que continua a pesar mais nas escolhas de consumo dos portugueses e, portanto, os aparelhos que passaram por processos de recondicionamento são, para muitos, uma opção acessível para ter um aparelho em ótimo estado.

A adicionar a todos os benefícios de um smartphone recondicionado, há também o facto de estes permitirem reverter o assustador cenário que temos diante de nós, relativamente à crise climática. Ao permitir comprar um “novo” smartphone a preços mais competitivos, o mercado de recondicionados assume um importante papel na economia circular, tanto porque contribui para reduzir o lixo eletrónico e impacto deste no ambiente, como porque reintroduz dinheiro no mercado.

Garantir que o ciclo de vida de um telemóvel é estendido ao máximo é importante porque há urgência em atenuar a produção destes aparelhos. Cerca de 85% a 95% da pegada de carbono de um telemóvel é gerada na fase de produção dos smartphones, sobretudo devido aos infindáveis litros de água gastos, à extração de materiais preciosos, mas tóxicos, até às emissões de CO2 para a atmosfera.

No entanto, segundo o último relatório de sustentabilidade da Swappie, a pegada de carbono de um smartphone recondicionado é 78% menor do que a de um novo. Além disso, reutilizar um telemóvel irá ajudar a reverter a assombrosa estimativa de que, até 2030, irão existir cerca de 74 milhões de toneladas de lixo eletrónico, a nível global.

“Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo”, dizia Saramago. Por isso, da próxima vez que tiver de escolher entre um telemóvel novo ou recondicionado, talvez consiga perder menos tempo a tomar a decisão.