O primeiro-ministro mostrou-se esta semana muito crispado na Assembleia da República, com os ataques vindos da oposição política da esquerda à direita, por causa da Comissão Parlamentar de Inquérito à TAP (CPI), mas também por causa de acontecimentos relacionados com a intervenção dos Serviços de Segurança (SIS) e a ligação ao caso que envolve o atual ministro das Finanças, Fernando Medina, com suspeitas de ter intervindo em causa de outro e em matérias que vão desde impostos municipais à manipulação de listas eleitorais.

A tudo isto António Costa responde com o vírus do populismo, que estará a atacar os partidos da direita à esquerda, quando, na realidade, deveria estar mais preocupado com o vírus da corrupção que assola este Governo e que acaba por corroer lentamente por dentro, mas que corrói de forma acelerada a saúde das nossas instituições.

O primeiro-ministro não pode ignorar o que se está a passar, mas está preso num colete de sete varas, porque uma coisa é as trapalhadas do ministro João Galamba, outra, muito mais grave, é o caso relatado pela TVI e CNN, que envolve o atual ministro das Finanças e de quem o Presidente da República já disse depender o Governo. Ou seja, caso Medina venha mesmo a ser envolvido no escândalo, o Governo cairá.

Claro que o primeiro-ministro António Costa joga em várias frentes, além de estar cansado das ameaças do Presidente da República, sendo que este não tem a certeza de que eleições antecipadas consigam fazer o país entrar num cenário de estabilidade e, sobretudo, de ética governativa.

Em cenário futurista, o atual partido do Governo pode voltar a ganhar com maioria absoluta, e então como ficaria o Presidente da República? Sem credibilidade para criticar o que quer que fosse.

Ora, o Presidente está longe de estar convencido que o eleitorado queira fazer uma mudança. Lembremos que este Governo deu, habilmente, subsídios e aumentou pensões para aqueles que constituem a maioria do eleitorado e que são os mais velhos e os mais necessitados. A subsidiodependência está instalada e o eleitorado adora.

Quem quer mudar é o PSD. O discurso e as críticas do ex-presidente e ex-primeiro-ministro Cavaco Silva foram certeiras. Possivelmente, foi um dos discursos mais incisivos na sua longa carreira política. Valeu-lhe duras críticas dos dirigentes do PS, mesmo sabendo que os Presidentes Mário Soares e Jorge Sampaio fizeram algo semelhante e com muito mais profundidade do que fez Cavaco.

Luís Montenegro, o líder do PSD, teria cavalgado bem o convite que fez a Cavaco para uma iniciativa partidária, não fosse a frase “Agora é a nossa vez!”, que usou logo de seguida e que foi imediatamente interpretada como uma ânsia de poder, quando ainda temos mais três anos de legislatura.

Por outro lado, o caso que envolve o PSD Lisboa no processo “Tutti Frutti” deve levar o partido, e Montenegro em particular, a distanciar-se rapidamente desses acontecimentos, expulsando os militantes envolvidos através do conselho de jurisdição ou, caso contrário, o PSD e Montenegro sairão também irremediavelmente prejudicados com o caso da edilidade de Lisboa.

Não há uma segunda oportunidade para Montenegro se mostrar sério. Isto porque a comunicação social vai continuar a envolvê-lo no tema da casa de Espinho. Este é, pois, um momento chave para Luís Montenegro: ou levanta voo ou cai.