Não gosto de despedidas. Em qualquer caso não vejo este texto como um ‘adeus’, mas sim como um ‘obrigado’. Antes de rumar a outro desafio quero agradecer-vos por me terem aturado semana após semana, cedendo tempo para ler as ideias que partilhei nesta coluna.

Tenho a certeza que muitas vezes atirei ao lado na análise e, especialmente, nas previsões, mas espero que concordem que tentei sempre ser justo e pertinente na abordagem à atualidade, sem deixar de temperá-la com humor q.b..

Antes que isto se torne lamechas, vamos falar de coisas importantes. Estes cerca de cinco anos de Jornal Económico foram ricos em tópicos para analisar, uma dádiva para quem tem de preencher espaço em branco com 3.800 caracteres todas as semanas.

Mantendo o motif do cinco, e consciente da subjetividade, invoco cinco grandes temas que considero particularmente significativos a nível global, e que, indiretamente, afetaram Portugal.

Esta coluna conseguiu, sem qualquer mérito próprio, passar por três presidências americanas. A primeira crónica foi sobre o legado de Obama, muitas foram dedicadas ao inenarrável mandato de Trump, e outras mais recentes à vitória de Biden.

Através do prisma americano podemos ainda identificar dois outros temas que dominaram o último quinquénio. O populismo, o nacionalismo e a polarização interna visíveis nos EUA tiveram espelho na Europa, sendo o Brexit apenas um dos principais exemplos numa lista que inclui tendências perigosas em vários países (e à qual Portugal, infelizmente, não escapa).

A polarização não aumentou só internamente, mas também na geopolítica mundial, o que nos conduz ao terceiro tema dominante, a China. Uma potência em crescimento tanto no campo económico como militar, que ninguém pode ignorar, mas com a qual, na verdade, ninguém parece saber lidar.

O quarto tema também marca a agenda bipolar americana, mas não podia ser mais global: o duro combate para travar as alterações climáticas.

A mudança de atitudes neste campo foi uma das tendências mais impressionantes dos últimos anos, abrangendo comportamentos individuais, industriais, políticos e financeiros. É uma corrida contra o tempo e contra os danos, mas na qual estamos claramente a acelerar, finalmente.

Por último, o tema que apareceu de repente para afetar todos os outros. A pandemia de Covid-19 é uma inimiga que ainda está para ser derrotada, mas não deve faltar muito. Talvez não derrotada, mas pelo menos dominada, tal como a espécie humana fez com tudo o resto à sua volta. Vai acelerar processos que estavam em marcha, como as transições digitais e energéticas? Sem dúvida. As economias vão recuperar? Claro.

No entanto, há transições que estão a ser provocadas pela pandemia que não são de aceleração mas de verdadeira disrupção. Pela primeira vez em décadas, os humanos não sabem bem como lidar uns com os outros. O distanciamento, o teletrabalho, a telescola, as máscaras, a própria vacinação em massa, vão ter consequências que são impossíveis de antever para já.

Na ausência de uma bola de cristal, arrisco dizer que irá ficar tudo bem, até porque temos todos de fazer por isso.

Obrigado aos leitores e à maravilhosa equipa do Jornal Económico. Foi um prazer!