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Operação Míriade: Ministro mantém que fez o que “deveria ter feito” ao não informar PM e PR em 2020

Em resposta, o ministro da Defesa citou o estadista britânico Winston Churchill – “podia acompanhar a sua avaliação, mas nesse caso estaríamos ambos errados” – e salientou que, quando recebeu as primeiras denúncias sobre eventuais ilícitos criminais perpetrados por militares portugueses, não se justificava “de todo” informar “superiormente de desconfianças” dada a “configuração” do caso na altura.
  • Cristina Bernardo
19 Novembro 2021, 19h21

O ministro da Defesa defendeu hoje que fez “exatamente” o que “deveria ter feito” ao não informar o primeiro-ministro e o Presidente da República sobre a Operação Miríade, sustentando que seria “profundamente insensato” transmitir “cada matéria” a instâncias superiores.

Em audição na Comissão de Defesa Nacional, João Gomes Cravinho ouviu críticas dos deputados sociais-democratas Nuno Carvalho e Ana Miguel dos Santos, que consideraram que o ministro fez uma “avaliação errada”, do deputado do CDS Telmo Correia, que o acusou de ter “desvalorizado” o caso e de não ter sido “competente”, e do deputado do PAN Nelson Silva, que defendeu que o ministro deveria ter dado “muito mais relevância assunto”.

Em resposta, o ministro da Defesa citou o estadista britânico Winston Churchill – “podia acompanhar a sua avaliação, mas nesse caso estaríamos ambos errados” – e salientou que, quando recebeu as primeiras denúncias sobre eventuais ilícitos criminais perpetrados por militares portugueses, não se justificava “de todo” informar “superiormente de desconfianças” dada a “configuração” do caso na altura.

“Teria de ser um visionário para, a partir daquele momento, perceber aquilo que veio a público em novembro de 2021. Há inúmeros assuntos que o senhor almirante CEMGFA corretamente não traz à minha consideração, de igual modo há inúmeros assuntos que ele traz à minha consideração que eu não levo à consideração superior”, indicou.

O ministro da Defesa retomou assim uma estatística avançada pelo deputado socialista Ascenso Simões – que alegou que, em 2020, foram reportados 313 casos à Polícia Judiciária Militar – para referir que isso responde quase a um caso “por dia útil”, e referiu que, “diariamente”, é necessário fazer um “exercício de avaliação” sobre o que reportar.

“Ora, é impossível, seria profundamente insensato, reportar constantemente cada matéria deste tipo que passasse do meu conhecimento para conhecimento superior”, salientou.

Gomes Cravinho destacou que a instituição militar comporta 26 mil elementos – “a esmagadora maioria dos quais sem qualquer tipo de infração disciplinar, muito menos criminal” -, tratando-se de uma “instituição complexa, com múltiplas decisões de toda a sorte”.

“A grande maioria dessas decisões são tomadas em escalões abaixo do meu nível de conhecimento, ou nalguns casos a nível dos chefes [dos ramos militares]que partilham comigo as suas ideias e as suas opiniões, e, em alguns poucos casos, eu transmito essas matérias ao primeiro-ministro e ao Presidente da República”, frisou.

O ministro da Defesa salientou assim que, em 2020, fez um “exercício de avaliação” e, tendo em conta os “elementos conhecidos” na altura, mantém que a sua “avaliação foi correta”.

“Admito que não faça unanimidade nessa matéria, mas mantenho que foi exatamente aquilo que eu deveria ter feito. Assumo essa responsabilidade e todos aqueles que queiram estudar, ler, pensar sobre o assunto, que cheguem às suas próprias conclusões, mas a minha conclusão é que tive exatamente o comportamento que deveria ter tido nos inícios de 2020”, indicou.

O ministro da Defesa falava no âmbito de uma audição na Comissão de Defesa Nacional, onde também participou o Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas e o Chefe do Estado-Maior do Exército, sobre as sobre as suspeitas de tráfico de droga, ouro e diamantes envolvendo militares e ex-militares na República Centro-Africana.

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