Passado um mês após o início da guerra na Ucrânia encontramo-nos sem um fim à vista. Ambas as partes anunciam publicamente a sua convicção na vitória. Os resultados de sondagens feitas na Rússia e na Ucrânia confirmam essa perceção (independentemente da sua validade). Isso significa que a probabilidade de o processo negocial em curso ser bem-sucedido é, no momento em que este texto foi escrito, tremendamente reduzida.

A retórica exterior ao teatro de operações, sobretudo no Ocidente, tem dado ânimo aos ucranianos para prosseguirem a campanha militar porque a vitória, apesar dos escolhos, será, segundo eles, seguramente certa. Por isso se entende que os apelos ao compromisso tenham sido escassos, como foi o caso do anúncio feito por Varsóvia, de que iria propor na Cimeira extraordinária da NATO a criação de uma força de manutenção da paz para atuar na Ucrânia.

Por enquanto, ambas as partes apostam na vitória (pelo menos publicamente) e, consequentemente, na derrota do oponente, o que parece estar longe de acontecer. Tal significa que nos encontramos distantes de uma solução política, que só ocorrerá quando uma das partes claudicar militarmente, ou quando se torne insustentável a ambas prosseguirem os combates. Apenas no segundo caso haverá lugar a um compromisso. No primeiro, o vencedor determinará os termos da vitória.

A parte ucraniana tem feito afirmações, nem sempre coerentes. Umas vezes fala com voz grossa como se estivesse na “mó de cima”, noutras ocasiões admite ceder a algumas das reivindicações russas, em particular às mais importantes, dando a sensação de estar empenhada numa solução política. Simultaneamente, suplica pela implementação de uma “No Fly Zone”, e pela intervenção da NATO ao seu lado, reconhecendo implicitamente que não tem capacidade para vencer militarmente o conflito sem a ajuda externa. A narrativa ucraniana inclui frequentemente aspetos contraditórios. Por um lado, vitória militar, por outro, cedência. Coexistem dois discursos inconciliáveis.

Para o Kremlin, esta guerra é existencial, e, como tal, não pode ser perdida. As consequências geoestratégicas seriam insustentáveis. O significado da Ucrânia para a Rússia não é comparável ao do Afeganistão para os EUA. Este “detalhe” parece não estar a ser tido em consideração no cálculo estratégico das potências ocidentais. Quem no Ocidente alimenta o sonho de que a Rússia vai recuar, não conhece a Rússia. Mas Zelenski tinha a obrigação de a conhecer, e não submeter o seu povo a esta provação. Talvez a sua impreparação política o tenha impedido de ver que é um “peão de brega” de interesses geoestratégicos que o transcendem.

Posto isto, parece restarem duas soluções à Ucrânia: ou ceder para preservar a sua soberania e integridade territorial, agora afetada pelas operações militares, evitando a partição do país; ou continuar os combates acreditando que vai vencer a guerra, e capitular em condições muito desfavoráveis. Isto significaria a partição da Ucrânia, transformando-a num estado decepado dos territórios a Leste de Kiev e do rio Dnieper, sem acesso ao mar, despojado das regiões economicamente mais ricas do país. Neste cenário, a Rússia ganharia a buffer zone securitária que procura, evitando o contacto territorial com a NATO.

Resta saber quanto tempo levará Zelenski a compreender a exequibilidade das opções que tem em cima da mesa. Quanto mais tempo demorar, mais difícil será explicar aos seus cidadãos porque é que lhes prometia um futuro radiante e uma vitória, quando começava a ser discernível que as alternativas lhe eram desfavoráveis, não tendo por isso negociado em tempo a solução que poderia garantir um futuro independente ao país.