O novo ministro das Finanças grego, Yanis Varoufakis, já ocupou centenas de páginas da imprensa internacional, perturbando gregos e troianos com a sua aparência pouco convencional para o cargo e com as suas críticas contra o atual status quo europeu.
Varoufakis autoproclama-se um economista acidental e marxista errático, que entrou na política para transformar o seu pensamento crítico em ação política direta, para o bem da Grécia, e para o bem do projeto europeu.
Entre as várias curiosidades divulgadas nos últimos dias pelos meios de comunicação sobre o senhor Varoufakis, há uma que sobressai, pelo cariz contraditório e inesperado que encerra: a sua admiração pela primeira ministra britânica, ultraconservadora, Margaret Thatcher.
Margaret Thatcher, que sempre se posicionou no lado oposto do espectro político do atual governo grego, foi responsável por implementar uma agenda política antirrevolucionária e neoliberal no Reino Unido. A greve dos mineiros britânicos de 1984-85 foi um momento revelador dessa política. Dentro dos planos thatcheristas de cortes de subsídios, Margaret Thatcher lançou na altura uma forte provocação aos operários das minas, anunciando o encerramento de vinte minas de carvão e o despedimento de vinte mil trabalhadores. Em 1984 enfrentou uma onda de graves conflitos sociais, incluindo a longa greve dos mineiros britânicos, que reprimiu com rara dureza.
Na altura, estudante em Inglaterra, o jovem Yanis Varoufakis participou ativamente nas manifestações antigovernamentais contra as políticas conservadoras e antissociais do governo Thatcher, mas estas ações não o impediram de admirar a liderança e carisma de Thatcher.
No seu artigo publicado em 10 de abril de 2013 na website www.lifo.gr, intitulado “Para Margaret Thatcher: de Yanis Varoufakis. Um adeus de um dissidente”, Varoufakis confessa que a admira por duas razões: por ser verdadeira, rejeitando assumir compromissos ou concessões para agradar a uma parte em particular, e por acreditar convictamente naquilo que afirma, baseando a sua visão no estudo profundo das questões e das respetivas envolventes histórico-políticas.
Apesar de não concordar com os ideais e políticas de Margaret Thatcher, Varoufakis admite que esses valores: de sinceridade, força, e dignidade, são características que não encontramos facilmente no perfil dos atuais políticos. Os políticos hoje parecem mais como produtos de marketing ou marionetas de grupos de interesses instalados. Thatcher sempre foi uma estadista de opiniões firmes. A sua atitude, muitas vezes classificada de teimosia, de que não deveria ceder nas suas convicções foi a sua maior força.
Varoufakis entra na política e no governo, não como um homem de compromissos, mas como um sonhador de raiz académica, que ambiciona renegociar o acordo sobre a dívida grega com os parceiros europeus, acabar a crise humanitária do país e tornar a Grécia sustentável de novo. Porém, no atual contexto histórico, onde o próprio projeto europeu, enfraquecido pela crise económica e social dos últimos anos, está em risco de desintegração, com os governos dos vinte oito estados membros em modo de sobrevivência “nacional”, e com as ameaças graves de segurança externas, como é o caso da crise na Ucrânia, o sonho de Varoufakis está em risco de ser isso mesmo, um sonho, com reprodução restrita aos seus livros, ao twitter e ou ao seu blogue pessoal.
Varoufakis é um visionário, um filósofo com convicções e caráter distinto, que acredita convictamente que a política pode e deve ser também um meio para transformar em realidade sonhos e visões aspiracionais. Contudo, o êxito do seu programa dependerá sobretudo da inteligente combinação entre a sua visão e um necessário pragmatismo para focar no que é realmente exequível. E para isso, sim, precisará de grande dose de carisma Thatcheriano: sinceridade, força e dignidade.
Evanthia Balla
Professora universitária