Um destes dias, fomos surpreendidos por uma nova e injustiçada sofreguidão de dinheiros públicos, com a publicação em Diário da República do anúncio da demolição de um prédio no centro da cidade de Viana do Castelo, o denominado ‘Prédio Coutinho’.

Num processo que se arrasta há mais de 20 anos, quando José Sócrates, no seu habitual modo despesista, decidiu gastar como se fossemos um país rico, e segundo as contas feitas pelo programa ‘Sexta às Nove’, da RTP, foram desembolsados mais de 35 milhões de euros de dinheiros públicos num prédio com mais de cem apartamentos com licença de utilização que ainda se mantém em pé, apesar dos sucessivos processos de intenções de demolições.

Neste momento particularmente complexo, repleto de dificuldades e de incertezas nunca vividas neste último século no país e no mundo, e num desesperado cenário de sobrevivência por parte das famílias e de todos os comerciantes, serão oportunos os custos de demolição, que poderão rondar os dois milhões de euros, e de construção de mais um mercado municipal, que Viana do Castelo já tem, com um custo de 9,5 milhões, para demolir um património que se estima valer à data de hoje quase 25 milhões de euros?

Chegados até aqui e com a falência de um programa lançado pelo antigo ministro do Ambiente, que só com este prédio gastou até aqui 35 milhões, será razoável, no atual momento e a correr até as autárquicas, destruir 25 milhões de património, mais 2 milhões para demolir e 9,5 milhões para construir um mercado? Tudo somado já foram gastos 35 milhões e querem agora gastar mais 36,5 milhões, totalizando quase 72 milhões mais impostos.

Será oportuno investir mais 36,5 milhões no abandono do atual e na construção de um quarto mercado em quarenta anos? Sem esquecer que ainda está bem viva na memória dos vianenses a esclarecedora reportagem do programa da RTP atrás citada, que veio tornar públicos os gastos absurdos envolvidos nesta intenção, que ultrapassam já, sem as novas intervenções, os 36 milhões de euros!

Recorde-se que quando foi prevista a instalação de um mercado no local do edifício, pensava-se que esta obra traria a melhoria das condições para a sustentabilidade do comércio tradicional nas imediações, com um projeto que previa a construção de quatro pisos (um para o mercado, um para serviços e dois para habitação). Era essa a visão estratégica do século passado.

Mas, na verdade, passaram-se 30 anos, o Programa Polis socialista apresenta os custos de demolição, a destruição de um património que tanta falta faz para quem não tem habitação e mora nas ruas ou para 100 jovens casais serem aí instalados com preços bonificados em vez de gastar mais 36 milhões por um Estado e Câmara Socialista que sem dinheiro só se endivida. É que não há dinheiro, só endividamento para tanta teimosia pública que já dura há mais de duas décadas.

E se for para um mercado, a zona de comércio, a cave e a zona do jardim contíguo, seria suficiente para o feirão das freguesias, e o último piso poderia servir para restaurantes panorâmicos, com uma vista única, e isso sim cumpria a missão de trazer mais pessoas ao centro e definitivamente “estruturante” para a cidade e “uma peça fundamental” na reativação do seu Centro Histórico.

Não pode ser só por um capricho que se poderá revelar um custo insustentável para o Estado e Município, e por isso, seria essencial conhecer, apresentar e tornar públicos os estudos atuais e se existem, a sustentabilidade económica e comercial do novo espaço, o estudo que demonstre o impacto no tecido económico enquanto intervenção, esta sim, “estruturante” para fundamentar a necessária reativação e revitalização económica dos centros histórico das cidades

Perante tantas e tantas dezenas de milhões, que serão suportados por endividamento e zero por fundos europeus, urge repensar e apresentar uma explicação, que comprove a sustentabilidade deste investimento, aparentemente lesivo para as contas do país, pois poderão ser mais de 70 milhões de euros em cambalhotas em apenas 950 m2 de terreno. Isto sim, é obra. E não é bem feita.