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“O Vale dos Assassinos”

Freya Stark foi uma aventureira improvável, mapeou terras persas e do Médio Oriente. Ficcionou territórios, absorveu culturas, procurou conhecer e compreender o Outro. Aqui fica a sugestão de leitura desta semana da Livraria Palavra de Viajante.
  • Marta Teives
18 Janeiro 2020, 10h15

 

 

Os acontecimentos da semana passada podem levar a interpretações erróneas sobre este livro de Freya Stark (mais corretamente, de Dama Freya Stark), cujo título remete para a Ordem dos Assassinos, adaptação para as línguas ocidentais da ordem ou seita dos Hashashins (ou fumadores de haxixe) – há quem diga que nasceu aqui a palavra “assassino” e que terá sido trazida para a Europa pelos Cruzados.

O livro foi lançado em 1934, depois de uma viagem no Vale de Alamut, nas montanhas Elburz na Pérsia (hoje Irão) onde, no século XI, surgiu esta seita de mercenários, cujo líder espiritual e primeiro Grão-Mestre era Hasan-i-Sabbah, que ficou conhecido como o Velho da Montanha, e cuja fascinante história a aventureira inglesa narra no livro.

Para chegar à fortaleza desta seita, descrita por Marco Polo, Freya Stark viajou a pé, de burro, de camelo. Na ausência de mapas da região, convenceu um guia local a conduzi-la através de montanhas e planícies até encontrar uma fortaleza, ou castelo, coberta de tulipas. Apesar da invasão mongol no século XIII, que arrasou mais de cinquenta das fortalezas da Seita, esta continuou a espalhar o terror na região. Após esta viagem, elaborou o primeiro mapa da região.

Freya Stark nasceu a 31 de janeiro de 1893, em Paris, filha de um pintor britânico e de uma italiana de ascendência germano-polaca. O seu fascínio pelo Oriente nasceu da leitura precoce de “As Mil e Uma Noites”. Aprendeu árabe e persa e, durante a Primeira Guerra Mundial, estudou História na Escola de Estudos Orientais e Africanos, da Universidade de Londres e, aos 34 anos, embarcou para Beirute.

Foi uma mulher de enorme coragem, decidida a explorar zonas remotas do mundo islâmico entre salteadores armados e tribos hospitaleiras, dervishes e adoradores de ídolos, locais onde poucos europeus – e, em particular, europeias – já tinham estado. Procurava compreender os costumes dos povos que encontrava e integrar-se nas comunidades locais, para além de observar e registar com grande atenção a natureza – então ainda selvagem – que a rodeava.

Os cerca de vinte livros que escreveu são, por isso, extremamente pessoais, incluindo preciosas descrições da história e cultura locais, assim como de aspetos da vida quotidiana. É considerada, com toda a justiça, uma das maiores autoras de literatura de viagem de sempre. Em 1953, recebeu a Cruz do Império, sendo nomeada Dama do Império Britânico em 1972. Obteve vários prémios literários e, aos 81 anos, escalou algumas encostas dos Himalaias. Faleceu em Itália, em maio de 1993, poucos meses depois de ter feito 100 anos.

“O Vale dos Assassinos” é editado pela Relógio d’Água e faz parte da sua coleção de viagens.

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