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Olivier Blanchard defende solução para malparado com dinheiros públicos

O antigo economista chefe do FMI Oliver Blanchard defendeu hoje que Portugal deve avançar para uma solução para o crédito malparado dos bancos, mesmo que essa medida implique a utilização de dinheiros públicos e um aumento do endividamento do Estado.
19 Maio 2017, 11h15

Numa conferência em Lisboa, o francês que liderou o departamento de estudos do FMI durante a crise financeira apresentou um estudo que fez sobre o estado atual da economia portuguesa, em conjunto com o economista Pedro Portugal.

Blanchard sustenta que um dos maiores obstáculos à recuperação económica do país é o elevado volume de crédito malparado, em parte porque os empréstimos não foram para as empresas certas. “Devia ir para novas firmas”, sustentou.

Se o problema do malparado fosse resolvido, a intermediação financeira aumentaria, a procura subiria a curto prazo e a oferta seguiria o mesmo caminho no médio prazo.

Mesmo que tivesse de ser o Estado a suportar esta medida de recapitalização dos bancos, com um aumento da dívida pública, o economista sustentou que os benefícios em termos de crescimento seriam superiores à subida do endividamento.

E como a subida da dívida seria marginal face ao já elevado racio de dívida sobre o PIB, Blanchard antecipa que essa medida não levará a um aumento dos juros a que Portugal se financia nos mercados, desde que os investidores percebam os benefícios desta solução.

Alguma expansão orçamental para aumentar o investimento é também aceitável para o economista, mas com “um grande se”: as verbas teriam de ser alocadas a projetos que aumentassem a capacidade de crescimento, e não gastas em projetos pouco produtivos, como no passado.

De resto, o economista rejeita uma consolidação orçamental mais forte do que a atual. “A aritmética da consolidação é muito pouco atrativa quando a dívida é alta”, explicou.

Um por cento de redução do défice implica uma redução de igual proporção no crescimento, mas a dívida reduziria apenas 0,5 por cento. “Seria bom reduzir a dívida de 130 para 60% do PIB, mas isso não vai acontecer no tempo de vida da maioria de nós”.

Outras medidas defendidas no estudo são reformas nos mercados de produtos e uma maior “microflexibilidade” no mercado de trabalho, com simplificação da legislação, que facilitasse a alocação de recursos e a criação de emprego.

“Portugal tem um sistema dual em que umas pessoas estão muito protegidas e outras estão muito pouco protegidas”, afirmou.

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