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Operadores do sector do turismo só esperam recuperação plena em 2024 e pedem manutenção de apoios

Organizações representativas de diversos do sectores do turismo consideram que ainda vai ser necessário apoiar as empresas, até que tenham capacidade de disputar o mercado, porque so preveem uma recuperação económica plena em 2021, dependendo, mesmo assim, da evolução da pandemia de Covid-19 e dos processos de vacinação.
  • Operadores do turismo reunidos no VII congresso Vê Portugal
26 Maio 2021, 21h40

Organizações do sector do turismo manifestaram hoje um otimismo moderado na retoma das atividades no período pós-pandemia, mas alertaram para a necessidade de o Estado manter os apoios às empresas cuja recuperação estimam demorar até 2024.

“Não há recuperação rápida”, assegurou hoje o vice-presidente da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), Frederico Costa, considerando que se o sector da hotelaria “conseguisse atingir, em 2021, 40 a 50% dos resultados que conseguiu em 2019 já seria um resultado fantástico”.

Porém, na sua perspetiva, a realidade é que o setor “está muito longe da recuperação” e “nunca chegará aos níveis de 2019 antes de 2024”.

A posição foi expressa nas Caldas da Rainha, no distrito de Leiria, durante o VII Fórum de Turismo Interno “Vê Portugal”, num painel em que responsáveis por organizações representativas da restauração, agências de viagens, animação turística e aluguer de automóveis secundaram a ideia de que, para muitas empresas do setor, “o pior ainda está para vir”.

“Haveremos de ter uma retoma lenta, mas haverá um hiato de tempo em que muita gente vai sofrer”, afirmou o vice-presidente da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), Carlos Moura, aludindo à queda das receitas turísticas internacionais, que diminuíram de 18,4 mil milhões de euros em 2019 para 7,7 mil milhões em 2020, ou à perda, de 101 mil postos de trabalho nas áreas do alojamento turísticos e da restauração, quando comparados os dados do primeiro trimestre deste ano com o período homólogo do ano passado.

Um panorama que afeta igualmente o setor dos automóveis de aluguer, que “teve em 2020 o pior ano de sempre”, de acordo o secretário-geral da ARAC – Associação dos Industriais de Aluguer de Automóveis sem Condutor, Joaquim Robalo Almeida.

Os dados da associação apontam para uma queda de 64% na faturação, entre os anos de 2019 e 2020, bem como, durante o mesmo período, de uma descida de 29% na frota média e de 48% nos contratos celebrados.

Num ano “dramático para este que foi um dos setores do turismo mais afetados”, as empresas de aluguer de viaturas conseguiram, ainda assim “manter a maioria dos postos de trabalho”.

Já o mesmo não pode dizer a Associação Portuguesa de Empresas de Congressos, Animação Turística e Eventos (APECATE), cujo presidente, António Marques Vidal, lembra que a paragem a que a pandemia de covid-19 obrigou levou as empresas a dispensarem “muitos profissionais”, debatendo-se agora com a “falta de pessoal especializado” para poderem retomar a atividade.

Com a retoma do setor turístico a perspetivar-se “lenta” e a “ritmos diferentes para cada subsetor”, os empresários alertaram hoje para a necessidade de “serem mantidos apoios pelo menos até ao final do ano”, tanto mais que “os custos sociais [da pandemia de covid-19] vão chegar em forma de falência de empresas e de desemprego”, afirmou o presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), Pedro Costa Ferreira.

Os responsáveis das organizações setoriais, na qualidade de oradores num painel sobre “comercialização e venda”, sublinharam a necessidade de o país apostar no turismo doméstico e de proximidade para alavancar a recuperação das empresas e alertaram para que, “se não houver retoma do turismo, não haverá recuperação da economia”, dada a importância do setor no Produto Interno Bruto (PIB) do país.

 

Regiões de Turismo defendem descentralização

O VII Fórum de Turismo Interno “Vê Portugal”, decorreu ao longo desta quarta-feira, 26 de maio, no Centro Cultural e de Congressos (CCC) das Caldas da Rainha.

Organizado pelo Turismo do Centro, o fórum contou com mais de 600 pessoas inscritas e a participação de palestrantes nacionais e internacionais que debateram questões relacionadas com o turismo interno, num evento que decorreu num formato híbrido, com oradores presentes e outros em sistema remoto.

A sessão de abertura contou com a presença da secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, além de Fernando Tinta Ferreira, presidente da Câmara Municipal das Caldas da Rainha, e Pedro Machado, presidente da Turismo Centro de Portugal.

Fernando Tinta Ferreira destacou que “ser hospitaleiro está na génese das Caldas da Rainha desde que foi fundado o Hospital Termal” e que o concelho “tem crescido de forma sustentável”.

Pedro Machado apresentou o programa do “Vê Portugal” e defendeu, na sua intervenção, a importância do “mercado interno alargado”, a necessidade de “reconquistar mercados internacionais” nesta fase de recuperação e os fatores decisivos que são a “perceção de segurança por parte dos visitantes” e a “estruturação de novos produtos turísticos”. “Portugal está cá, apto para receber os visitantes, em segurança, 365 dias por ano”, concluiu.

Rita Marques sublinhou que a notoriedade que a marca Portugal conquistou, nos últimos anos, se mantém, e lembrou que todos os ativos que contribuíram para esse crescimento “não saíram beliscados da pandemia. Continuam cá para os visitantes”.

“Estamos a virar a página, depois de dias difíceis. Com a entrada de Portugal na ‘lista verde’ do Reino Unido, estamos em vantagem relativamente a destinos concorrentes”, disse.

O primeiro painel do fórum discutiu o regime jurídico da organização e funcionamento das entidades regionais de turismo, com o presidente do Turismo do Algarve, João Fernandes, a lembrar que a Lei 33/2013 tinha um propósito que “não corresponde ao que se passa na realidade”, uma vez que uma “série de constrangimentos”, orçamentais e de tutela, “inviabilizam que a lei se concretize na sua plenitude”. “Ainda assim”, afirmou, “podemos concluir que este modelo descentralizador produz resultados”.

Vítor Silva, do Turismo do Alentejo e Ribatejo, destacou o facto de que “sempre vivemos entre o poder central, que quer ser tentacular, e o poder regional, que conhece melhor o território”. “Esta tensão sempre existiu e sempre vai existir”, disse. “As regiões de turismo fazem um trabalho extraordinário e conseguem impor as suas necessidades ao poder central”, acrescentou.

Vítor Costa, do Turismo da Região de Lisboa, foi particularmente crítico para com os constrangimentos atuais com que se debatem as entidades regionais, nomeadamente a circunstância de não poderem usar todo o saldo orçamental disponível e as cativações. “Todos nós temos saldo no banco que não podemos utilizar. O aspeto da autonomia financeira tem de ser revisto”, apelou, antes de considerar que “é essencial que continue a haver regionalização no turismo, num país marcado pela sua diversidade”.

Luís Pedro Martins, do Turismo do Porto e Norte de Portugal, resumiu a questão: “O problema está identificado. Havendo vontade, não será difícil alterar a Lei ou fazer uma Lei nova, desde que o país entenda que a autonomia ao nível do Turismo deve continuar, como nós entendemos”. “Durante mutos anos, o país era conhecido como destino de sol e praia. Não era possível dar o salto porque não eram apresentados ao mundo outros produtos”, disse.

Pedro Machado, presidente do Turismo do Centro de Portugal, frisou, por sua vez, que “o edifício do turismo está bem construído, mas não está a funcionar devidamente”. “Na sua matriz, as entidades de turismo são o único organismo descentralizado e alcançou resultados. Portugal é a soma das partes, mas a nossa autonomia de execução está hoje limitada por uma tripla tutela. Hoje, pensar-se num processo de fusão nos organismos do Estado é centralizar, ao invés de descentralizar”, acrescentou.

Machado foi ainda muito crítico da possibilidade de as competências regionais a nível do turismo passarem para a alçada das CCDR: “As CCDR têm revelado dificuldades em executar os programas. Falta planeamento às CCDR”, disse. “Isso seria colocar um garrote na atividade turística”, concluiu.

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